Tozé Brito conhece bem o Festival da Canção. Participou em 12 edições, ganhou três. Uma como intérprete, duas como autor. No entanto, é como jurado que o diretor da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) participa agora no concurso que escolhe o representante português na Eurovisão. Ao SAPO24, falou sobre as acusações de plágio que levaram Diogo Piçarra a desistir do certame musical.
O músico do Quarteto 1111 não acredita que "o Diogo tenha copiado seja o que for" e sublinha: "com o talento que tem não precisa disso para nada, e se fosse fazer isso não o iria fazer de uma forma tão óbvia".
Essa forma óbvia refere-se "à sequência harmónica" de "Canção do Fim". "Tão simples que é naturalissímo que haja centenas de milhares de casos absolutamente iguais, a obterem uma melodia como a dele", diz.
Tozé Brito vai mais longe nas críticas e afirma que "o que fizeram ao Diogo foi uma coisa criminosa", considerando que o músico foi acusado de plágio "por pessoas que nem sabem o que é plágio".
Mas o que é plágio e quando é que pode ser considerado? "Só há plágio quando uma obra não tem identidade própria" e não quando "uma canção é parecida com outra". Neste caso, na sua opinião enquanto diretor da SPA, "não há plágio".
Para além, disso "para haver plágio é preciso que haja uma queixa, que não houve". E é por essa razão que a SPA não irá agir se não houver uma queixa."Nem temos de o fazer, não somos polícias. Estamos aqui para cobrar direitos e distribuir direitos aos autores", refere.
Caso houvesse uma queixa, seria acionado o departamento jurídico da SPA e pedida uma peritagem a maestros. E se fosse alvo de peritagem, Tozé Brito teria "sérias dúvidas de que fosse considerado plágio".
"Se estivesse na posição dele, e já levo cinquenta anos de música, teria desistido imediatamente"
Sobre a desistência de Diogo Piçarra, Tozé Brito assume que faria o mesmo se tivesse sido colocado em situação idêntica: "Se estivesse na posição dele, e já levo cinquenta anos de música, teria desistido imediatamente". "Teria sido a primeira coisa que tinha feito, logo no momento em que as dúvidas foram levantadas", acrescenta. O jurado acredita que, desta forma, o músico se colocou à margem de qualquer polémica e que não precisa do Festival para a sua carreira: "O assunto acabou, não se fala mais nisso. Ele tem a vida dele para fazer, tem uma carreira brilhante para seguir e é um grande intérprete que tem tudo para ir longe". Estar-se a expôr e a ser crucificado seria "uma estupidez", conclui Tozé Brito.
Sobre se o intérprete de "Canção do Fim" era um dos favoritos à vitória, Tozé Brito não hesita em dizer que "se não fosse, não tinha acontecido este barulho todo". "A mim surpreende-me que no dia seguinte ao Festival apareçam pessoas com uma canção da IURD, que nem é o tema original", continua. ["Abre os Meus Olhos” é, na verdade, uma adaptação brasileira de um tema evangélico dos anos 70.] "Alguém teve a preocupação de andar à pressa a tentar perceber se havia alguma coisa parecida para o poder acusar", termina.
Com Diogo Piçarra fora da corrida, o jurado prefere não avançar com favoritos mas assume "que há mais do que um" e "que basta ver as votações do televoto e imediatamente percebem".
Balanço do Festival, do qual salienta um erro a corrigir
Tozé Brito faz ainda um balanço da 50.ª edição do Festival RTP da Canção, e destaca um erro a corrigir.
"Quando há duas eliminatórias como a deste ano, com treze canções cada uma, não deveriam passar as sete mais bem classificadas de cada uma. As canções são pontuadas e, por isso, deveriam passar as melhores 14. Isto é, poderiam passar 10 da primeira eliminatória e 4 da segunda ou vice-versa".
Na opinião do jurado "isto teria evitado que algumas canções melhores tivessem ficado de fora, como ficaram". Quais? A esta pergunta, Tozé Brito remete-se ao silêncio e prefere não adiantar títulos.
A caminho da Eurovisão
Com o afastamento de Diogo Piçarra, passou à final a canção “Mensageira”, composta por Aline Frazão e interpretada por Susana Travassos, de acordo com o regulamento, divulgou a RTP.
Da primeira semifinal saíram: “Só por Ela” (composta por Diogo Clemente e interpretada por Peu Madureira), “(sem título)" (Janeiro), “Para sorrir eu não preciso de nada” (Júlio Resende/Catarina Miranda), “Pra te dar abrigo” (Fernando Tordo/Anabela), “Anda estragar-me os planos” (Francisca Cortesão/Joana Barra Vaz), “Zero a zero” (Benjamim/Joana Espadinha) e “Sem medo” (Jorge Palma/Rui David).
Na segunda foram apuradas, além de “Mensageira”: "O Jardim" (Isaura/Cláudia Pascoal), “Bandeira Azul” (Tito Paris/Maria Inês Paris), "Patati Patata" (Paulo Flores/Minnie & Rhayra), "O Voo das Cegonhas" (Armando Teixeira/Lili), "Amor Veloz" (Francisco Rebelo/David Pessoa) e "Sunset" (Peter Serrado).
A final do Festival da Canção realiza-se este domingo, 4 de março, no Pavilhão Multiusos de Guimarães, e será transmitida em direto na RTP1, RTP Internacional e RTP Play.
Na grande final o processo de votação é diferente. O vencedor é encontrado através do televoto (50%) e de um júri regional (50%), constituído por representantes das cinco regiões de Portugal Continental (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve) e das 2 regiões autónomas (Madeira e Açores). O resultado final da votação será então o resultado da soma destas duas votações.
O vencedor do Festival da Canção irá participar em maio no Festival da Eurovisão da Canção, que este ano se realiza em Lisboa.
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