Há sensivelmente pouco mais de um ano, durante seis semanas, Johnny Depp e Amber Heard tomaram conta da Internet. O ex-casal envolveu-se num truculento processo civil em tribunal que virou interesse mundial depois de Depp acusar Heard de difamação devido a um artigo de opinião publicado no The Washington Post. Nesse artigo, a atriz nunca fez qualquer referência direta ao ator de "Piratas das Caraíbas", mas Depp considerou que o ensaio manchava a sua reputação e quis 50 milhões de dólares de indemnização. Numa contra-acusação, Heard exigiu 100 milhões de dólares, sob a alegação de ter sofrido "violência física e abusos desenfreados" durante o período que estiveram juntos.
O processo judicial foi transmitido de forma integral e em direto no Court TV e no canal Law & Crime do YouTube, o que levou a um escrutínio quase sem paralelo do ex-casal à medida que os pormenores do seu casamento (e divórcio) eram tornados públicos. Durante mês e meio, de 11 de abril a 1 de junho, os media foram acompanhando o caso a par e passo e as redes sociais foram sendo inundadas de vídeos e clips do processo civil, que foram partilhados a uma velocidade alucinante (e muitos retirados de contexto).
Durante este processo de difamação foram chamadas mais de 40 testemunhas e o que não faltam são citações, momentos e intervenções que ficam para a posteridade. O processo era claramente sério e sobre a vida real de duas pessoas reais. Contudo, o mundo estava a viver tudo como se uma série ou reality show se tratasse — e não se poupou na hora de fazer juízos, criar memes e a escolher lados. E como acontece em qualquer série, há sempre favoritos (todos do lado de Depp, pois do lado de Heard era tudo ridicularizado).
A psicóloga clínica forense Dr. Shannon Curry (a dos muffins) e Alejandro Romero (o porteiro do prédio da Penthouse onde Depp e Heard viveram três anos, que fez o seu testemunho no interior de um carro a fumar cigarros eletrónicos), a julgar pelos comentários dos internautas nas redes sociais, não devem nada em termos de popularidade aos nomes de Hollywood que foram chamados a intervir a favor de Depp (Jason Mamoa ou Kate Moss). Ainda assim, nada que se compare ao fascínio nutrido por Camille Vasquez, a advogada que defendeu com unhas e dentes o seu cliente e que conquistou uma onda de popularidade que certamente a colocou no mapa das estrelas no que às firmas de advocacia concerne.
Mas apresentadas as provas e feitos os testemunhos, era tempo de analisar a roupa suja lavada em plena praça pública. E, no fim, Johnny Depp saiu por cima, depois de sete jurados terem decidido a seu favor por unanimidade no tribunal de Fairfax, no estado norte-americano da Virgínia. O júri deliberou e o veredicto ditou que Amber Heard tinha de pagar 15 milhões de dólares ao ex-marido por difamação. (Podem ler o resumo do julgamento aqui.)
Agora, volvido pouco mais de um ano, a Netflix volta a carregar no tema com “Depp vs. Heard”, série documental de três partes (não confundir com outros dois documentários que estão na HBO Max em Portugal — esses são outros). Realizada por Emma Cooper (nomeada para os BAFTA por “O Mistério de Marilyn Monroe: Gravações Inéditas” e para os Emmy por “No Greater Law”), a série examina o processo civil que dominou Hollywood e as suas repercussões online.
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Nos créditos finais, tal como já sido feito no último episódio do nosso podcast, falámos de algumas sugestões de quem nos ouve. Mais concretamente, foi-nos sugerido que víssemos "Hijack" (Apple TV+) — e assim fizemos!
No fim, ainda houve tempo para umas recomendações de fim de semana: o Volume 3 de "Untold", "Quarterback" e "Painkiller" (tudo na Netflix) e "Bama Rush" (HBO Max).
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