Esta é a história de um menino que sobe uma montanha para salvar uma flor, mas é muito mais do que isso: é também a história de 12 rapazes e raparigas com síndrome de Down que tiveram de se superar para chegar onde estão.
Ontem, como qualquer actor a uma hora da estreia, sentiam borboletas no estômago e rezavam para que a sala estivesse cheia e tudo desse certo. O resto dos dias sonham, como todos os miúdos da sua idade, em ser chamados para o papel principal da novela das nove da SIC ou da TVI.
"A Maior Flor do Mundo" é o resultado de quatro anos de trabalho intenso. É que estes jovens entre os 22 e os 26 anos de idade têm uma vida normal: estudam, fazem os seus cursos ou trabalham, uns na Starbucks, outros no Banco BIC, outros na Fundação Champalimaud. Mas todos tinham uma vontade comum: representar. Os pais, heróis desde a gestação, fizeram-lhes a vontade.
Primeiro, em 2014, constituíram a Associação Pais 21 – Down Portugal, que junta mais de 900 famílias, para mostrar que a Trissomia não é um bicho de sete cabeças. Depois juntaram-se à Act – Escola de Actores e, com a ajuda de Patrícia Vasconcelos, iniciaram um caminho que levou à criação da companhia Triacto.
O principal obstáculo? Por incrível que pareça, a mãe responsável pela área do Teatro, Carmo Teixeira, conta ao SAPO24 que o mais difícil foi "os pais aceitarem que os filhos estivessem com outras crianças com Trissomia 21". Pode parecer estranho, mas há uma explicação: estes miúdos fizeram um percurso normalíssimo, inserido no ensino regular, primeiro, e no mercado de trabalho, depois. Sempre com pessoas ditas normais.
"É muito interessante observar o percurso destes quatro anos, ver até que ponto os capacitou e os mudou, a confiança que lhes deu. O teatro, que foi para eles uma vontade própria, deu-lhes uma autoconfiança enorme. E agora querem sair, querem namorar, querem combinar programas entre eles", ri Carmo Teixeira.
Os desafios foram muitos e não se limitaram a decorar deixas. Carmo Teixeira conta que um dos rapazes nunca tinha andado de metro, mas para poder ir aos ensaios não tinha outra alternativa. "No início perdeu-se duas ou três vezes, mas depois passou a chegar direito que nem um fuso".
A Act, além dos professores de teatro, disponibilizou também psicólogos para estes jovens actores, "que sentem muito e têm muito para dizer", sabe Carmo Teixeira e sabem todos aqueles que se relacionam com pessoas com Trissomia 21. Ontem, estes doze jovens puderam dizê-lo, por palavras e por actos, no Fórum Picoas.
A sessão repete-se hoje, sexta-feira, às 19h00, e no sábado às 15 horas. Com uma inovação: os bilhetes não têm um preço fixo, cada pessoa deixa numa caixa fechada, à entrada, o valor que quiser e puder. Os donativos serão utilizados para apoiar companhia, que não teve qualquer financiamento público ou privado.
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