![Livro de Antony Beevor sobre Batalha de Arnhem destaca sofrimento dos civis](/assets/img/blank.png)
“Pesquisas recentes mostram que foram mortos 188 civis só na cidade de Arnhem durante a batalha, dos quais se pensa que cerca de quarenta tenham sido executados sumariamente pelos alemães. As tensões da evacuação, o bombardeamento efetuado pelos Aliados e outros fatores elevaram o número de mortes civis para mais de dois mil”, escreve Antony Beevor sobre o rescaldo da operação aerotransportada na Holanda, em setembro de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial.
Após o desembarque na Normandia, em junho de 1944 e da libertação de Paris, os Aliados mantiveram o objetivo de alcançar Berlim, mas o plano britânico do marechal Montgomery para estabelecer passagens na Holanda fracassou completamente.
O objetivo do Segundo Exército britânico era isolar o Décimo Quinto Exército alemão e toda a parte oeste da Holanda, flanquear a linha Siegfried (defesa alemã), atravessar o Reno e estar em posição de cercar o vale do Ruhr a partir do norte “ou mesmo avançar em direção a Berlim”, explica.
Para Beevor, muitos historiadores que fazem a abordagem sobre a derrota britânica “centraram-se em tantos e diferentes” aspetos da operação “Market Garden” que correram mal que tendem a menosprezar o elemento central:
“Era simplesmente um plano muito mau desde o início. Todos os outros problemas derivam desse facto”, refere o autor acrescentando que Montgomery não tinha mostrado qualquer interesse nos problemas práticos ligados às operações aerotransportadas.
“Na verdade, recusou-se obstinadamente a dar ouvidos ao comandante-chefe holandês, o príncipe Bernardo, que o tinha advertido sobre a importância de deslocar veículos blindados a partir de uma única estrada elevada para os pólderes (terrenos baixos protegidos por diques) planos e alagados”, escreve.
Beevor, um dos autores mais destacados na investigação histórica sobre a Segunda Guerra Mundial, utiliza fontes novas ligadas aos acontecimentos: testemunhos diretos, cartas e diários de soldados e de civis, depoimentos da Resistência holandesa, relatórios militares britânicos e norte-americanos, destaca o papel das forças polacas e a consulta dos arquivos alemães.
A cadência dos depoimentos dos intervenientes no conflito é comparável aos trabalhos anteriores: "Estalinegrado"; "A Queda de Berlim 1945"; "Paris após a Libertação 1944-1949" ou "A Segunda Guerra Mundial".
Sobre a operação aerotransportada na Holanda, o historiador refere que a partir do dia 19 de setembro de 1944 o confronto acaba por concentrar-se em Arnhem onde os alemães pararam o avanço aliado, numa batalha que surpreende os oficiais, em Londres.
“O tenente-general Frederick Browning desenhou três grandes círculos no mapa coberto de pó de talco para mostrar os objetivos das três divisões. Quando acabou de desenhar o terceiro, fitou Urguhart com um olhar deliberadamente inquitante e disse: ‘Ponte de Arnhem – e defendam-na’”, relata o historiador que acompanha os factos que levaram à tomada de decisões por parte dos principais oficiais britânicos.
“Frederick Browning, um oficial dos Grenadier Guards de rosto afilado e ar de ídolo de matiné era casado com a escritora Daphne du Maurier que tinha escolhido ‘bordeaux’ para a boina dos paraquedistas (‘Red Devils’)”, uma das forças mais importantes da operação.
O pelotão da frente com o 2.º Batalhão (britânico) chegou à ponte rodoviária de Arnhem por volta das 20:00 do dia 17 de setembro, pouco depois do anoitecer, mas três dias depois foram efetivamente barrados pelas tropas nazis.
Os britânicos ficaram isolados e as forças paraquedistas, que integrava o contingente polaco, que deveriam apoiar o ataque e mais tarde preparar a retirada não conseguiram alcançar o cerco e o avanço das tropas alemãs que acabaram por destruir a pequena cidade holandesa próxima da fronteira alemã.
“A evacuação forçada de Arnhem levada a cabo pelos alemães significava que os soldados britânicos escondidos na área precisavam de se deslocar para oeste a fim de evitar a captura e também para evitar que os alemães exercessem represálias contra as famílias que os tinham ajudado”, refere o historiador acrescentando vários casos em que a morte de civis e feridos de guerra podiam ter sido evitadas.
“Lançaram granadas para as caves e não prestaram atenção aos gritos dos habitantes que se encontravam nessas caves, houve muitas vítimas civis em resultado disso”, frisa a investigação.
“Os nazis gostavam de pensar que eram muito mais civilizados do que os soviéticos, contudo a forma como saquearam Arnhem foi extraordinariamente semelhante, na sua maldade e destruição, com a pilhagem que o Exército Vermelho infligiu à Alemanha em 1945”, escreve Antony Beevor sobre os combates na Holanda, país onde a ocupação nazi foi “provavelmente” a mais brutal da Europa Ocidental.
Os excessos cometidos pelas forças aliadas, sobretudo pilhagens por parte de soldados norte-americanos, são igualmente referidos, mas é a força dos combates que acaba por marcar os efeitos sobre a população, em 1944.
Com Arnhem e Nijmegen em chamas e o centro de Eidhoven destruído por explosões a alegria da libertação foi refreada com brutalidade sendo que em muitos pontos os Aliados foram obrigados a recuar.
“Quando os incêndios chegaram às munições das armas portáteis e obuses parecia que tinha começado uma grande batalha. O capitão John Profumo, segundo-comandante do Esquadrão A, organizou grupos de trabalho entre os civis para limpar os destroços e permitir a passagem de colunas militares”, escreve Beevor referindo-se ao futuro ministro da Guerra da Grã-Bretanha, protagonista de um dos maiores escândalos da Guerra Fria, em 1961.
Para o historiador, o fracasso da operação “Market Garden” foi mau para o moral britânico. Mas, para os holandeses, as consequências afetaram toda a população, e não apenas as 180 mil pessoas forçadas a sair das suas casas na margem norte do Neder Rijn.
Em Nijmegen, “que tanto sofrera com o bombardeamento e o atear de incêndios pelos alemães”, estima-se que tenham morrido 2200 civis, 5500 tenham ficado inválidos e 10 mil feridos.
Cerca de 22 mil casas ficaram totalmente ou parcialmente destruídas e apenas quatro mil intactas e a população submetida a uma dramática falta de alimentos durante um inverno com temperaturas extremamente baixas.
“A reconstrução de Arnhem só ficou totalmente concluída em 1969”.
"Arnhem, a Batalha pelas Pontes - 1944" de Antony Beevor (Bertrand Editora) inclui fotografias e mapas e é lançado em Portugal na sexta-feira.
Comentários