Livros: Uma Barragem Contra o Pacífico, O Amante, A Tia Júlia e o Escrevedor, Os Interessantes, A Pátria, O Papagaio de Flaubert, A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te, Obra Poética
Convidada: Maria do Rosário Pedreira, escritora e editora
Moderadores: Elisa Baltazar e João Dinis, promotores do "É Desta Que Leio Isto"
Data: 21 de dezembro de 2020
Ouça aqui a conversa com Maria do Rosário Pedreira
Se não teve oportunidade de estar presente na sessão que decorreu no dia 21 de dezembro pode encontrar o resumo neste artigo e/ouvir o áudio acima. A conversa focou-se nos livros para oferecer no Natal, sendo que pode ler o resumo de cada um deles aqui. Mas, como as conversas são mesmo como as cerejas, falou-se ainda da literacia dos portugueses, de séries e filmes e dos projetos futuros de Maria do Rosário Pedreira.
Sobre a convidada – Maria do Rosário Pedreira:
- Nasceu em Lisboa, em 1959.
- É escritora, poetisa, editora e letrista.
- Tem um blog onde escreve diariamente sobre literatura, o Horas Extraordinárias.
- É Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante em Estudos Franceses e Ingleses.
- Tornou-se editora em 1987, na área dos livros de divulgação científica.
- Autora das coleções de livros infantojuvenis Clube das Chaves e Detetive Maravilhas.
- Para além dos livros para jovens, escreve também ficção, poesia, crónicas e letras de músicas.
- Já escreveu músicas para cantores como Carlos do Carmo, António Zambujo, Aldina Duarte, Ana Moura e Salvador Sobral.
Sobre os livros:
Uma Barragem Contra o Pacífico e O Amante, de Marguerite Duras
- Estes dois livros da mesma autora, são obras que, segundo Maria do Rosário Pedreira, se complementam.
- A Barragem Contra o Pacífico fala sobre uma mãe viúva que muda de ambiente e atravessa dificuldades financeiras. A protagonista sente, em simultâneo, amor e ódio pelos filhos.
- O Amante conta a história de uma adolescente caucasiana que se apaixona por um milionário chinês. Nas palavras de Maria do Rosário Pedreira "este é um livro sobre essa contradição, um amor que é uma coisa verdadeira, mas que nunca parece ser uma coisa verdadeira".
- A escritora considera que Marguerite Duras é "uma autora que escreve de maneira diferente" por "não precisar de contar histórias para ter um livro genial".
- Maria do Rosário Pedreira considera que Duras é "capaz de escrever sobre a maldade de uma maneira linda de morrer". Logo, estes são "dois livros interessantes" com "uma maneira fantástica de ser mau".
A Tia Júlia e o Escrevedor, de Mario Vargas Llosa
- Este é um dos romances do escritor peruano laureado com o Prémio Nobel da Literatura em 2010.
- É um livro autobiográfico, que conta a história de um jovem que se apaixona pela tia, que tem quase o dobro da sua idade, e com quem acaba por casar.
- Paralelamente, é contada também a história de um escritor de rádio novelas, que começa a misturar enredos por estar sobrecarregado. Os crescendos narrativos das duas histórias acompanham-se.
- Este é o livro que fez Maria do Rosário Pedreira "apanhar um escaldão na praia", ou seja, a escritora dá a entender que é um livro cativante.
- A editora da Leya afirma que este é um "livro com muito, muito humor" e "uma boa introdução" a Vargas Llosa. Isto é: não será o melhor livro do autor, mas é um bom primeiro livro.
Os Interessantes, de Meg Wolitzer
- O livro acompanha a vida de um grupo de pessoas, que se conhece ainda quando todos são adolescentes num campo de férias nos anos 60. E retrata a geração nova-iorquina mais abastada, desde esse período até à queda das Torres Gémeas.
- Segundo Maria do Rosário Pedreira, este é "um calhamaço que se lê num virote".
- A escritora afirma que este livro "não é americano", mas sim "universal" e é uma "grande lição sobre a luta de classes".
- "Temos a mania de que a América é o país das oportunidades", acrescenta, referindo que isso nem sempre acontece.
- Maria do Rosário Pedreira refere ainda que "quem gosta da amiga genial", de Elena Ferrante, "também gosta deste livro".
A Pátria, de Fernando Aramburu
- Esta obra tornou-se uma das mais vendidas quando estreou a série com o mesmo nome na HBO. De qualquer forma, antes disso já seria considerado um dos livros mais impressionantes de literatura espanhola.
- O livro fala sobre um grupo de pessoas que lidam com os seus conflitos pessoais, motivados pelas cisões causadas pela ETA no País Basco.
- Maria do Rosário Pedreira refere-se a esta obra como "um livraço". A autora afirma que estava a par dos conflitos causados pela ETA, mas confessa que o livro lhe deu luzes sobre muitas coisas que desconhecia.
- A escritora considera esta obra um bom retrato do que "foi viver com essa ameaça constante [da ETA]" e ter de se praticar atos como "matar uma pessoa de quem já se foi amigo".
O Papagaio de Flaubert, de Julian Barnes, e A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te, de Rosa Montero
- O Papagaio de Flaubert fala sobre um médico reformado que parte numa viagem com o único objetivo de ver o papagaio embalsamado aclamado escritor Gustave Flaubert.
- A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te é uma obra inspirada nos diários da cientista Marie Curie depois de perder o marido.
- Maria do Rosário Pedreira considera que estas obras se complementam, no sentido que falam do sentimento de perda e de que, falando de uma coisa, falam de outra: a viuvez.
- O livro de Barnes apoia-se em Flaubert para falar da mulher do autor, que morreu. E o livro de Montero parte da história de Marie Curie, mas descreve o marido da autora, que também faleceu.
- No entanto, Maria do Rosário Pedreira deixa a nota de que estes livros "não têm choraminguices".
Obra Poética, de David Mourão Ferreira
- Esta edição engloba todos os livros e poemas do escritor, visto como um dos maiores poetas portugueses do século XX, que ficou conhecido depois de poemas da sua autoria serem cantados por Amália Rodrigues, tais como Barco Negro, Sombra, Maria Lisboa, Anda o Sol na Minha Rua, Fado Peniche, entre outros.
- Maria do Rosário Pedreira considera que David Morão Ferreira é "esquecido injustamente".
- Diz que o autor "constrói muito bem e é muito claro e muito luminoso", contrariamente a algumas "poesias que entram na moda", que "são boas, mas temos de ler 20 vezes cada poema" para o entender.
Outros livros de que falámos nesta sessão:
- Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa
- A Amiga Genial, de Elena Ferrante
- O Paciente Inglês, de Michael Ondaatje
- A Solidão dos Números Primos, de Paolo Giordano
- A Queda de Um Anjo, de Camilo Castelo Branco
- Atos Humanos, de Han Kang
- O Nervo Ótico, de María Gainza
- Nemesis, de Philip Roth
- Sempre o Diabo, de Donald Ray Pollock
- O Pendura, de Jules Renard
- A Peste, de Albert Camus
- O Retorno, de Dulce Maria Cardoso
- Caderno de Memórias Coloniais, Isabela Figueiredo
- Livros de José Saramago
- Livros de Italo Calvino
- Livros de Primo Levi
- Obras do poeta e dramaturgo Gil Vicente
- Livro para crianças: O Meu Avô, de Catarina Sobral
- Livros para adolescentes: Irmão Lobo, de Carla Maia de Almeida, e Não Te Afastes, de David Machado
- Lista de 40 livros recomendados pela escritora italiana Elena Ferrante, publicada no jornal britânico The Guardian
Algumas notas finais de Maria do Rosário Pedreira:
- A literacia dos portugueses: Lamenta que em Portugal haja pouco apreço pela leitura, seja "por motivos históricos", ou devido à "revolução digital". Mas relembra que as pessoas que gostam de ler fazem-no porque leem um livro que lhes dá um "clique". Por isso, defende a escritora, é importante que se procure um livro adequado.
- As adaptações para televisão: A editora de livros afirma que "acontece muitas vezes um livro muito bom ter um filme muito mau", tal como A Solidão dos Números Primos, e defende que geralmente "os livros são melhores porque há uma parte pensante". Como exemplo, fala do livro O Paciente Inglês, que "tem páginas brutais de solidão de um homem do deserto" que não estarão devidamente retratadas no filme. Quanto à série Pátria, da HBO, que adaptou um dos livros falados nesta sessão, considera um trabalho bem conseguido e considera positivo o uso de atores bascos e que falam basco.
- Novos lançamentos: Vai publicar um novo livro escrito por si em fevereiro. Descreve-o como conjunto de crónicas que foi escrevendo ao longo do ano sobre "alguns episódios do presente que indiciam os perigos do futuro".
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