Álvaro Fidalgo, provedor da Santa Casa da Misericórdia da Lourinhã, no distrito de Lisboa, afirmou à agência Lusa que a instituição vai em janeiro pedir orçamentos a vários empreiteiros e quer até março iniciar as obras, orçadas em 300 mil euros.
“Vamos intervir em algumas zonas da Igreja da Misericórdia da Lourinhã, como a Sala do Despacho, onde estão os quadros, e no espaço das consultas programadas do antigo centro de saúde, para aí criar uma sala de exposição para as pinturas do Mestre da Lourinhã, outra para as de Lourenço de Salzedo, outra para receber exposições temporárias e ainda uma loja”, explicou.
Segundo o responsável, as obras deverão terminar até ao final deste ano e vão permitir criar condições para expor ao público as pinturas quinhentistas, que estão fechadas há mais de oito anos, sendo visitáveis mediante a disponibilidade prévia dos dirigentes da Santa Casa da Misericórdia ou quando integram exposições internacionais.
A intervenção é financiada em 165 mil euros pelo Fundo Rainha D. Leonor e em 80 mil euros pelo município, com quem a instituição estabeleceu, na quinta-feira, um protocolo.
Durante o decorrer das obras, as pinturas vão ser transferidas para a sacristia da igreja, por ter condições de temperatura e de humidade semelhantes às da Sala do Despacho, indispensáveis à sua salvaguarda.
As pinturas a óleo sobre madeira "São João Baptista no Deserto" e "São João Evangelista em Patmos", do Mestre da Lourinhã, "São Jerónimo" e "Imaculada Conceição", de Lourenço de Salzedo, e "Santas Mães", "Santo André" e "São Tiago", de autor de desconhecido, todos do século XVI, estão desde meados do século XIX na Igreja da Misericórdia da Lourinhã.
Segundo os especialistas, por não existir controlo da humidade e da temperatura, as condições na igreja não são as ideais para a preservação das obras, algumas das quais a necessitar de restauro.
Proprietária das obras, a Santa Casa da Misericórdia, por dificuldades financeiras, procura há pelo menos 15 anos uma solução que venha a melhorar as condições de exposição e de visitação, em conjunto com a Câmara Municipal.
O Mestre da Lourinhã, cuja identidade não foi ainda possível determinar, mas que se presume poder associar-se ao também iluminador Álvaro Pires, foi um pintor que trabalhou na primeira metade do século XVI e que revela influências da "escola ganto-brugense" e, por essa via, de pintores flamengos.
Trabalhou para D. Manuel I e para outros mecenas, por isso existem pinturas suas em diversas instituições do país, como o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, e a Sé do Funchal, na Madeira, cujo retábulo tem a sua coautoria.
Lourenço de Salzedo, pintor de origem espanhola, viveu em Portugal na segunda metade do século XVI e, entre várias pinturas, é autor do retábulo da capela-mor do Mosteiro dos Jerónimos, feito por encomenda de D. Catarina, viúva de D. João III.
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