Assinado pelo cineasta Joe Piscatella, “Joshua: Teenager vs. Superpower” é o novo documentário sobre o jovem ativista de Hong Kong, que no final de janeiro conquistou o prémio do público no Sundance Film Festival na competição dedicada ao World Cinema Documentary.
“A reação [do público norte-americano] foi muito, muito boa. (…) Tivemos conversas muito interessantes nas sessões”, disse à agência Lusa o também ativista de Hong Kong Derek Lam, que acompanhou Joe Piscatella e Joshua Wong ao Sundance Film Festival, nos Estados Unidos.
O documentário, que acompanha o ativismo de Joshua Wong, aborda direta ou indiretamente vários acontecimentos relacionados com a cidade chinesa, incluindo a repressão estudantil na Praça de Tiananmen, a 04 de junho de 1989, em Pequim, e a transição de Hong Kong da soberania britânica para a China, a 1 de julho de 1997, explicou Derek Lam.
A antiga colónia britânica regressou à China em 1997 e é governada sob o princípio ‘Um país, dois sistemas’, que protege liberdades e garante a independência do sistema judicial através da Lei Básica, vigente até 2047.
“Este filme é uma muito boa introdução sobre a situação política em Hong Kong”, para aqueles que se interessam pela “história ou em saber por que é que é uma cidade tão diferente de outras na China”, disse.
“O ponto principal” é que o público ocidental “vai ficar a saber mais sobre a situação política em Hong Kong”, disse Derek Lam, afirmando que “talvez o mais importante” é que o filme inspira as pessoas a lutar pela defesa dos ideais em que acreditam.
Milhares de pessoas têm-se manifestado nos Estados Unidos em protesto contra a eleição, tomada de posse, e medidas de Donald Trump desde que é Presidente.
“Muitas vezes nas sessões de perguntas e respostas [após a exibição do filme] falavam do Presidente [Donald] Trump e perguntavam-nos o que podiam fazer. Talvez este filme lhes dê alguma inspiração: se queres mesmo mudar a tua situação, é altura de te afirmares”, disse.
Além da distinção no Sundance Film Festival, o documentário “Joshua: Teenager vs. Superpower” foi selecionado pela Netflix, serviço norte-americano de televisão pela Internet.
Já a exibição em Hong Kong é vista como “difícil” por Derek Lam.
“As salas de cinema têm uma autocensura muito grande. É quase impossível”, disse.
No ano passado, o filme “Ten Years”, sobre a próxima década em Hong Kong sob a influência chinesa — eleito “melhor filme” nos Hong Kong Film Awards –, foi um sucesso de bilheteira até ter sido retirado das salas de cinemas da antiga colónia britânica pelo que vários observadores apontaram como razões políticas.
Nascido em 1996, Joshua Wong era um aluno do secundário quando, aos 14 anos, fundou o grupo estudantil Scholarism, que liderou a luta contra a disciplina de Educação Nacional que o Governo de Hong Kong pretendia introduzir nas escolas em 2012.
Joshua Wong continuou os protestos de rua, ficando internacionalmente conhecido como o rosto das manifestações pró-democracia e em prol do sufrágio universal para a eleição do chefe do executivo que paralisaram várias zonas de Hong Kong durante 79 dias em 2014.
Esses protestos conhecidos por “Umbrella Movement” [Movimento dos Guarda-Chuvas] acabaram, no entanto, por ser desmobilizados pelas autoridades, sem qualquer concessão por parte do Governo, mantendo-se o ‘status quo’ na escolha do líder da cidade por um colégio eleitoral de apenas 1.200 membros, a maioria ligados a interesses pró-Pequim.
Em 2016, Joshua Wong cofundou o partido político Demosisto, que defende a realização de um referendo sobre a “autodeterminação” e o futuro estatuto de Hong Kong após 2047.
Em setembro, o Demosisto elegeu Nathan Law, de 23 anos, como o mais novo deputado de Hong Kong. Na altura, com apenas 19 anos, Joshua Wong não se candidatou por não ter a idade mínima exigida de 21 anos.
O agora estudante universitário de 20 anos continua também a participar em fóruns e palestras, tendo sido notícia quando foi impedido de entrar na Malásia e Tailândia, e já este ano atacado em Taiwan, juntamente com outros ativistas e deputados, por manifestantes pró-Pequim.
“Não ganhámos a última batalha”, disse, afirmando, no entanto, que continua “otimista em ganhar a guerra”, disse à AFP Joshua Wong.
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