O anúncio foi feito na sede do grupo LeYa, em Alfragide, nos arredores de Lisboa, depois de dois dias de reuniões do júri ao qual presidiu Manuel Alegre.

Além do escritor Manuel Alegre, o júri da edição deste ano foi constituído pela poetisa angolana Ana Paula Tavares, pela jornalista portuguesa Isabel Lucas, pelo professor de Literatura Portuguesa na Universidade de Coimbra José Carlos Seabra Pereira, pelo professor de Letras e ex-reitor da Universidade Politécnica de Maputo Lourenço do Rosário, pelo escritor Nuno Júdice e pelo editor, jornalista e tradutor brasileiro Paulo Werneck.

A obra "As Pessoas Invisíveis" é, de acordo com comunicado enviado às redações, "uma viagem por vários tempos da história recente de Portugal desde a década de quarenta do século XX narrado a partir de uma personagem ambígua, Xavier, que age como se tivesse um dom ou como se precisasse de acreditar que tivesse um dom".

Ao longo da história, que se passa nos anos 40 do século XX, são abordados temas como "a ambição do ouro, a posição de Salazar face à Guerra, a guerra colonial com todas as questões que hoje levanta, o nascimento e os primeiros anos da democracia".

"Em todas essas paisagens e em todos os tempos que o romance toca, a palavra é de quem não a costuma ter. Dramática, velada, fugaz, lapidar, tocada pelo sobrenatural", é explicado, havendo destaque para os "habitantes do mundo rural ou os negros das colónias", que "são seres quase diáfanos que sublinham uma sensação de quase perdição que atravessa todo o livro e constitui um dos seus pontos mais magnéticos".

O júri destacou também "o trabalho de linguagem, o domínio de uma oralidade telúrica a contrastar com a riqueza de vocabulário e de referências histórico-sociais".

Esta não foi a primeira vez que José Carlos Barros concorreu ao Prémio Leya, já que em 2012 foi finalista com o romance "Um Amigo para o Inverno", editado no ano seguinte pela chancela Casa das Letras.

Autor de vasta obra poética, a sua estreia na prosa aconteceu com "O Prazer e o Tédio", romance que o cineasta André Graça Gomes adaptou ao grande ecrã, em 2012, sem financiamento e com atores amadores. A longa-metragem foi rodada em Boticas, onde o escritor nasceu, em 1963, e aborda a angústia do mundo rural.

Licenciado em Arquitetura Paisagista pela Universidade de Évora, José Carlos Barros vive em Vila Nova de Cacela, no Algarve.

Tem exercido atividade profissional no âmbito do ordenamento do território e da conservação da natureza, e foi diretor do Parque Natural da Ria Formosa. Foi também técnico superior do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina e da Direção Regional do Ambiente do Algarve.

Antigo deputado do PSD, José Carlos Barros foi vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e presidente da Assembleia Municipal da mesma cidade. É vereador, sem pelouro, naquela câmara.

Entre os vários livros de poesia que escreveu destacam-se "uma abstração inútil", "Todos os náufragos", "Teoria do esquecimento", "Pequenas depressões" (com Otília Monteiro Fernandes) e "As leis do povoamento" (editado também em castelhano).

Com "Sete epígonos de Tebas" venceu o Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama 2009.

Os seus livros de poesia mais recentes são "O uso dos venenos", "A educação das crianças", "Estação - Os poemas do DN Jovem", e "Penélope escreve a Ulisses".

Antes de anunciar o vencedor, Manuel Alegre fez saber que no início da reunião, Lourenço do Rosário - um dos membros do júri, professor de Letras e ex-reitor da Universidade Politécnica de Maputo - fez uma declaração de protesto contra as medidas da União Europeia, de proibição dos voos para Moçambique e outros países da África Austral.

"Os membros do júri associaram-se a esta tomada de posição", afirmou o presidente.

Além de Manuel Alegre e de Lourenço do Rosário, fizeram também parte do júri da edição deste ano a poetisa angolana Ana Paula Tavares, a jornalista portuguesa Isabel Lucas, o professor de Literatura Portuguesa na Universidade de Coimbra José Carlos Seabra Pereira, o escritor Nuno Júdice e o editor, jornalista e tradutor brasileiro Paulo Werneck.

O prémio Leya

O Prémio LeYa tem um valor de 50 mil euros e é o maior prémio literário para romances inéditos de todo o mundo de língua portuguesa.

De acordo com a organização, "o Prémio LeYa é atribuído por prova cega, sendo a autoria dos romances desconhecida ao longo de todo o processo de leitura e avaliação". Desta forma, "a autoria do romance vencedor, selada em sobrescrito, apenas é conhecida depois de tomada a decisão do júri".

Em 2010, 2016 e em 2019 o júri não atribuiu o galardão, justificando “falta de qualidade” das obras candidatas. No ano passado, o prémio foi suspenso por causa da pandemia.

As obras a concurso na presente edição incluíram os originais enviados para a edição de 2020, bem como todos os que concorreram à edição de 2021.

Foram recebidos 802, provenientes de 20 países. Alemanha, Angola, Áustria, Brasil, Bulgária, Cabo Verde, Canadá, Equador, França, Holanda, Hungria, Inglaterra, Irlanda, Luxemburgo, Moçambique, Polónia, Portugal, Rússia, EUA e Vietname.

Concorreram ao Prémio 732 originais, dos quais foram seleccionados 14 para apreciação do Júri.

O último vencedor, em 2018, tinha sido o escritor brasileiro Itamar Vieira Junior, com "Torto Arado", romance que posteriormente viria a ganhar também os prémios Jabuti e Oceanos.

Os anteriores vencedores foram João Pinto Coelho, António Tavares, Afonso Reis Cabral, Gabriela Ruivo Trindade, Nuno Camarneiro, João Ricardo Pedro, João Paulo Borges Coelho e Murilo Carvalho.

(Notícia atualizada às 14h41)