Numa visita guiada para a agência Lusa, o curador da mostra já exibida na Casa de Serralves, no Porto, entre outubro de 2016 e junho deste ano, lembrou que naquele museu não foram apresentadas sete obras por falta de espaço.
Intitulada “Joan Miró: Materialidade e Metamorfose”, a mostra recebeu em Serralves um total de 240.048 visitantes, segundo fontes da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) e da Fundação de Serralves, que organizaram conjuntamente a viagem da coleção até Lisboa.
"Devido a limitações de espaço só apresentámos 78 peças em Serralves, e na Ajuda mostramos a totalidade da coleção, porque tem mais espaço para respirar, o que é muito importante", referiu Messeri sobre o conjunto criado pelo artista catalão proveniente do antigo Banco Português de Negócios (BPN).
O especialista mundial na obra de Miró disse à Lusa que "foi possível criar paredes e distribuir o espaço de acordo com o critério expositivo: a primeira parte prepara o público para a forma como Miró usava os materiais, por vezes pouco ortodoxos".
"Nas salas seguintes vem a parte chamada Metamorfose, apresentada não apenas nas mudanças das figuras usadas pelo artista, mas também nos objetos, desde a colagem, a pintura e os têxteis. Miró estava sempre a testar os limites dos materiais e das suas obras", referiu o comissário.
Relativamente às peças que não foram exibidas em Serralves, Robert Lubar Messeri disse que se trata de um conjunto de peças mais pequenas, em papel, criadas nos anos 1960 e 1970.
"São maravilhosas, mas não mostrámos porque havia limitações de espaço", explicou, acrescentando que esta exposição é apresentada de forma temática e não cronológica.
Sobre as expectativas do interesse do público em Lisboa, Messeri disse que são maiores, porque se trata da capital: "É uma extraordinária oportunidade para o público ver a coleção Miró de forma profunda, já que abrange desde 1924 até perto de 1983, quando o artista faleceu. É uma coleção realmente muito representativa".
Questionado pela Lusa sobre a polémica que a coleção provocou em 2014, quando o Governo da altura decidiu vendê-la, num leilão, em Londres, através da Christie's, decisão que seria impedida por iniciativa do Ministério Público, que impediu a saída das obras do país, o comissário comentou que a opção final acabou por ser "boa para Portugal, os portugueses, e a arte moderna".
"Tenho uma longa relação com esta coleção porque dei uma palestra sobre ela quando o Governo português tinha decidido vendê-la em leilão, e lamentei que ela pudesse ser desmantelada na sua essência, com as obras a serem vendidas separadamente", recordou.
A coleção de Joan Miró, que ficou na posse do Estado Português após a nacionalização do BPN, em 2008, é composta por desenhos e outras obras sobre papel, pinturas com suportes distintos, além de seis tapeçarias de 1973, uma escultura, colagens, uma obra da série “Telas queimadas”, e várias pinturas murais.
Na opinião de Robert Lubar Messeri, "a maioria do povo português quer que a coleção fique no país, pois esta coleção de arte é extraordinária, uma verdadeira riqueza para Portugal, que tem atraído cada vez mais turismo internacional".
"Miró é um dos artistas mais importantes de todos os tempos. É uma questão subjetiva em termos de avaliação, mas na arte do século XX, os três maiores artistas são Picasso, Matisse e Miró. Ao ter mantido a coleção, Portugal fica colocado como um país que apoia a arte moderna e contemporânea", sublinhou.
No final de setembro do ano passado, a Câmara Municipal do Porto anunciou que aquela coleção de arte iria permanecer na Casa de Serralves, depois de o primeiro-ministro, António Costa, ter revelado que o seu destino permanente seria a cidade do Porto.
A exposição, que inaugura a 07 de setembro na Galeria D. Luís I do Palácio da Ajuda, abrindo ao público no dia seguinte, é organizada conjuntamente pelo Ministério da Cultura, através da Direção-Geral do Património Cultural, e pela Fundação de Serralves.
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