Realizado em conjunto pelos diretores Chen Kaige, Tsui Hark e Dante Lam, o épico de guerra é o filme chinês mais dispendioso de sempre, com um orçamento equivalente a 168 milhões de euros.

“No início deste ano, estava num período profissional morto”, disse à agência Lusa o português, de 28 anos, natural de Campo Maior, no Alentejo, e atualmente radicado em Xangai, a “capital” económica da China.

Um anúncio nas redes sociais, à procura de atores estrangeiros, catapultou-o para uma aventura, que incluiu treino militar com um antigo fuzileiro norte-americano e noites a fio em filmagens.

“Inicialmente, só me disseram muito vagamente que o filme ia ser sobre soldados americanos na Guerra da Coreia (1950 - 1953)”, explicou. “Mas quando vi quem eram os diretores e o valor dos salários praticados, percebi que era um projeto grande”.

Hugo partiu então de comboio rumo ao norte da província de Hebei. Após desembarcar numa estação remota, foi conduzido até uma aldeia “mais pequena” que a sua terra natal.

“Nessa aldeia, havia um hotel enorme, completamente desproporcional, onde ficámos mais de 300 estrangeiros hospedados”, contou.

Os estrangeiros foram contratados para desempenharem o papel de soldados dos Estados Unidos, durante a histórica Batalha no Lago Changjin, onde um então rudimentar exército chinês venceu as modernas e bem equipadas tropas norte-americanas.

No entanto, entre centenas de estrangeiros havia apenas “dois norte-americanos”, contou Hugo. “O critério de escolha dos atores era alguém com feições brancas”, disse.

“Eu era o único português. Havia alguns europeus, e muitos russos e pessoas de outros países asiáticos, sobretudo Ásia central e sul da Ásia, incluindo Paquistão e Tajiquistão. Alguns cazaques, uzbeques ou turcomanos”, descreveu.

Após entrar no hotel, o “segurança pôs um cadeado na porta e trancou-a por dentro”.

“Eles disseram que estavam muito preocupados com a covid-19”, contou. “Efetivamente, entre o dia 21 de janeiro e meados de março nós estávamos proibidos de sair do hotel. Nem para ir ao supermercado em frente”.

A regra era aplicável apenas aos estrangeiros.

No inóspito inverno do norte da China, Hugo Godinho passou as primeiras semanas a fazer “treino militar”.

Além de exercício físico, os atores aprenderam a formar pelotões, a marchar ou como segurar a arma.

Com a temperatura a descer aos quinze graus negativos, o português lembra-se de ter tido dificuldades para comer. “Os meus dedos ficavam completamente dormentes devido ao frio”, retratou.

Lançado no final de setembro e financiado pelo Estado chinês, a “Batalha do Lago Changjin” tornou-se já o filme com maiores receitas de bilheteira, em 2021, tendo arrecadado o equivalente a 765 milhões de euros.

A China tem o maior mercado de cinema do mundo.

A produção coincide com o ano em que o Partido Comunista Chinês celebra o centésimo aniversário desde a sua fundação e com um período de acirrada tensão entre Pequim e Washington.

As relações entre as duas maiores economias do mundo deterioraram-se rapidamente, nos últimos anos, marcadas por diferendos no âmbito do comércio, tecnologia, Direitos Humanos ou as reivindicações territoriais de Pequim no Mar do Sul da China.

Analistas consideram hoje mais provável um confronto militar direto entre a China e os Estados Unidos devido a Taiwan.

Pequim tem aumentado a pressão militar sobre a ilha, onde se refugiou o antigo governo nacionalista chinês, e que funciona hoje como uma entidade política soberana.

Em resposta, Washington aumentou o fornecimento de armas a Taipé. O Presidente norte-americano, Joe Biden, assegurou, recentemente, que os EUA defenderiam Taiwan no caso de um ataque chinês.

Formado em mandarim pelo Instituto Politécnico de Leiria (IPL), Godinho está agora a apostar na importação de vinho português, após ter regressado a Xangai.

“A China não é hoje tão amigável como há uns anos, mas continuo a sentir-me bem recebido”, realçou. “A verdade é que gosto de viver aqui”.

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