A longa-metragem, intitulada "Variações", irá focar-se sobretudo na vida de António Variações entre 1977 e 1981, época em que "um barbeiro queria ser cantor", ensaiava com músicos amadores e gravava tudo em cassetes, muito antes de editar oficialmente qualquer canção.
Arrojado e irreverente, influenciado pelo fado, pela música popular e pelo pop rock, António Variações morreu aos 39 anos, a 13 de junho de 1984. Hoje, passados 34 anos, João Maia fala numa "personagem fascinante e difícil de pesquisar", que marcou a música portuguesa.
O filme é um projeto antigo de João Maia e já esteve envolto em polémica há cerca de dez anos, por divergências com o antigo produtor, Alexandre Valente.
O caso chegou a tribunal, que deu razão a João Maia sobre os direitos do argumento.
Agora, João Maia retoma o projeto, com apoio financeiro do Instituto do Cinema e Audiovisual e produção de Fernando Vendrell (David & Golias). A rodagem acontecerá entre julho e agosto com Sérgio Praia no papel de António Variações, à frente de um elenco que integrará também Filipe Duarte, Victoria Guerra, Lúcia Moniz, Diogo Branco e Cristóvão Campos.
A banda sonora está a ser trabalhada pelo músico Armando Teixeira, a partir das cassetes deixadas por António Variações e é certo que terá pelo menos um tema inédito, referiu João Maia.
O realizador recorda que começou a fazer pesquisas em 2002, contactando pessoas que conheceram António Variações, familiares que lhe cederam documentação, e consultando grande parte da imprensa portuguesa da época.
Nessa altura ainda não tinha surgido o grupo Humanos, criado para interpretar temas de António Variações descobertos em várias cassetes, nem tinha sido publicada a biografia de Manuela Gonzaga sobre o músico (reeditada neste mês, revista e aumentada).
Sobre o trabalho de pesquisa, João Maia lembrou que "as cassetes de gravações e de ensaios foram muitos inspiradoras. São muitas horas, são ensaios com bandas amadoras, são os primeiros arranjos em bruto que ele tinha na cabeça".
"Variações" será um filme sobre o percurso musical de António Variações, sem esquecer o caminho feito entre a aldeia minhota de Fiscal, onde nasceu, e Lisboa, onde morreu, mas João Maia quer que tenha um "lado mais universal", sobre alguém que tinha ambição e marcou uma época.
O filme deverá estrear-se em 2019, ano em que se assinalarão os 35 anos da morte do músico.
Barbeiro de profissão - tinha em Lisboa a barbearia.
"É pró menino e prá menina" -, António Variações escreveu canções como "Anjo da guarda", "Canção do engate", "O corpo é que paga" e "Estou além", mas deixou apenas dois álbuns, editados pouco antes de morrer: "Anjo da guarda" (1983) e "Dar e receber" (1984).
A curta discografia aumentou já depois da morte dele, com a divulgação de alguns inéditos, compilações, versões, às quais se juntaram tributos em disco e ao vivo, numa manifestação pública de respeito pela criatividade do artista. É considerado também uma referência para a comunidade LGBT portuguesa.
Em 2016 o realizador Vicente Alves do Ó encenou em Lisboa o monólogo "Variações de António", interpretado pelo ator Sérgio Praia, que voltará agora ao mesmo papel no filme de João Maia.
Autor de curtas-metragens e trabalho para televisão, João Maia fará a estreia na longa-metragem com "Variações".
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