O filme, de 1965 e restaurado pela Cinemateca, será exibido em Bolonha no dia 29, ao ar livre, numa sessão especial que incluirá a leitura integral do longo poema “A invenção do amor”, do poeta cabo-verdiano Daniel Filipe, que inspirou a curta-metragem.

A leitura será feita pela atriz e realizadora italiana Alice Rohrwacher que, na página oficial do festival, recorda ter conhecido aquele poema em 2002: “Senti uma estranha urgência em dizer o poema a toda a gente, libertá-lo do meu quarto e levá-lo para as ruas, mostrá-lo a desconhecidos”.

Quase duas décadas depois, a realizadora voltou a lembrar-se do poema e criou, em parceria com a ilustradora Mara Cierri e a editora Elze Edicioni, um livro-cartaz com a obra de Daniel Filipe.

António Campos, realizador independente, marginal dentro do cinema português, ligado sobretudo ao documentário etnográfico e ao cinema antropológico, tem em “A invenção do amor” um dos primeiros filmes de ficção, feito a partir de um poema que tinha sido publicado quatro anos antes por Daniel Filipe.

Tanto o poema como o filme são centrados num homem e numa mulher que se apaixonaram e foram perseguidos, numa cidade, pelo crime de terem inventado o amor.

“A invenção do amor”, que António Campos disse ter rodado com uma equipa de amigos de Leiria, é entendido como um filme político, surrealista e metafórico sobre o Estado Novo, sem esquecer que Daniel Filipe, opositor ao regime, foi perseguido e torturado pela PIDE. O escritor, que vivia em Portugal desde criança, morreu aos 39 anos em abril de 1964.

“Vilarinho das Furnas” (1971) e “Falamos de Rio de Onor” (1974) são dois dos mais destacados trabalhos da cinematografia de António Campos, que morreu em 1999 aos 77 anos.

O festival Il Cinema Ritrovato decorrerá de 21 a 31 de agosto em Bolonha.