O Grande Prémio de Literatura Crónica e Dispersos Literários APE/Câmara Municipal de Loulé foi atribuído por unanimidade do júri, constituído por Cândido Oliveira Martins, Carlos Albino Guerreiro e Paula Mendes Coelho.

O júri justificou a escolha deste livro de Mário de Carvalho, “O que eu ouvi na barrica das maçãs”, editado pela Porto Editora, por estabelecer a “plena conjugação com a linha característica do género da crónica na tradição literária portuguesa”, o que o fez destacar-se entre o “conjunto das obras apresentadas a concurso”.

“Outras obras a concurso são igualmente de grande mérito mas estão fora dos parâmetros regulamentares do prémio ou fora das características dos géneros em consideração”, acrescentou o júri.

O Grande Prémio de Crónica e Dispersos Literários, instituído pela APE, com o patrocínio da Câmara Municipal de Loulé, destina-se a galardoar anualmente uma obra em português, de autor português, publicada em livro e em primeira edição em Portugal, no ano de 2019.

O valor monetário deste galardão para o autor distinguido é de 12 mil euros. A cerimónia de entrega do prémio será anunciada oportunamente.

Em edições anteriores, este prémio já distinguiu os autores José Tolentino Mendonça, Rui Cardoso Martins, Mário Cláudio e Pedro Mexia.

"O que eu ouvi na barrica das maçãs" reúne algumas crónicas do escritor, escolhidas e agrupadas em quatro atos, que testemunham um largo campo de assuntos, abordagens, dimensões e estilos, através de eras e lugares.

O título é retirado de "A Ilha do Tesouro", de Robert Louis Stevenson, e servira já para titular a rubrica quinzenal de crónicas do escritor, no jornal Público, uma das fontes de alguns dos textos que compõem o livro.

Além das crónicas que escreveu entre 1992 e 1993 e, mais tarde, em 1996, neste diário, outra fonte foi o lote de crónicas mensais que manteve entre 1987 e 1989, no Jornal de Letras, Artes & Ideias (JL), sob o título "Eu diria que…".

Com o intuito de criar uma coerência narrativa, o editor optou por agrupar as diferentes crónicas em quatro atos, "representando quatro facetas do escritor: o ficcionista, o cidadão, o comunicador e o memorialista".

Sobre as crónicas incluídas nesta obra, o jornalista Francisco Bélard, que assina o prefácio, realça que nelas coexistem "o erudito e o vernáculo com os plebeísmos, tal como os refúgios culturais não isolam [Mário de Carvalho] das conversas de táxi".

Nascido em Lisboa em 1944 e licenciado em Direito, Mário de Carvalho é um dos sobreviventes antifascistas que estiveram presos na cadeia política da Fortaleza de Peniche.

Mário de Carvalho cumpria o serviço militar quando foi preso: sujeito a 11 dias de tortura do sono durante um interrogatório pelas ligações ao PCP e pela luta antifascista, o escritor acabou condenado a dois anos de prisão.

Após ter cumprido a maior parte da pena, já em liberdade condicional, fugiu e exilou-se na Suécia, onde ficou até ao 25 de Abril de 1974.

Apesar de ter lido muito durante o tempo em que esteve preso, foi só depois da Revolução dos Cravos que o gosto pela literatura o fez pender para a escrita.

Já em Lisboa, onde começou a exercer advocacia, escreveu o primeiro livro, “Contos da Sétima Esfera”, que causou surpresa pelo inesperado da abordagem ficcional e pela peculiar atmosfera, entre o maravilhoso e o fantástico.

Desde então, tem praticado diversos géneros literários – romance, novela, conto, ensaio e teatro –, percorrendo várias épocas e ambientes, sempre em edições sucessivas.

Mário de Carvalho utiliza uma multiforme mudança de registos, que tanto pode moldar uma narrativa histórica como um romance de atualidade; um tema dolente e sombrio como uma sátira viva e certeira; uma escrita cadenciada e medida como a pulsão duma prosa endiabrada e surpreendente, descreve a APE.

Nas diversas modalidades de Romance, Conto e Teatro, foram atribuídos a Mário de Carvalho os prémios literários portugueses mais prestigiados, designadamente os Grandes Prémios de Romance, Conto e Teatro da APE, o prémio do Pen Clube e o prémio internacional Pégaso.

Autor de mais de 30 títulos dotados de grande versatilidade, de que são exemplo obras como “Os Alferes”, “A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho”, “Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde”, “O Varandim seguido de Ocaso em Carvangel”, “A Liberdade de Pátio”, “Ronda das Mil Belas em Frol”, "Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina", "Casos do Beco das Sardinheiras", "Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto", "Quem disser o contrário é porque tem razão", "Quando o Diabo Reza", "Burgueses somos nós todos ou ainda menos", os seus livros encontram-se traduzidos em várias línguas.

Entre as suas obras encontra-se "O Homem que Engoliu a Lua", que escreveu para leitores mais novos.

Em março, pouco antes da declaração do estado de emergência, por causa da pandemia de covid-19, a Porto Editora anunciou a publicação de um novo livro de contos de Mário de Carvalho, “Epítome de Pecados e Tentações”.