A instalação de arte contemporânea, apelidada de "Ecos do Mar", é da autoria da artista plástica portuense Cristina Rodrigues, que disse ter sido desafiada pela embaixada portuguesa no Japão a preparar esta obra na qual conta com a colaboração das tradicionais rendilheiras de Vila do Conde.
"Trata-se de uma peça tridimensional, com a forma de um coração, que terá uma altura de 3,5 metros, composta rendas de bilros, tingidas de vermelho para representar o sangue dos laços familiares, e outros materiais têxteis, e que será suspensa por fitas de cetim", explicou à Lusa Cristina Rodrigues.
As dezenas de rendas de bilros que estão a dar corpo a esta escultura, que será a peça central da exposição, foram todas doadas por rendilheiras de Vila do Conde, que, segundo a autora, "aceitaram com entusiasmo" o desafio de participarem no projeto.
"A Câmara Municipal de Vila do Conde e a sua presidente abraçaram o projeto assim que foi apresentado. Fizemos, depois, uma reunião com as rendilheiras e todas perceberam ideia e mostraram-se entusiasmadas e recetivas", partilhou.
Segundo Cristina Rodrigues, a condição colocada pela autarquia para esta parceira foi que a obra, antes de rumar para o Japão, fosse apresentada fisicamente em Vila do Conde, algo que deverá acontecer no mês de abril.
"Esta obra terá o condão de ultrapassar fronteiras e projetar, ainda mais, a nível internacional, as rendas de bilros e o nome de Vila do Conde", considerou a presidente da autarquia, Elisa Ferraz.
Depois de poder ser vista nesta cidade do distrito do Porto, a escultura será exposta na Hillside Forum, uma galeria de arte de Tóquio, a partir de 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões, e das Comunidades Portuguesas.
Cristina Rodrigues explicou que há dois anos, numa viagem que fez ao Japão, recebeu o convite, da embaixada portuguesa no país, para expor os seus trabalhos na Hillside Fórum, tendo, durante esse período, pensado numa narrativa para criar uma peça que tivesse uma ligação aos dois países.
"Como há uma barreira na língua achei que tinha de pegar num tema que fosse mais emocional e que fosse comum à cultura de ambos os povos", partilhou a artista plástica.
Cristina Rodrigues encontrou, então, uma ligação entre os estes delicados bordados feitos em Vila do Conde e o artesanato similar japonês, e, sobretudo, a forte de ligação que ambos os países têm com o mar.
"As rendas de bilros de Vila do Conde estão muito ligadas às mulheres dos pescadores, que as faziam enquanto esperavam, com sofrimento, que os maridos regressarem a terra. Também no Japão há imensas vilas piscatórias, certamente com histórias semelhantes, o que cria um contexto transversal e narrativas similares", explicou a autora.
Apesar de ser natural do Porto, Cristina Rodrigues, de 38 anos, garantiu conhecer bem Vila do Conde, que visita regularmente desde criança, desenvolvendo desde então um fascínio pelas rendas de bilros.
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