“Eu não sei se a apresentei [a canção ‘The Nine Billion Names of God’] ao vivo. Sei que a escrevi, escolhi os músicos — uma pessoa a tocar viola de arco, não me lembro se está lá um ‘cello’, mas acho que não -, fiz o arranjo, gravámos. Sei que chamei amigos para fazer os coros, um deles era o Fernando Tordo, e acho que nunca mais a toquei ao vivo. Nunca a toquei ao vivo, no fundo. Vai ser agora nestes ‘quatro Tivolis'”, contou o músico e compositor.

Os 50 anos de carreira de Jorge Palma são celebrados com seis concertos em Lisboa, quatro dos quais no Teatro Tivoli, em que será feita uma viagem antológica pela discografia do músico.

O primeiro ‘single’ que Jorge Palma gravou em nome próprio marca o início da carreira, mas o seu percurso na música tinha começado antes, aos 14 anos.

Na altura, o que o movia “eram miúdas, festa, aquelas coisas”. No liceu, começou “a ouvir a pop rock, a começar por [Elvis] Presley, mas sobretudo [The] Beatles e [The Rolling] Stones”. “Aí abandonei completamente os estudos clássicos, chumbei no Liceu Camões, no 4.º ano, deixei de ir à ginástica, às aulas de piano”, recordou.

Aos 72 anos, as razões são outras. “Atualmente já não é isso que me move, já não tenho muita pachorra para ir para os bares, até às ‘500 da manhã’. Eu tenho um gosto profundo pela música, todas as áreas”, afirmou.

Foi já na faculdade, quando deixou de ir às aulas, que percebeu que “podia ter jeito”, caso se dedicasse a isso, “para fazer carpintaria ou criar galinhas”, mas a música é “indissociável” do seu ser.

Ouvindo hoje o primeiro tema que gravou, Jorge Palma entende tratar-se de uma canção “que não está muito mal feita, por acaso”, embora o inglês seja “inglês de liceu ainda”.

“Na altura já tinha lido muitas letras de canções de Bob Dylan, e companhia. Eu gostava e estudei, decorava as letras, sobretudo nos anos de estrada de rua, metro, eu cantava sobretudo esses compositores, Dylan, Paul Simon, James Taylor, Crosby Stills and Nash e Blue Grass, que descobri quando estava a viver em Paris”, partilhou.

Quando quis gravar “The Nine Billion Names of God” e o lado B do ‘single’, “Come, Morpheus”, Jorge Palma foi ter com “o grande músico e maestro” Thilo Krasmann, que o gravou, cedendo espaço de estúdio para que gravasse a maquete, de piano e voz, mas “não pertencia a nenhuma editora”.

Jorge Palma foi então “bater à porta da Arnaldo Trindade, cujo diretor era o Carlos Cruz, que ouviu, achou piada e disse ‘nós pagamos-te a gravação e fazemos a gravação'”.

O pagamento chegou na forma de “uma máquina de lavar roupa e um frigorífico”.

“O Arnaldo Trindade tinha, e acho que ainda tem, um negócio de eletrodomésticos”, explicou Jorge Palma lembrando que, naquela altura, tinha acabado de se casar. Quando partiu para a Dinamarca, para escapar ao serviço militar, leiloou ‘o pagamento’ entre os amigos.

O ‘single’ será agora reeditado e estará à venda, em vinil, nos concertos a partir de 07 de outubro.

De toda a discografia, “que está praticamente dividida ao meio entre o catálogo da atual Warner e a Universal, antiga Polygram”, Jorge Palma destaca como discos mais marcantes “o primeiro ‘single’, claro, mas sobretudo o primeiro álbum”.

A escolha recai em “Como uma viagem na palma da mão”, de 1975, porque “é o primeiro”, e foi criado numa altura em que o músico estava “muito influenciado pelo rock sinfónico, Génesis, Yes, etc.”.

“Foi sob essa influência que escrevi as canções desse álbum. Somos só três instrumentistas: Vítor Mamede na bateria, que veio do meu grupo Sindicato, Rui Cardoso, sopro, flautas e saxes, e eu toquei tudo o que era teclas, baixo, as guitarras todas. Fomos só três pessoas a fazer aquele ‘sonzão’, com a voz muito fininha, novinho”, recordou.

Quanto aos outros 12 álbuns, “cada um corresponde a um momento” da vida de Jorge Palma. “Com quem me dava, com quem vivia, o tipo de vida que levava, o que ouvia e lia, tudo isso torna cada disco único”, disse.

Nos espetáculos que começam no domingo, com um concerto dedicado a “Só”, no Palácio Baldaya, em Benfica, Jorge Palma vai percorrer toda a discografia.

E para isso está a “reestudar” o seu repertório. “O meu quinteto está a trabalhar com muito gosto e afincadamente. E eu também, estou a estudar coisas e ‘eu escrevi isto, que engraçado’. Algumas estou a aprender a tocar outra vez e está a dar muito gozo”, partilhou.

Os concertos no Tivoli acontecem nos dias 07 (em que revisita “Com Uma Viagem na Palma da Mão”, “Té Já” e “Qualquer Coisa Pá Música”) e 26 de outubro (“Acto Contínuo”, “Asas e Penas” e “Lado Errado da Noite”) e 01 (“Quarto Minguante”, “Bairro do Amor” e “Jorge Palma – Proibido Fumar”) e 08 de novembro (“Norte”, “Voo Noturno” e “Com Todo o Respeito”).

“Antologia” termina em 19 de novembro, no Capitólio, com uma reunião do grupo Palma’s Gang, que, além de Jorge Palma, integrou, na formação original, também Alex Cortez e Flak, dos Rádio Macau, e Kalu e Zé Pedro (que morreu 2017), dos Xutos & Pontapés, músico que “não terá substituto, vai estar em espírito”.

O alinhamento dos espetáculos não inclui nada que não tenha sido ainda gravado. No entanto, Jorge Palma está “quase a concluir um novo álbum”. “Está praticamente tudo gravado, falta escrever partes de letras e acrescentar um instrumento aqui ou ali. Vão ser 10 ou 11 canções. Até ao fim do ano está pronto”, partilhou.

A partir do próximo ano, haverá mais um álbum para juntar a esta “Antologia”.

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