O projeto, a desenvolver durante um ano, surge na sequência do programa de digitalização do cinema português em curso pela Cinemateca, com a preocupação de promover “a disseminação” desse património, não só através do apoio a “iniciativas locais de programação”, em colaboração com associações e cineclubes, mas também com “uma reflexão sobre as estratégias e desafios de programar cinema de património” pelo país, sem esquecer “o passado, presente e futuro das redes nacionais de exibição em sala”.
A primeira etapa das “Imagens em Movimento” tem início na quinta-feira, 2 de novembro, no Cine-Teatro Curvo Semedo, em Montemor-o-Novo, com um programa a decorrer até dia 11, dedicado ao sonoplasta Alexandre Gonçalves, natural de Évora, que a Cinemateca define como “uma das figuras incontornáveis do Cinema Novo português”.
Nascido em 1927, Alexandre Gonçalves trabalhou o som de mais de 40 filmes de realizadores como Fernando Lopes, José Fonseca e Costa, António Campos e João César Monteiro.
“A sua vida e obra serão celebradas com a exibição de novas cópias digitais de cinco filmes em que foi responsável pela conceção e direção do som, incluindo ‘As Pedras e o Tempo'”, primeira obra de Fernando Lopes, “obra precursora do Cinema Novo português”, indica a Cinemateca.
O programa, feito em colaboração com o Cineclube e a Filmoteca Municipal de Montemor-o-Novo, passará também por uma exposição com peças do acervo da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema e do Cine-Teatro, que permitem fazer “uma breve introdução à história do som no cinema português”.
Inclui ainda uma oficina sobre a natureza e a evolução do som no cinema, com orientação do engenheiro de som Franco Bosco, técnico de preservação da Cinemateca. A oficina terá sessões destinadas ao público escolar, numa colaboração do Plano Nacional de Cinema com o Agrupamento de Escolas de Montemor-o-Novo.
Para as próximas etapas, a Cinemateca conta já com a Associação Ao Norte, de Viana do Castelo, os cineclubes da Maia, de Pombal, Avanca, Abrantes (Espalha Fitas), Torres Novas, Mértola e Faro, assim como com a Associação Provisória — Saboia, de Odemira, estando ainda a decorrer “o mapeamento das entidades” com quem o projeto será posto em prática.
A Cinemateca recorda que a digitalização permite que filmes em película possam ser projetados nos sistemas atuais, e cria oportunidades de divulgação “numa dimensão até agora impossível”.
O projeto está a ser desenvolvido com o Instituto do Cinema e do Audiovisual, e “será também progressivamente incrementada a articulação com a Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses”, escreve a Cinemateca.
“Pretende-se que este projeto crie raízes sólidas para uma relação continuada” com agentes locais, escreve a Cinemateca, “aprofundar conhecimento sobre a história do cinema português, reaproximá-la do território e dos públicos […] e estimular a sustentabilidade de uma rede de divulgação deste património coletivo.” Em outubro de 2024, será feito o balanço.
A Cinemateca tem em curso a digitalização do património cinematográfico à sua guarda, num projeto a desenvolver até 2026, que envolve 43 mil minutos de obras cinematográficas e prevê um investimento de cerca de nove milhões de euros, com participação do Plano de Recuperação e Resiliência.
Está também a desenvolver o projeto FILMar, com financiamento de 880 mil euros, através Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu (EEA Grants).
Iniciado em 2020, com o objetivo de digitalizar e preservar 10 mil minutos de filmes portugueses relacionados com o mar, o FILMar deverá estar concluído até final de abril de 2024.
Comentários