A exposição “O ator que queria ser sinaleiro” vai estar no Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada, durante todo o festival, recordando a carreira de mais de 60 anos de Rui Mendes, contados a partir da estreia no Teatro do Gerifalto, em 1956, aos 19 anos.
É uma exposição necessariamente “condensada”, diz a organização, tendo em conta que o ator assumiu centenas de personagens, passou por quase todas as companhias, todos os palcos, pela rádio e a televisão, por todos os géneros, da comédia ao drama, dos clássicos às telenovelas.
O título da mostra tem origem em memórias de Rui Mendes: em criança queria ser sinaleiro, para dar ordens, mas a descoberta do cinema tornou inevitável a representação, mesmo depois do curso de Arquitetura, que não acabou.
Esteve nos primeiros grupos independentes, como o Teatro Moderno de Lisboa, foi cofundador do Grupo 4, trabalhou na companhia Adóque, no Novo Grupo-Teatro Aberto, na Cornucópia, no D. Maria II, interpretou Beckett, Ionesco, Brecht, Shakespeare, Molière, trabalhou com encenadores como Francisco Ribeiro (Ribeirinho), Adolfo Gutkin, João Lourenço, João Mota, Luis Miguel Cintra, Fernanda Alves, Tiago Rodrigues, filmou com Ernesto de Sousa, Manoel de Oliveira, João Mário Grilo, António de Macedo.
Foi o protagonista de Duarte & Companhia, entrou em telenovelas e séries de televisão como “Uma Cidade como a Nossa”, “Gente Fina É Outra Coisa”, “Um Amor feliz”, “Chuva na Areia”. Fez teatro radiofónico e dobragens, foi a voz de Beethoven, do Grande Smurf, de Winnie the Pooh.
“Uma vida e obra tão cheias e ricas”, que “seria difícil, impossível até, conseguir mostrar e falar de tudo”, escreve o cenógrafo José Manuel Castanheira, sobre a montagem da mostra, para o Festival de Almada.
Por isso, “em vez do dispositivo para a habitual viagem pela galeria”, haverá “um só contentor pronto para o embarque, uma exposição enclausurada, e forçosamente condensada (…), uma composição de fragmentos acompanhados de um atlas particular”, prossegue o responsável pela mostra, no texto publicado no ‘site’ do festival.
José Manuel Castanheira estabelece assim “o desafio” para “uma visita imaginária”: “Cabe a cada um inventar novos percursos”, neste “microuniverso dedicado ao ator Rui Mendes”.
Para a Companhia de Teatro de Almada (CTA), que organiza o festival, “a homenagem reconhece o inestimável contributo [do ator] para o desenvolvimento de uma nova forma de estar no teatro, no cinema e na televisão, uma participação desde sempre marcada por uma forte motivação cívica”.
José Manuel Castanheira assina ainda a instalação “O sonho de J.”, com que prossegue a série “Manual de sobrevivência de um cenógrafo”.
Esta edição do festival também vai manter os Colóquios na Esplanada, com atores e encenadores, apresentar o livro “O que pode ser visto”, do encenador alemão Hajo Schülere, resultante dos ‘workshops’ do ano passado, e contar com a coreógrafa Madalena Victorino, para as oficinas deste ano de “O Sentido dos Mestres”.
Ao todo são 17 espetáculos, com 14 produções portuguesas e três estrangeiras, repartidas por 90 sessões, cinco palcos em Almada (Teatro Municipal Joaquim Benite, Fórum Municipal Romeu Correia, Incrível Almadense, Academia Almadense e Teatro-Estúdio António Assunção) e um palco em Lisboa (Centro Cultural de Belém). Desta vez, sem a Escola D. António da Costa, nem outros palcos na capital.
O cartaz foi concebido pelo artista plástico Pedro Proença.
O Festival de Almada é uma organização da CTA com a Câmara Municipal.
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