Os dois humoristas tinham já encontro marcado para os dias 22 e 23 de novembro, também às 21:00, no Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa.
Em declarações à agência Lusa, Ricardo Araújo Pereira disse que este encontro “surgiu porque o Gregorio não para quieto”.
“Foi ele que disse que vinha a Portugal e sugeriu que fizéssemos isto. Já nos tínhamos encontrado para coisas parecidas no Brasil. A gente junta-se e, basicamente, fala sobre fonética, semântica e, por vezes, etimologia. Sem que ninguém perceba porquê, há pessoas que se aglomeram para assistir. Agora vai ser deste lado do oceano. Tudo culpa dele”, acrescentou o humorista português.
O espetáculo, segundo Araújo Pereira, não terá propriamente um guião, mas também não resultará da espontaneidade.
“Não existe propriamente um guião, mas devo dizer que sou contra espontaneidade. Acho que é muito sobrevalorizada. Sobretudo quando é associada à honestidade. Considera-se que só é honesto o que é espontâneo, ou seja, se a ponderação e o pensamento estão envolvidos, acaba-se a honestidade — o que me parece absurdo. Outra ideia bizarra, mas também muito popular é a de que a espontaneidade é despretensiosa”, acrescentou.
Para o português, “basear um espetáculo destes no método de dizer a primeira coisa que nos vem à cabeça parece bastante pretensioso, uma vez que supõe que tudo o que vem à cabeça é interessantíssimo”.
Araújo Pereira ressalvou que “isso não se verifica [consigo], infelizmente”.
“Não me refiro a teatro de improviso, como é óbvio, porque isso é um exercício específico com características que estão determinadas à partida”, esclareceu Araújo Pereira, sublinhando: “Outra coisa muito diferente seria o Gregorio e eu sentarmo-nos a dizer coisas ‘espontâneas’. Em princípio, seria desastroso”.
Questionado pelo facto de apesar da língua comum, haver conceitos diferentes entre portugueses e brasileiros, Ricardo Araújo Pereira disse que daí “talvez até seja mais fácil” fazer este espetáculo em Portugal do que no Brasil. “Nós estamos bastante familiarizados com o sotaque, o vocabulário e a sintaxe do português do Brasil. Parece-me que o contrário não é igualmente verdadeiro”, justificou.
“O humor é a melhor forma de obter uma pequena (mesmo muito pequena) vingança sobre o mundo, que é olhar para ele como se ele não fosse tão áspero, tão grande, tão pesado. Em suma, como se ele não fosse real. A realidade deixa de ser o mundo e passa a ser o nosso olhar. Essa é uma operação simultaneamente extraordinária e insignificante. E produz um efeito igualmente contraditório, porque é tão essencial como fugaz: a gargalhada”, disse Araújo Pereira.
Questionado sobre se através do humor se consegue demonstrar que “o rei vai nu”, Araújo Pereira respondeu: “Acho que sim, mas há vários modos de demonstrar que ‘o rei vai nu’. Não é isso que diferencia o humor de outros tipos de discurso, que até podem ser mais credíveis ou persuasivos. O que é verdadeiramente distintivo é tratar-se de um jogo que gera riso”.
O brasileiro Duvivier e o português Araújo Pereira escrevem, semanalmente, no jornal brasileiro Folha de São Paulo e ambos fazem um programa de humor político.
Gregorio Duvivier criou, juntamente com amigos, o coletivo “Porta dos Fundos”, considerado “o maior canal de humor do Brasil” – recorda a produção -, inspirado no coletivo “Gato Fedorento”, que Ricardo Araújo Pereira criou com os amigos José Diogo Quintela, Miguel Góis e Tiago Dores.
Duvivier e Araújo Pereira atuaram juntos duas vezes, em 2017, encontros registados na rede social Youtube, que “ultrapassaram um milhão de visualizações”.
Para além das três datas em Lisboa, os dois artistas vão atuar, em 29 e 30 de novembro, no Teatro Sá da Bandeira, no Porto.
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