Para o autor, “a guitarra portuguesa é um instrumento de cordas tradicional português, identificável em qualquer parte do mundo pela sua sonoridade inconfundível”, cuja origem “remonta aos fins do século XVIII, resultado da fusão entre a cítara da Europa Ocidental e a guitarra inglesa”.
Samuel Lopes sublinha que, “apesar de ser o instrumento de eleição no acompanhamento do fado”, é “um instrumento de concerto com repertório próprio”.
Construída “com madeiras e materiais nobres”, a guitarra tem 12 cordas de aço “dispostas sem seis pares ou ordens, o cavalete em osso, a caixa-de-ressonância redonda, o pequeno braço com a voluta ornamentada e a cravelha em forma de leque, os embutidos de madrepérola ou os ornamentos na própria madeira”.
Sendo esta a descrição geral da guitarra portuguesa, defende o autor a existência de três tipologias: a do Porto, a de Lisboa e a de Coimbra, sendo “atualmente as mais utilizadas as de Lisboa e Coimbra”.
Visualmente, distinguem-se as tipologias pela voluta, a de Lisboa em forma de caracol e a de Coimbra em forma de lágrima. Quanto ao corpo a de Coimbra tem a forma de uma pera e a de Lisboa de uma tangerina, entre outras distinções, como a espessura das cordas e a afinação.
“A guitarra do Porto praticamente caiu em desuso atendendo às pequenas dimensões do corpo”, explica o autor. A portuense é “muito semelhante à sua congénere de Lisboa”, mas a “voluta com terminação em forma humana, de animais ou flores”.
O livro, bilingue (português e inglês), é editado pela Seven Muses, com apoio da Direção-Geral das Artes, e dedica capítulos à construção da guitarra portuguesa e à sua evolução histórica, referindo que o mais antigo livro sobre o instrumento data de 1796, de autoria do mestre de capela António Silva Leite.
Silva Leite apontou como origem da guitarra portuguesa a Inglaterra, opinião partilhada por Carlos Paredes, segundo quem a guitarra tem origens na cítola, da Idade Média, anterior ao cistro.
Opinião contrária têm António Portugal, Pedro Caldeira Cabral e Doc Rossi que apontam a origem da guitarra portuguesa nos finais do século XVIII, fruto da cisão ente o cistro europeu e a guitarra inglesa, que chegou a Portugal entrando pelo Porto.
Quanto à construção de cordofones, em Portugal há registos desde o século XV. Contudo, a construção da guitarra “é um dos segredos mais bem guardados, um saber que é passado de pai para filho”.
Neste capítulo, destaca-se a oficina de Gilberto Grácio, que morreu em novembro do ano passado. Grácio liderou uma escola e era o último de uma dinastia de construtores iniciada pelo seu avô.
Há ainda referências a construtores como Fernando Silva, ‘Fanan’ (1949-2018), “autor dos mais famosos leques para guitarra portuguesa”, Fernando Meireles, que mantém a sua oficina há mais de 30 anos, e Óscar Cardoso, com mais de 40 anos de experiência e que segue a tradição do seu pai Manuel Cardoso, que aprendeu o ofício com Álvaro Marceano da Silveira, também conhecido por Álvaro Ilhéu, por ter nascido na ilha da Madeira, em 1883.
O livro é acompanhado de dois CD com gravações de guitarradas de alguns nomes de referência.
Um dos discos conta 20 instrumentais referentes ao século XX, por nomes como Domingos Camareira, José Nunes, Armandinho, Casimiro Ramos, Jorge Fontes, Carlos Paredes ou o Conjunto de Guitarras de Raul Nery. O outro — de 20 gravações também — inclui intérpretes do atual século, entre eles Custódio Castelo, Bernardo Couto, Mariana Martins, Bruno Chaveiro, Fernando Silva, Bruno Mira, Arménio de Melo ou Sérgio Costa.
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