Em “Downtime/Tempo de Respiração”, Manon de Boer, que nasceu na Índia em 1966 e vive e trabalha em Bruxelas, apresenta quatro filmes, que acompanham processos de criação, sem roteiros a seguir, incluindo a trilogia filmada em três países diferentes.

As imagens de um dos filmes foram captadas em Bruxelas, em casa da artista, ao longo de três anos. “Filmei o meu filho a fazer construções, quando ele tinha entre os quatro e os seis anos, e a ideia era acompanhar o processo de criação e aprendizagem de crianças pequenas, que é tudo o que tem que ver com escultura”, afirmou a artista durante uma visita de imprensa à exposição.

Quando fez estas filmagens, Maron de Boer não percebeu logo “que fosse uma obra”. “Mas quando juntei os filmes todos, percebi que era”, contou.

Depois disso lembrou-se de que “seria interessante trabalhar com jovens que ainda não são profissionais” e é aí que surgem os outros filmes apresentados na exposição e que compõem o projeto “From Nothing to Something Else”.

Apresentado pela primeira vez como uma trilogia, o projeto começou na Cornualha, no Reino Unido, no âmbito de um convite feito a vários artistas para criaram algo relacionado com aquele condado, situado no sudoeste de Inglaterra.

Em vez de paisagens, Manon de Boer decidiu que devia trabalhar com jovens. “Encontrei estudantes que tinham música na escola e filmei-os durante dois dias. A única coisa que lhes disse foi: ‘Vamos filmar durante duas horas e podem fazer o que quiserem, usem o tempo para explorar’”, contou.

Maron de Boer sentia, enquanto artista, que tinha cada vez “menos e menos tempo” para criar. “Estava sempre a trabalhar para um fim muito rápido, em vez de deixar passar o tempo em que não se faz nada, mas em que o cérebro funciona e se tem ideias que não se esperava ter”, referiu.

Por isso, decidiu filmar os jovens sem lhes dar um objetivo específico, deixando-os improvisar.

O mesmo aconteceu em Lisboa, desafiada pela diretora do Museu Calouste Gulbenkian, Penelope Curtis.

“Desde que vim para aqui sempre tive vontade de trazer a Manon cá, em parte por causa da relação com a música e a Orquestra Gulbenkian”, referiu Penelope Curtis, salientando que, “ironicamente, a colaboração não foi com o Serviço de Música ou com a orquestra, mais com o museu e com pessoas da cidade de Lisboa”.

Para o museu, foi “um momento importante”, levar “o Serviço Educativo para a programação central do museu”, visto que a artista “se tem interessado cada vez mais por crianças e jovens e a maneira como eles aprendem, como aprendem música, dança, e todo o processo de aprendizagem”.

As curadoras da exposição, Susana Gomes da Silva e a Rita Fabiana, trabalharam “muito de perto” com Manon Boer, “para encontrar as crianças e jovens certos, trabalhar com a organização certa e encontrar espaço na Gulbenkian onde pudessem filmar”.

A escolha recaiu em jovens da escola de artes do Chapitô. Nas filmagens, Manon de Boer pediu ao operador de câmara “que seguisse cada um dos bailarinos de cada vez”.

“Que, quando filmasse, ficasse em cada bailarino pelo menos por 40 minutos, mesmo que ele não estivesse a fazer nada, para capturar os momentos em que não se passava nada e em que algo ia começar outra vez”, explicou.

A câmara está lá, mas a artista quis “criar um ambiente em que os jovens se sentissem protegidos, para esquecerem” que estavam a ser filmados, “para se sentirem livres para explorar, para mostrarem algo”.

Um pouco como as crianças, que “têm que estar sozinhas para descobrirem coisas num espaço”, mas “com alguém presente para se sentirem seguras”.

Em relação a trabalhos que já fez anteriormente, Manon de Boer referiu que este foi “menos controlado”, passou mais por “improvisar, reunir material e tentar fazer algo desse material”.

Além disso, projetos anteriores “eram filmados com câmaras 16 mm, em que se pode filmar três ou quatro minutos seguidos, e aqui foi com vídeo, em que não há limite de tempo”.

A exposição de Manon de Boer, que ficará patente até 13 de abril no Espaço Projeto do edifício da Coleção Moderna, é a primeira do programa de exposições temporárias do Museu Calouste Gulbenkian para este ano.