O livro, que reúne um conjunto de crónicas publicadas no Diário de Notícias em 1948, foi o mote para o trabalho do fotógrafo Sérgio Jacques, que constitui a exposição intitulada “Sonhar a Palavra Liberdade”, patente durante um mês no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), na Cidade Universitária, em Lisboa, a partir da próxima segunda-feira.

A mostra “mistura fotografias da cidade com frases e excertos do livro de Urbano Tavares Rodrigues (1923-2013) e assim lhe rende homenagem”, segundo nota do ANTT.

A exposição inclui ainda o Diário de Notícias de agosto de 1948, onde as crónicas foram publicadas, e ainda os 12 processos movidos pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), a polícia política do Estado Novo, a Urbano e algumas fotografias de positivos do espólio do Diário de Lisboa à guarda do ANTT, que “não podem ser reproduzidas para o exterior”.

As crónicas foram escritas no período em que Urbano Tavares Rodrigues frequentou, na Universidade de Santiago de Compostela, na Galiza, o curso de verão para nacionais e estrangeiros.

O ANTT cita o escritor galego Carlos Quiroga, que, no posfácio do livro de fotografia de Sérgio Jacques, afirma que, “em 1948, estando a concluir os estudos na Faculdade de Letras, Urbano entrou como repórter para o Diário de Notícias”.

“Será por encomenda deste jornal que veio de imediato a Santiago, e será também a Empresa Nacional de Publicidade, com logótipo da Editorial Notícias, que no ano a seguir editou as crónicas em livro. E enviar um rapaz inexperiente, mas muito capaz, no período das férias a Santiago, tinha um motivo justificado”.

Fazia-se assim, a cobertura jornalística do Ano Jubilar Compostelano de 1948, “até porque o próprio ditador [generalíssimo Francisco Franco] do outro lado da raia estaria presente”.

Como jornalista Urbano Tavares Rodrigues trabalhou no Diário de Notícias, para onde entrou em 1946, no Diário de Lisboa, Artes e Letras, Jornal do Comércio, n’O Século e foi diretor da revista Europa, entre outros órgãos.

Enquanto repórter, percorreu muitos países, tendo reunido os seus relatos de viagem nos livros “Santiago de Compostela” (1949), “Jornadas no Oriente” (1956) e “Jornadas na Europa” (1958), entre outros livros de viagens que mais tarde publicou.

Preso pela PIDE em 1963 e 1968, usou o segundo período de detenção para escrever “Contos de Solidão”, que passou clandestinamente para o exterior. Apesar da intensa atividade na oposição, só em 1969 Urbano Tavares Rodrigues se filiou no PCP, pelo qual chegou a ser eleito deputado, embora não tendo aceitado exercer o mandato.

Urbano Tavares Rodrigues assinou uma obra literária em que quase sempre expressou preocupações sociais e tendências políticas. É autor de várias dezenas de títulos, entre conto, romance, crónica e ensaio, muitos deles traduzidos em várias línguas.

Urbano participou, como ator (fazendo o papel de si próprio) no filme “Visita – Ou Memórias e Confissões”, realizado por Manoel de Oliveira em 1982. Em 2000 foi-lhe atribuído o Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.

O fotógrafo Sérgio Jacques é autor e coautor de livros de história, arquitetura, gastronomia, património e turismo cultural. Publica regularmente nas páginas da revista O Tripeiro. Fez a sua tese de mestrado em Madrid alicerçada em memórias pessoais que o levaram a editar em 2011 o fotolivro “Archivos, fotografias e acontecimentos pessoais procedentes de álbuns familiares que se misturam com a história do país”.

Durante a última década colaborou com o historiador Joel Cleto, para a recolha e publicação das “Lendas do Porto”. As centenas de fotografias publicadas regularmente em dispersos meios foram reunidas numa coleção de livros com cinco volumes.