Querida leitora, querido leitor,
Este livro é a concretização de um trabalho de investigação de mais de 3 anos, realizado com a ajuda de 20 especialistas.
O seu objetivo é apenas um: dar-vos os elementos necessários para refletir sobre a questão da existência de um deus criador, uma questão que se põe hoje em termos completamente novos.
O nosso desejo é que no final desta demanda possam ter em mãos todos os elementos que vos permitam decidir o que vos parecer mais razoável crer, em plena liberdade e de forma esclarecida.
O que aqui deixamos são factos, nada mais do que factos. Este trabalho conduz a conclusões que contribuirão, assim esperamos, para a abertura de um debate fundamental.
Análise das seis hipóteses possíveis
Para explicar o que se passou no dia 13 de outubro de 1917, o campo das hipóteses é muito reduzido, já que não inclui mais de seis propostas.
1. Não se passou nada, é uma lenda
Esta hipótese, que nunca foi defendida por ninguém, é invalidade pela abundância de testemunhos e fotos.
2. Foi um fenómeno natural; o que houve efetivamente nesse dia foi um abalo do sistema solar que provocou eventos cósmicos.
Esta hipótese é afastada por observações científicas.
Na quinta-feira, 13 de outubro, um jornalista do diário O Século publica na página 2 um artigo em que interroga o responsável do observatório de astronomia de Lisboa, Augusto Frederico Oom, que declara que «se tivesse havido um fenómeno cósmico nessa data, […] não teria deixado de ser registado».
Mais exatamente, o observatório de Lisboa comunica que não registou qualquer fenómeno anormal a 13 de outubro, apenas uma ligeira perturbação vinda de oeste.
O bispo de Leiria escreve: «Este fenómeno, que nenhum observatório astronómico registou, e que, consequentemente, não era natural, houve pessoas de todas as condições e de todas as classes sociais que o viram com os dois olhos… mesmo pessoas que se encontravam a quilómetros de distância, o que destrói qualquer explicação por ilusão coletiva…»
Com efeito, recordemos, o fenómeno foi observado por numerosas testemunhas até a uma distância de trinta e quatro quilómetros.
No estrangeiro, nenhum observatório internacional constatou qualquer alteração no movimento do Sol.
3. Foi um fenómeno meteorológico excecional
Esta hipótese cai pela base devido ao facto incontestável do anúncio do acontecimento com três meses de antecedência. Três crianças – iletradas – seriam capazes de indicar rigorosamente a data, o dia e a hora de um tal fenómeno? E ainda que um acontecimento meteorológico excecional pudesse ser responsável por um tal espetáculo, a sua previsão três meses antes é completamente impossível. Acresce que sabemos, hoje em dia, que é impossível fazer previsões meteorológicas a mais de 15 dias.
A hipótese do fenómeno meteorológico foi, no entanto, defendida pelo doutor em matemáticas português Diogo Pacheco de Amorim. Supõe este que o «milagre do Sol» poderia estar ligado às nuvens, cujos cristais de gelo de alta altitude podem decompor a luz em diversas cores, como no caso dos arco-íris. Amorim calcula que «lentes de ar» (de composição ou temperaturas diferentes) poderiam ter perturbado a difusão da luz, e modificado a perceção do diâmetro aparente do Sol, ou até explicar as alterações de cor. Reconhece, porém, que «não conseguimos dar explicação a um fenómeno tão complexo e misterioso, mas apenas compará-lo ou decompô-lo em elementos comparáveis a fenómenos conhecidos». Todavia, ainda que pudesse explicar em parte os fenómenos luminosos, a teoria não traz qualquer explicação para os movimentos desordenados do Sol.
Um outro físico, Stanley Jaki, imaginou que o acontecimento poderia ser uma manifestação meteorológica: «O que parece ter-se passado, é que as nuvens transparentes ao velarem o Sol tenham formado uma enorme lente natural», supunha ele. Mas também aqui, uma lente não cria a impressão de um Sol a dançar e a tombar para a terra, como as testemunhas viram. Acresce que os fenómenos que Jaki descreve nunca aconteceram em parte alguma.
4. Não se passou nada, foi uma alucinação coletiva
Esta hipótese é excluída pela simples razão de que as «alucinações coletivas» por grandes multidões não existem. Elas só podem ocorrer em grupos muito restritos, mas este tipo de fenómeno nunca ocorre com milhares de pessoas, e está totalmente excluído num contexto de trinta a sessenta mil pessoas.
A alucinação é um fenómeno que foi objeto de estudos sérios, por exemplo, por Henri Ey, que a descreve no seu Traité des hallucinations, ou na Encyclopédie de psychiatrie584. Trata-se de uma perceção sem objeto, assente numa experiência psicológica interior que conduz o sujeito a comportar-se como se experimentasse uma sensação ou perceção reais, quando não existe elemento objetivo exterior que justifique essa sensação ou perceção.
As alucinações podem ser das mais diversas ordens (visuais, auditivas, táteis ou psíquicas), mas traduzem sempre uma perturbação do cérebro da pessoa. Ocorrem sistematicamente num contexto de desequilíbrio ou desestruturação da personalidade, são geralmente acompanhadas de problemas vários de comportamento (agitação, angústia flutuante, comportamentos deslocados, etc.). É essa a razão por que verdadeiras «alucinações coletivas» são a priori medicamente e logicamente impossíveis, pois suporiam que as mesmas perturbações ocorressem de forma idêntica e simultânea em cérebros diferentes, na falta de qualquer causa exterior objetiva.
Não devemos confundir estas condições com outros fenómenos de visões coletivas, que, essas, assentam em elementos exteriores objetivos:
• Não podemos compará-los com os fenómenos de óvnis, ou seja, de visões de fenómenos celestes invulgares (tipo Lubbock, Washington), por vezes com fotos ou elementos materiais objetivos, como ecos de radar.
• Não podemos compará-los, também, a ilusões mágicas, que se explicam pelos truques utilizados.
• Não podemos, ainda, assemelhá-los a miragens avistadas no horizonte, que se explicam por condições atmosféricas particulares
Em primeiro lugar, o conceito de alucinação coletiva não é aceite em psiquiatria, em neurologia, em psicanálise ou em psicologia clínica. Não existe sobre o tema nem estudo, nem tese, nem experimentação. Os cientistas nunca constataram alucinações coletivas em multidões.
Em segundo lugar, as «psicoses coletivas» ou «contágios afetivos», verificados sempre em grupos pequenos, são suscitados na maior parte das vezes pelo medo, numa situação tensa e angustiante, em geral à noite, mas nunca em pleno dia, ao meio-dia, numa planície como a da Cova da Iria, onde as fotografias tiradas antes e durante o milagre não denotam sinal algum de transe ou excitação particulares.
Em terceiro lugar, teria sido necessário que o grupo das vítimas da alucinação partilhassem as mesmas emoções e que um processo de sugestão suficientemente forte pudesse transmitir-se entre os seus membros, o que é completamente impossível no caso de milhares de pessoas diferentes, que poderiam ser crentes ou estar animadas por sentimentos de indiferença, senão de franca hostilidade perante a religião. É ainda menos possível quando algumas delas viram o fenómeno à distância, a vários quilómetros de Fátima, sem sequer terem sido prevenidas do milagre que iria acontecer.
Estão registados como exemplos de «psicoses coletivas»:
O caso dito do «pão maldito»: na noite de 24 para 25 de agosto de 1951, a pequena povoação de Pont-Saint-Esprit, no Gard, viveu cenas de loucura coletiva extremamente violentas, devidas a uma intoxicação com cravagem de centeio, princípio ativo do LSD. Mas a causa está bem identificada e as visões das várias vítimas divergem muito.
O caso do «fantasma do cozinheiro»: em 1897, Edmund Parish relatou que todos os seus colegas marinheiros tinham visto, em conjunto, o fantasma do cozinheiro, morto alguns dias antes. Os marinheiros não só tinham avistado o cozinheiro, como o tinham visto caminhar sobre a água com a sua claudicação caraterística. Veio a ver-se que o fantasma não passava de «destroços, movidos para cima e para baixo pelas vagas». Também aí, a causa foi claramente identificada.
Em ambos estes casos há um tema e uma explicação. Estamos bem longe dos acontecimentos de Fátima, previstos com três meses de antecedência.
O que, tudo junto, nos leva a concluir que a alucinação coletiva não é uma explicação possível pata os acontecimentos de 13 de outubro de 1917 em Fátima.
5. Foi um embuste
É a única hipótese compatível com o facto de o prodígio ter sido anunciado antecipadamente, e de nesse dia não ter havido nenhum fenómeno natural que o explicasse. O embuste é, aliás, a hipótese mais frequentemente citada pelos jornais anticlericais.
Mas esta tese não resiste à análise. Uma tal encenação seria, de facto, impossível de realizar em pleno céu. Todas as fotos e todos os testemunhos coincidem: passou-se qualquer coisa no meio do céu, no zénite do Sol, num momento em que o céu voltara a estar
limpo e luminoso! Ora, esse é exatamente o único sítio onde é impossível organizar um embuste.
Sabemos, além disso, que o fenómeno foi visto a trinta e quatro quilómetros de distância por Afonso Lopes Vieira. Ora, a essa distância, um objeto situado a uma elevação de 30 graus de ângulo está a 19 quilómetros de altitude! Não se vê como é que por manipulação humana se conseguiria criar uma ilusão a uma tal altitude em 1917…
Acresce que, em caso de mistificação, os autores teriam dado início ao espetáculo ao meio-dia, e não às 13h21, por serem provavelmente ignorantes das subtilezas do meio-dia solar.
Observemos ainda que trinta mil pessoas, pelo menos, assistiram ao prodígio, entre elas muitos curiosos e não crentes. Que truques poderiam ter sido inventados para enganar tanta gente? Essa impossibilidade é tão evidente que ninguém alguma vez apresentou a menor hipótese que tentasse explicar todas as peças da encenação do espetáculo.
Acrescentemos a estas razões de circunstância que todas elas militam contra o embuste, o seguinte: as crianças iletradas, uma aldeia muito pobre, as autoridades muito hostis, o facto de, ao longo de décadas subsequentes, ninguém ter dado qualquer testemunho de embuste, e o facto de as três principais testemunhas nunca terem mudado o seu relato. Consegue-se imaginar Lúcia a aceitar passar oitenta anos num convento para cobrir uma mentira? Pior ainda, de continuar a enganar até o Papa oitenta anos mais tarde?
6. Foi um milagre
O campo das hipóteses está substancialmente reduzido, e esta é, portanto, a única possibilidade que resta. As circunstâncias deste milagre correspondem exatamente às que poderíamos imaginar para um tal evento:
• um prodígio inexplicável,
• anunciado antecipadamente,
• por crianças incultas,
• visto por uma multidão enorme,
• no meio da hostilidade dos poderes instituídos,
• tendo por objetivo suscitar a fé.
Esta possibilidade, a única que resta, só exige uma coisa: a existência de Deus. O leitor que nos terá acompanhado até aqui há de convir que essa condição única não é uma hipótese irracional, muito pelo contrário.
No nosso panorama de provas da existência de Deus este capítulo sobre Fátima nada tinha de passagem pitoresca e exótica pelo folclore religioso. O acontecimento ocorrido nessa pequena aldeia portuguesa é único e sem precedente! São coisas nunca vistas: o anúncio com antecedência de um fenómeno prodigioso e inexplicável no céu, visível por todos, e que se dá realmente no local indicado à hora anunciada.
Em Fátima tudo teve lugar à luz do dia, tanto no sentido literal como no sentido figurado: o país inteiro foi alertado para o prodígio que iria acontecer, os factos ocorreram a meio do dia perante milhares de testemunhas, e era impossível qualquer embuste. Tendo em conta o contexto político e ideológico do acontecimento, qualquer outra hipótese explicativa parece racionalmente impossível: eis por que razão o poder de convicção do milagre de Fátima é atualmente tão forte para nós como foi para as testemunhas da época.
Esse milagre ocorreu para que as pessoas cressem. Não subsiste nenhuma zona de sombra em relação a esse 13 de outubro excecional. Tudo ficou exposto em plena luz do dia e foi explicado em pormenor. O Sol não cegou os olhos dos que o viram dançar. Da mesma forma, pondo de lado toda a cegueira, a luz de Fátima pode permitir a cada leitor fazer uma escolha lúcida e esclarecida.
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