O Casal Perfeito (Netflix) é uma minissérie de seis episódios realizada pela dinamarquesa Susanne Bier (conhecida por O Gerente de Noite e In a Better World, Melhor Filme Estrangeiro nos Óscares em 2011). Adaptada a partir do bestseller de Elin Hilderbrand, conta com um elenco recheado de caras conhecidas, a começar pela de Nicole Kidman, que interpreta Greer Garrison Winbury, uma escritora estupidamente rica e poderosa, que controla cada passo de cada membro da família. Eve Hewson (que volta a provar merecer reconhecimento por mérito próprio, e não apenas por ser filha de um pai famoso), Dakota Fanning e Liev Schreiber completam o elenco (é engraçado ver como o Ray Donovan é descontraído e limita-se a fumar substâncias psicotrópicas pouco licitas e a curtir a vida).

A trama é um clássico mistério com crime: um luxuoso casamento está prestes a acontecer, mas a descoberta de um cadáver na praia transforma a celebração em caos. Segredos obscuros vêm à tona, e a atmosfera festiva dá lugar à suspeita. A narrativa combina depois suspense com pitada de sátira social, explorando as tensões e os segredos por trás da fachada da perfeição exibida em público pela classe alta.

Porque vale a pena ver / quem deve ver: O Casal Perfeito tem nuances de muitas outras séries recentes, incluindo algumas das quais protagonizadas pela própria Kidman. É pensar em Big Little Lies, The Undoing (que por acaso Bier também realizou) ou Expats, mas sem o negrume dramático. No entanto, e apesar de até começar bem, parece apressar demasiado as coisas nos últimos episódios e isso faz com tenhamos ficado com o sentimento de que podia ser melhor do que é, especialmente por todo o talento envolvido. Ainda assim, para quem gosta ou procura algo deste género para ver, é um visionamento que se recomenda.

Rebel Ridge (filme, Netflix) é um thriller que explora os temas da corrupção e moralidade. Realizado por Jeremy Saulnier (Green Room, Hold the Dark), o filme segue Terry Richmond (Aaron Pierre), um ex-fuzileiro que chega à pequena cidade de Shelby Springs (que na realidade não existe, mas que é para os lados de Nova Orleães) com a missão de pagar a fiança do primo, que se encontra detido. No entanto, quando Terry dá por ele, está envolvido numa teia conspiração que afeta toda a comunidade.

Porque vale a pena ver / quem deve ver: Saulnier define Rebel Ridge como uma homenagem aos filmes de ação dos anos 80 e 90, em que as palavras e os diálogos têm um peso tão grande quanto as cenas de ação. E, a julgar pelas criticas positivas (do público e profissionais), parece tê-lo conseguido. A The Wrap resume-o da melhor forma: Rebel Ridge lembra-nos que podemos apreciar entretenimento sem ter de “desligar o cérebro”. Há ação, mas também há conteúdo.

Slow Horses (Apple TV+) segue um grupo de agentes da inteligência britânica relegados para um departamento obscuro do MI5 (basicamente o fundo do poço para quem cometeu erros catastróficos na carreira). Liderados pelo intragável (e brilhante) Jackson Lamb (Gary Oldman), estes agentes navegam pelo mundo sombrio da espionagem, defendendo a Inglaterra de forças sinistras com uma dose (bem) generosa daquele típico humor britânico. A quarta temporada está atualmente em curso, com os dois primeiros episódios já disponíveis e com novos a sair todas as quartas-feiras.

Porque vale a pena ver / quem deve ver: O The Guardian elogia a performance de Oldman, que “ruge como um urso”, e a realização impecável da série, que regressa com elenco ainda mais impressionante do que já tinha. Para quem aprecia uma história de espionagem inteligente e com boas interpretações, recomenda-se. Muito pelas reviravoltas inesperadas (que não são forçadas), mas sobretudo porque o espectador tem um lugar na primeira fila para ver a evolução de Jackson Lamb, que se aventura muito além da sua cadeira imunda e do seu uísque barato que vemos nos primeiros episódios. Slow Horses é daqueles casos que fica melhor a cada hora e não desilude. Especialmente a partir do momento em que tira Gary Oldman da secretária.

Pachinko (Apple TV+) acompanha a saga de uma família coreana ao longo de várias gerações, desde o início do século XX até os dias de hoje. Com uma narrativa épica e um tom intimista, a história começa com um amor proibido e transforma-se numa jornada arrebatadora entre a Coreia, o Japão e os Estados Unidos, explorando temas como guerra e paz, amor e perda, triunfo e redenção. A crítica elogiou bastante a primeira temporada, quem viu também, mas como é de um serviço de streaming que por cá não goza da mesma popularidade de outros, acaba por passar ao lado de muitas pessoas. E provavelmente não devia.

Porque vale a pena ver / quem deve ver: A segunda temporada, que estreou no final de agosto, continua a explorar as tragédias e triunfos da anterior. A fotografia continua a ser do melhor que se vê atualmente em televisão e o guião segue imaculado. É como nota a Collider na crítica aos novos episódios: as conversas são incrivelmente bem escritas e interpretadas e a história é tão bem contada que é regalo tanto nos momentos delicados como nos mais devastadores. E é por isso, por causa desse equilíbrio, que a série é mais do que uma série. É uma viagem. Uma que não é para todos, uma vez que demora o seu tempo e não é para quem gosta de um estilo mais leve ou sente falta dos cliffhangers a puxar o binge estilo Netflix. No entanto, é quase garantido que vai recompensar aqueles que decidirem abraçar a jornada de mente aberta e estão simplesmente à procura de uma boa história.

Wise Guy: David Chase and The Sopranos, o novo documentário de Alex Gibney (Um Taxi para a Escuridão, Roubamos Segredos: A História da WikiLeaks) para a HBO mergulha na vida e obra de David Chase, o criador de Os Sopranos. O forte do filme está na forma como entrelaça a biografia de Chase com os bastidores da série e como argumenta que as duas histórias são indissociáveis. Como escreveu a Rolling Stone, este documentário de duas partes é ao mesmo tempo uma celebração da icónica série e uma fascinante psicanálise do homem que a concebeu.

Porque vale a pena ver / quem deve ver: Para os fãs, é aquela recomendação obrigatória e a desculpa perfeita para voltar ao divã da Dr. Melfi. Porque mesmo que alguns detalhes possam soar familiares a quem já conhece a vida de Tony Soprano, a maneira inteligente e dinâmica como o documentário é feito cativa tanto os mais nostálgicos como quem não conhece nada, uma vez que explica bem a importância da série na história da televisão. Ou seja, mesmo para quem não tem interesse na série ou na vida do seu criador, faz um trabalho muito bom ao mostrar que há um “antes” e um “depois” de Os Sopranos. Outra coisa boa do documentário é ver como Gibney, através de entrevistas e imagens de arquivo raras, teve a capacidade de fazer uma ligação visual excelente entre o paralelismo da vida de Chase e os eventos da série, mostrando-nos como as experiências pessoais do criador moldaram bastante as suas personagens e histórias.