O projeto Paião, de homenagem ao músico e compositor que morreu em 1988, aos 30 anos, surgiu “no âmbito do festival da Canção, a convite da RTP e do Nuno Galopim”, recordou o músico João Pedro Coimbra, em declarações à Lusa, um dos responsáveis pelo projeto.

À medida que João Pedro Coimbra e Nuno Figueiredo, o outro responsável por “Paião”, o álbum, foram escolhendo o alinhamento das músicas, que foram apresentadas nas duas semifinais do concurso, em fevereiro, em Lisboa, chegaram à conclusão de que “alguns temas teriam que ficar de fora”.

Foi nessa altura que começaram a pensar “fazer um disco à volta dessas canções, porque são tão ricas”.

Depois, “foi trabalhar durante um ano até encontrar a forma certa para fazer as canções surgirem como novos ambientes e novas roupagens”.

O resultado é “Paião”, um disco composto por dez temas, onde se tenta “mostrar um bocadinho a diversidade da obra do Carlos Paião”.

“Toda a gente conhece o ‘Play-back’ [tema que representou Portugal no Festival Eurovisão da Canção em 1981], o ‘Pó de Arroz’, o ‘Vinho do Porto’, mas se calhar nem toda a gente conhece o ‘Zero a Zero’ ou o ‘Não há duas sem três’. E, de certa forma, foi também tentar mostrar esse lado menos conhecido do Carlos”, referiu João Pedro Coimbra.

Esse “lado menos conhecido”, foi igualmente “uma surpresa” para os envolvidos no projeto. “Quando começámos a trabalhar os temas, a perceber o seu esqueleto, a forma como eram compostos, a questão ‘tímbrica’, a questão dos arranjos, foi também uma aprendizagem para nós e uma revelação. E tal como isso aconteceu para nós, queríamos que as pessoas sentissem um bocadinho isso”, afirmou o músico.

Em “Paião”, as canções são interpretadas por dois cantores e uma cantora: Jorge Benvinda (Virgem Suta), Marlon (Os Azeitonas) e VIA.

“A escolha passou sempre por cantores que tivessem uma personalidade forte e que essa personalidade pudesse servir as canções do Carlos Paião”, justificou João Pedro Coimbra.

Jorge Benvinda foi “uma das escolhas que foi logo óbvia, até porque os Virgem Suta têm também uma relação com o cancioneiro do Carlos Paião”. “E o registo de voz do Jorge é incrível a servir as canções dele”, acrescentou João Pedro Coimbra.

Já Marlon “apareceu como alguém capaz de dar aquele lado mais brincalhão que o Carlos tinha em algumas das suas composições”.

VIA foi a “aposta numa pessoa que é uma compositora e cantora de uma nova geração, que não viveu em direto, como nós vivemos, as canções do Carlos, elas foram-lhe passadas pelos pais”, mas “é alguém que também gosta muito do Carlos”. “E, de facto, a voz dela é fantástica nas composições”, referiu o músico.

Em Carlos Paião, João Pedro Coimbra destaca “duas coisas que o tornam um autor-compositor incrível, que é o facto de ele escrever muito bem e fazer muito boas canções”.

“Isto não é fácil. Não é fácil fazer canções de que as pessoas gostem, canções de três minutos, é uma arte muito difícil de conseguir e de fazer bem, com algum conteúdo”.

Carlos Paião, aos olhos do músico, “era alguém que queria fazer canções pop, chegar às pessoas, isso dava-lhe prazer”. “Mas também lhe dava prazer mostrar algo que fosse relevante e que tivesse qualidade. Conseguir ser popular, mas com qualidade não é para todos e ele tinha isso”, sublinhou.

O álbum “Paião” será apresentado ao vivo em Lisboa e no Porto, em fevereiro, em datas e locais a anunciar.

Carlos Paião venceu o Festival da Canção do Illiabum Clube, em 1978, ano em que já tinha escrito mais de duzentas canções. Em 1983, licenciou-se em Medicina pela Universidade de Lisboa, mas decidiu-se pela carreira musical. No ano anterior, tinha editado o seu primeiro álbum, “Algarismos”.

Ao longo da carreira, colaborou com o humorista Herman José e escreveu para músicos como Amália Rodrigues, Lenita Gentil, Mísia, José Alberto Reis, Alexandra e Vasco Rafael, entre outros.