Os materiais tradicionais que eram usados antes do aparecimento do cimento e do betão armado - como a cal, o barro, a madeira, a pedra e os pigmentos naturais, em vez das tintas plásticas - além de ecológicos, são benéficos para a saúde e têm um custo menor, defende quem os utiliza.
O empreiteiro Acácio Correia, que está a construir e a recuperar um conjunto de casas segundo os métodos tradicionais na propriedade de um casal alemão, em Santo Estêvão, Tavira, conta à Lusa que há cada vez mais pessoas a procurarem materiais 100% naturais, sobretudo os estrangeiros.
"A estrutura continua a ser com aço e com betão, embora depois seja tudo revestido a produtos naturais. Uma parede antiga não requer cimento, ela foi construída com barro e revestida com areia e cal e, neste caso, estamos a reabilitar para ficar como era antigamente", explicou.
Acácio, que sempre trabalhou com cal, confessa, contudo, que usar o barro como material de reboco é para si uma experiência nova, mas diz que é ainda mais fácil do que a tradicional argamassa.
O uso de pigmentos naturais em vez de tintas plásticas e de cortiça para isolamento térmico são outras das características deste projeto de construção e recuperação de pequenas casas em Santo Estevão, onde Michel Freund e a mulher, Jutta Gräf, estão a construir um "eco-resort".
Depois de ter vivido em mosteiros budistas, na Tailândia, este alemão de 58 anos mudou-se para o Algarve, em 2016, e encontrou naquela propriedade de dois hectares às portas da serra do Caldeirão o local ideal para erguer também um centro de meditação.
Tanto Michel como Acácio não sabem muito sobre a história da propriedade, apenas que o edifício em ruína e abandonado tinha sido construído em 1887, data inscrita na antiga pedra que reveste a principal porta de entrada, agora recuperada.
"O problema é que os portugueses esqueceram-se destas técnicas e não compreendem o que é necessário e como se pode construir uma casa da maneira correta", nota Michel, defendendo que estes materiais não só são bons para as casas, como para a saúde das pessoas.
Uma das vantagens do barro é o facto de funcionar como um filtro para a humidade, um dos fatores com influência tem na degradação das habitações, assim como no conforto e na qualidade do ar que circula dentro de casa.
Joachim Reinecke, dono de uma loja de materiais de construção ecológicos em São Brás de Alportel, explica que a cal e o barro têm uma grande capacidade de absorção, o que ajuda a melhorar o ambiente interior da casa, ao contrário do cimento e dos revestimentos plásticos.
Contudo, alerta, há poucas pessoas conscientes dos potenciais problemas para a saúde decorrentes do uso de tintas plásticas para revestir as paredes das casas, a que se juntam outros tóxicos presentes nos móveis ou nos cortinados, exemplifica.
"É um crime utilizar estes materiais que nos fazem mal", sublinha, dizendo ainda que não se trata apenas de uma questão de saúde, mas também de sustentabilidade, já que este tipo de materiais aguentam muito mais tempo e degradam-se menos do que os industriais.
O arquiteto Filipe Monteiro, que há mais de uma década se mudou de Nova Iorque para o bairro da Barreta, em Olhão, é o autor de vários projetos de recuperação, com materiais tradicionais, de prédios degradados nos bairros históricos daquela cidade emoldurada pela Ria Formosa.
"Intervir com os materiais tradicionais nas casas que eram tradicionais é também uma forma ecológica de estar na vida", resume, explicando que antes de iniciar uma obra faz sempre uma investigação sociológica e urbana, para manter a casa tão fiel quanto possível ao que era antes.
Segundo o arquiteto, responsável pela maioria das recuperações do casario branco da Barreta, é possível encontrar muitos desses materiais, embora os fornos de cal, por exemplo, estejam praticamente em vias de extinção.
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