Ao longo do molhe junto à Praia do Cabedelo, ia-se formando uma pequena multidão a olhar expectante para o mar, quando, de repente, fez-se luz e dezenas de holofotes iluminaram as ondas, numa noite escura de Lua nova.
Com a luz a incidir sobre o mar, vários surfistas que participam no festival ‘Gliding Barnacles’ (que decorre naquela praia e que junta arte e surf) e seguiram para o mar com as suas pranchas ‘longboard’, numa altura de maré baixa, para estrear uma experiência que vai ganhar outra forma para o ano.
O dia era de teste (com uma estrutura temporária) de um projeto de iluminação que deverá estar pronto para o verão de 2020, incluído num investimento da Câmara Municipal para a Praia de Cabedelo, numa intervenção de 2,6 milhões de euros que incluirá a iluminação para a prática do surf à noite, para além de novos acessos ao local, parques de estacionamento e uma praça central.
“Foi algo difícil de apanhar as ondas, mas, ao mesmo tempo, foi entusiasmante e muito divertido”, contou à agência Lusa Sean Cusick, surfista dos Estados Unidos da América, que estava pela segunda vez na Figueira da Foz para participar no ‘Gliding Barnacles’.
Já tinha experimentado surfar em noites de Lua cheia e com um pequeno holofote apontado para as ondas, mas “assim com tanta luz, foi a primeira vez”.
“É incrível”, resumiu.
O mar, na sexta-feira, não ajudou. Com a rebentação mais longe da praia, os surfistas tiveram que entrar nas ondas numa zona pouco iluminada.
“Nós tivemos que entrar às cegas na onda”, contava aos jornalistas Miguel Figueira, surfista e arquiteto autor do projeto de iluminação para a prática do surf, feito a pedido do movimento SOS Cabedelo.
Com mais de 35 anos em cima da prancha e há dez com o sonho de ver as ondas daquela praia iluminadas à noite, Miguel Figueira frisou que era “um dia muito feliz”.
“Isto hoje foi muito experimental, até porque estas torres têm seis metros e as que vão ficar cá terão 16″, avisou.
No entanto, no mar, sentiu-se como o Mick Jagger, dos Rolling Stones, com os holofotes apontados e um molhe cheio de gente a ver. “Isto é como as bandas de rock”, brincou.
“Foi uma experiência única. Foi difícil, tivemos que andar às cegas, mas foi espetacular”, resumiu João Pereira, surfista da Ericeira, considerando que, com os devidos ajustes, será uma estrutura que pode potenciar a Praia do Cabedelo.
“Isto hoje é provar que se pode surfar à noite. Todas as outras atividades têm luz. O futebol tem luz, o ténis tem luz, o surf também vai passar a ter luz”, afirmou Eurico Gonçalves, do SOS Cabedelo, salientando que a iluminação vai permitir surfar no Inverno, em que há menos horas de luz solar, bem como permitir prolongar a prática durante o verão.
Depois deste “primeiro grande ensaio”, que se repete hoje à noite, Eurico espera que a estrutura definitiva esteja já pronta para o verão de 2020 e ajude a internacionalizar ainda mais a Praia do Cabedelo, realçando que não existe nenhuma estrutura destas na Europa, contabilizando apenas uma na Austrália e outra no Brasil.
A expectativa “é que o mundo venha visitar-nos e surfar à noite connosco”, vincou.
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