Em declarações à Lusa, Luís Tinoco realçou a qualidade de gravação de “Archipelago”, editado pela norte-americana Odradek, que apresenta composições suas interpretadas pelo Drumming e pelo Quarteto de Matosinhos, referindo que captou a sonoridade do espaço onde foi gravado.

O álbum foi gravado no claustro do Mosteiro de S. Bento da Vitória, no Porto, que “tem uma acústica muito bonita”, explicou à Lusa o compositor.

“A ideia de gravar com a noção de espacialização é inédita. Penso que a gravação de um CD em Portugal com estas características […] será inédita no contexto nacional”, afirmou.

A apresentação do disco vai acontecer na quinta-feira às 21:30, na Lx Factory, onde será instalada um caixa que permite a entrada do público para fazer uma escuta panorâmica.

“Uma experiência que vai ao encontro da ideia aquática que a música transmite, a de espacialização”, acrescentou Luís Tinoco.

O disco inclui as peças “Short Cuts”, “Mind the Gap”, “Genetical Modified Fados/Fados Geneticamente modificados”, “Zoom In — Zoom out”, “Archipelago” e “Steel Factory”.

A relação de Tinoco com o Drumming data de 2003. O compositor salientou ainda “a espacialidade” do próprio ensemble, que “é muito visual e coreográfico”, para o qual escreveu algumas das peças.

O álbum reúne várias peças para percussão, algumas compostas para outros músicos, como “Mind the Gap”, peça inspirada na cidade Londres e dedicada ao percussionista Pedro Carneiro.

A peça “Genetical Modified Fados” corresponde a um desafio do Drumming, tendo o compositor recorrido ao arquivo sonoro do Museu do Fado.

Uma peça que qualificou como “nostálgica”, dada a necessidade de ter uma voz e umas guitarras que “melhor exemplificassem o fado”.

Sobre a composição de Tinoco, o percussionista Miquel Bernat, num texto que acompanha o disco, faz notar que “emerge de um oceano de sons que enquadra o seu mundo criativo” e refere experiência radiofónica do compositor.

“Eu não tenho tido qualquer hesitação ou preocupação em ir buscar fontes [musicais], até fora da minha área musical de formação”, reconheceu Luís Tinoco, referindo que “este processo pode ser até muito desafiante”.

Quanto ao título escolhido, “Archipelago”, corresponde “por um lado à peça mais recente incluída no CD, que data deste ano, mas também porque o CD tem algumas faixas muito rítmicas e movimentadas, eu queria que o disco tivesse um lado mais tático, para fazer o contrapeso”.

A peça “Archipelago” para vibrafone e tubos ‘wah-wah’ é, em si, “uma espécie de arquipélago”, disse Tinoco, referindo que “o vibrafone é um instrumento muito aquático, com sonoridades muito líquidas” ao qual juntou “uns tubos afinados que têm uns sons muito ressoantes”.

“Estas peças constituem uma espécie de arquipélago de momentos musicais que tenho vindo a juntar ao longo dos anos”, disse o compositor.

O compositor Luís Tinoco foi distinguido este ano com o Prémio de Composição DSCH–Schostakovich Ensemble, na sua primeira edição, sendo “reconhecido nacional e internacionalmente como um dos compositores portugueses mais relevantes da atualidade”, divulgou a entidade promotora.

Em junho do ano passado, o compositor editou um disco com obras orquestrais, “The Blue Voice of the Water”, no qual incluiu as obras “Before Spring”, “O Sotaque Azul das Águas”, “Frisland” e o Concerto para Violoncelo, que o compositor dedicou ao violoncelista Filipe Quaresma, que participou na gravação.

Luís Tinoco tem frequentemente visto as suas obras serem estreadas além-fronteiras, por orquestras internacionais. Em 2014, “FrisLand” foi estreada pela Sinfónica de Seattle, num concerto dirigido pelo maestro francês Ludovic Morlot.

Luís Tinoco é professor da Escola Superior de Música de Lisboa, diretor artístico do Prémio Jovens Músicos e, desde 2005, a sua música é publicada no Reino Unido pela University of York Music Press.