Para o curador da mostra, Robert Lubar Messeri, havia “um mandato duplo: primeiro mostrar toda a coleção” do Estado, que inclui 85 obras do artista espanhol, “e depois a Casa, e o trabalho magnífico de reabilitação de Siza”.
“Joan Miró. Signos e Figuração” é inaugurada hoje, com a presença do primeiro-ministro, António Costa, e da ministra da Cultura, Graça Fonseca, e abre ao público no sábado, ficando patente até 22 de março de 2022.
Numa visita de imprensa guiada hoje pelo curador, a relação com o espaço que foi reabilitado pelo arquiteto Álvaro Siza Vieira vai-se tornando evidente em vários pormenores.
O mais claro é a colocação de um dos trabalhos de tela queimada no espaço central, onde será possível ver, através da obra de Miró, a aranha de Louise Bourgeois, que ‘entra’ pelos vidros que dão vista para os jardins.
Com seis décadas de obras, muito díspares entre si, “organizar cronologicamente não faria sentido”, detalhou Robert Lubar Messeri à Lusa.
“O meu critério para esta coleção extraordinário foi a estética — queria que estivesse o mais bonito possível”, afirmou.
Cumprido o requisito, foram dispostas salas individuais, algumas tendo “temas específicos”, como “o fascismo e a Guerra Civil Espanhola”, onde “dá para sentir a raiva nos quadros”, mas também “o desenvolvimento da língua gestual de Miró, os quadros selvagens, o protesto social, o tratamento e metamorfose da figura”.
Há ainda espaços onde “a materialidade de Miró” é apresentada em contraponto à “exploração do vácuo”.
Uma das curiosidades desta mostra é que será visível o trabalho de “conservação, que normalmente acontece nos bastidores, mas mais e mais museus estão a mostrar trabalhos a serem restaurados e conservados, porque é muito do que se faz nos museus, e será muito interessante para os visitantes”.
A Coleção Miró, propriedade do Estado Português, cedida ao Município do Porto e depositada na Fundação de Serralves, é composta por 85 peças e engloba pintura, escultura, colagem, desenho e tapeçaria, abrangendo “seis décadas de trabalho de Joan Miró, de 1924 até 1981”.
As obras de reabilitação da Casa de Serralves contaram com o compromisso de financiamento, até um milhão de euros, pela parte da autarquia, para que a Casa de Serralves pudesse acolher a coleção do mestre catalão, e foram realizadas no âmbito do Protocolo de Depósito e de Promoção Cultural.
No protocolo, a Câmara do Porto comprometeu-se igualmente a um pagamento anual de 100 mil euros à Fundação de Serralves, pelo prazo de 25 anos, para que a coleção seja protegida e promovida nacional e internacionalmente.
Joan Miró (1893—1983), um dos grandes “criadores de formas” do século XX, foi simultaneamente um “assassino” estético que desafiou os limites tradicionais dos meios com que trabalhou, escreveu a fundação, aquando do anúncio da mais recente exposição.
“Na sua arte, as diferentes práticas dialogam entre si, cruzando os meios: a pintura comunica com o desenho; a escultura seduz os objetos tecidos; e as colagens, sempre conjugações de entidades díspares, funcionam como princípio maior ou matriz para a exploração das profundezas do real”.
A coleção proveniente do antigo Banco Português de Negócios (ex-BPN) foi classificada no ano passado como de interesse nacional, num despacho que reconheceu a sua lógica, em termos de manifestação da produção artística de Joan Miró, como um “conjunto heterogéneo de criações realizadas ao longo de seis décadas, com recurso a diversos materiais, técnicas e suportes, incluindo, entre outros, óleos, aquarelas, desenhos, colagens e peças escultóricas, representando uma extensa e variada amostragem da obra do artista catalão”.
Já foi mostrada na exposição “Joan Miró: Materialidade e Metamorfose”, patente em Serralves, no Porto, e no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, e na Fondazione Bano, em Pádua, entre 2016 e 2018, e “Joan Miró and the Language of Signs”, apresentada no Palazzo delle Arti, em Nápoles, em 2019.
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