O Mosteiro de Arouca acolhe de sexta-feira a domingo mais uma edição da recriação histórica que, recuperando hábitos do século XIX, dá a conhecer a vida das freiras que aí habitavam e, este ano, também episódios das invasões francesas.

Organizado pela Câmara Municipal de Arouca, no distrito de Aveiro, o evento envolve 270 figurantes e atores amadores, assim como cerca de 30 associações locais.

“É uma experiência única, que nos permite recuar ao tempo em que as monjas habitavam o Mosteiro de Santa Maria de Arouca. É uma viagem aos tempos áureos deste espaço monástico, regido pela ordem de Cister, e permite-nos perceber o quotidiano para lá da porta que o separava do terreiro circundante, bem como a vida que fervilhava no burgo que cresceu à sua volta”, declarou à Lusa a presidente da autarquia, Margarida Belém.

Representando um investimento global na ordem dos 100.000 euros, a recriação “Arouca – História de um Mosteiro” desenrola-se em vários espaços interiores e exteriores do imóvel que desde 1910 está classificado como monumento nacional.

O programa da iniciativa integra desde um mercado oitocentista até à leitura do auto de aclamação da Rainha Dona Maria II, passando por procissões com a abadessa, ceias preparadas por criadas, preparação de mezinhas na botica, visitas aos presos, bandas em despique, acolhimento de seculares contra a sua vontade, lavagem da roupa em barrelas e burlas por vendedores de banha da cobra.

Um dos pontos altos da edição deste ano é a componente relativa às invasões napoleónicas, em que se inclui um episódio recriando “a ameaça de saque às riquezas guardadas no Mosteiro”, o que obriga à fuga das monjas.

“A tentativa de assalto a Arouca e ao Mosteiro aconteceu em 1809, tendo alguns soldados franceses chegado aos limites do concelho. A missão de proteger Arouca contra a entrada das tropas invasoras foi confiada ao capitão português Luís Paulino de Oliveira Pinto de França, que é agora evocado no evento”, revelou Margarida Belém.

Sobre o quotidiano da vida monástica também há uma nova encenação, abordando o ritual de benzimento de uma noviça, “momento bonito e importante da vida de uma religiosa, já que é nessa altura que ela passa efetivamente a monja”.

Igualmente novidade em 2023 são os episódios relativos à “extinção dos foros, celebrada com euforia pelo povo e pelos lavradores ricos, que assim deixavam de pagar impostos à comunidade religiosa”.

A presidente da Câmara realça ainda as cenas relativas à tonsura, que, embora já conhecidas de outras edições do evento, têm particular impacto por replicarem “o rito de entrega a Deus e à vida em clausura”, em concreto o corte dos cabelos das raparigas que ingressavam na vida monástica e, com esse gesto, demonstravam a sua “renúncia às vaidades do mundo”.