O anúncio do vencedor foi feito ao final da tarde de hoje numa cerimónia no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, pelo Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa.

“Trata-se de um livro que, ao investigar o silêncio, nos devolve um trabalho por verso com a escrita, aberto às diferentes vozes, num conjunto que de desdobra e se refaz no corpo de cada poema”, considerou o júri – constituído por Ana Paula Tavares (Angola), Flora Sussekind, Julián Fuks, Heitor Ferraz Mello (Brasil), Helena Buescu, Maria João Cantinho e Pedro Mexia (Portugal) - sobre “Câmera Lenta”.

Na mesma cerimónia foram também anunciados os vencedores dos segundo, terceiro e quarto lugares do prémio, atribuído anualmente desde 2002.

O prémio do segundo lugar, no valor de 60 mil reais (cerca de 14,3 mil euros), cujo vencedor foi anunciado pela ministra da Cultura portuguesa, Graça Fonseca, foi atribuído ao escritor português Bruno Vieira Amaral, com a obra “Hoje estarás comigo no paraíso”.

Para o júri, “trata-se de um livro que persegue uma outra dimensão da escrita”, recorrendo o escritor a “vastos recursos de investigação, de leitura de jornais, cartas, fotografias, para reconstruir e fixar os quadros sociais de uma memória perdida na vida e recuperada na literatura”.

Com o terceiro lugar, prémio no valor de 40 mil reais (cerca de 9,58 mil euros), cujo vencedor foi anunciado pelo presidente do Itaú Cultural, Eduardo Saron, foi distinguido o poeta português Luís Quintais, com a obra “A noite imóvel”.

O júri considerou tratar-se de “um livro de poemas, que dramatiza a perceção da ruína e a destruição do mundo, mas em que, ao mesmo tempo, viceja aquilo que nos abre para um novo horizonte ético e poético”.

O prémio do quarto lugar, anunciado pelo curador brasileiro Manuel da Costa Pinto, no valor de 30 mil reais (cerca de 7,2 mil euros), foi atribuído ao poeta moçambicano Luís Carlos Patraquim, com a obra “Ó deus restante”.

Para os jurados, “cada poema deste livro representa um recurso de sobrevivência ao caos e a proposta de uma nova cosmologia”.

A ministra da Cultura portuguesa, Graça Fonseca, salientou que o Prémio Oceanos “tem-se destacado como um dos mais importantes instrumentos para a consolidação e promoção da língua portuguesa, numa parceria entre entidades públicas e privadas”.

Para a governante, “este prémio representa um diálogo fundamental entre as culturas de expressão portuguesa”, tendo saudado a iniciativa, “não só pelo seu significado enquanto incentivo à escrita, mas principalmente pelo seu contributo para dar a conhecer todas as literaturas em português”.

Criado no Brasil em 2002, este ano foi a primeira vez que a reunião do júri final e o anúncio do vencedor do Prémio Oceanos decorreu em Portugal.

A esta edição concorreram 1.364 obras, de 406 editoras. Os 60 semifinalistas foram escolhidos por 76 jurados, de vários países de língua oficial portuguesa. “Cada livro foi lido por três jurados de nacionalidades diferentes”, explicou a jornalista portuguesa Isabel Lucas, uma das curadoras do prémio este ano.

À fase final chegaram 10 escritores. Além dos vencedores, foram também finalistas: Milton Hatoum (“A noite da espera), Sérgio Sant’Anna (“Anjo noturno”), Ricardo Aleixo (“Antiboi”), H.G. Cancela (“As pessoas do drama), João Silvério Trevisan (“Pai, pai”) e Mbate Pedro (Vácuos).

O Prémio Oceanos foi estabelecido em parceria com o Itaú Cultural, no Brasil, em 2015, depois da extinção do Prémio Portugal Telecom de Literatura, com o objetivo de distinguir anualmente as melhores obras publicadas em língua portuguesa.

Os escritores, professores e investigadores Ana Paula Tavares (Angola), Daniel Munduruku, Flora Sussekind, Heitor Ferraz e Julián Fuks (Brasil), Helena Buesco, Maria João Cantinho e Pedro Mexia (Portugal) compõem os elementos do júri final e intermediário (de seleção dos dez finalistas) da edição deste ano do prémio.

Desde o ano passado, o Oceanos deixou de premiar apenas os títulos publicados no Brasil, para abrir as candidaturas à edição livreira nos diferentes países, desde que em língua portuguesa, de modo "a promover o intercâmbio editorial e o conhecimento recíproco entre as diferentes expressões culturais e literárias" da lusofonia.

Em 2017, a escritora portuguesa Ana Teresa Pereira venceu o Prémio Oceanos com o romance "Karen", sucedendo a José Luís Peixoto, que o conquistou em 2016, com "Galveias".

O patrocínio do prémio é garantido pelo grupo Itaú, pelo Fundo de Fomento Cultural, do Governo português, e pela CPFL Energia.

[Notícia atualizada às 22h05 - Inclui informação adicional sobre as obras premiadas e sobre o Prémio Oceanos]