Na cerimónia dos Globos de Ouro, na noite passada em Hollywood, a atriz e apresentadora de televisão norte-americana Oprah Winfrey fez um discurso marcante. Na plateia, homens e mulheres aplaudiam de pé, enquanto Oprah prometia “um novo dia”. Uma mudança para as mulheres, para as minorias — e para aqueles de quem a sociedade se esquece.

Mas há quem veja na promessa de “um novo dia no horizonte” um sinal. Um indício de uma outra ambição: a Casa Branca.

Oprah a presidente, escrevia-se no Twitter. A etiqueta Oprah 2020 ganhou força. Porém, aos jornalistas, numa breve entrevista à Bloomberg, a bilionária de 63 anos foi clara: “Não, não” há planos para concorrer ao lugar hoje ocupado por Donald Trump.

"Oprah 2020!!!!! Melhor discurso da noite!!"

"Oprah a presidente!"

"A Oprah Winfrey não vai concorrer para presidente dos Estados Unidos. Por que raios faria isso a si própria? Ela vai concorrer a presidente da galáxia."

Oprah recebeu o Globo de Ouro Cecil B. DeMille, por ser “um exemplo a seguir para mulheres e jovens”, além de “uma das mulheres mais influentes” da atualidade, segundo a Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA, na sigla em inglês). É a primeira mulher negra a recebê-lo.

Quando subiu ao pódio, a também produtora e empresária começou por recordar quando, ainda criança, assistiu pela televisão à cerimónia dos Óscares em que Sidney Poitier venceu o Óscar de melhor ator, o mesmo Sidney Poitier que viria a ser distinguido também com o Cecil B. DeMille nos Globos de Ouro de 1982. Foi a imagem que apresentou que, dizem os esperançosos, mostrou uma vontade de chegar à presidência.

Ainda este domingo, Stedman Graham, companheiro de longa data de Oprah, dizia ao Los Angeles Times que uma candidatura à presidência dependia apenas dos eleitores. “Ela falo-ia, absolutamente”.

E é a esse Times que Winfrey já deixa coisas em aberto. “Okay [está bem]”, responde quando lhe perguntam se vai considerar uma candidatura à Casa Branca.

Também a CNN cita fontes próximas de Oprah que dizem que a ideia de correr à presidência está a ser pensada pela apresentadora. Porém, sublinham, Winfrey não tomou ainda uma decisão final.

Esta foi a primeira cerimónia de entrega de prémios de maior relevância em Hollywood, depois de ter rebentado o chamado “escândalo Weinstein”, em outubro.

Dezenas de mulheres, incluindo as atrizes Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Mira Sorvino, Ashley Judd, Léa Seydoux, Asia Argento e Salma Hayek denunciaram uma série de episódios diferentes, que vão desde presumíveis comportamentos sexuais abusivos a acusações de violação por parte do produtor Harvey Weinstein, galardoado com um Óscar pela produção de “A Paixão de Shakespeare” (1998).

Desde que foi divulgado o caso, vários escândalos relacionados com acusações de assédio, agressão sexual e até mesmo de violação foram denunciados em vários países do mundo.

Entre os acusados estão figuras como os atores Kevin Spacey e Dustin Hoffman, o ex-presidente da Amazon Studios Roy Price, os realizadores Brett Ratner e James Toback, os jornalistas Charlie Rose, Glenn Thrush e Matt Lauer, o fotógrafo Terry Richardson e o comediante Louis C.K..

Em novembro, a revista norte-americana Time nomeou como “Personalidade do Ano” as pessoas que, nos últimos meses, denunciaram casos de assédio e abuso sexual, num movimento coletivo denominado "#MeToo", surgido nos Estados Unidos.

Já este ano, no dia 1 de janeiro, foi anunciado o projeto “Time’s Up” para apoiar a luta contra o assédio sexual, por mais de 300 atrizes, argumentistas, diretoras e outras personalidades ligadas ao cinema, entre as quais as atrizes Cate Blanchett, Ashley Judd, Natalie Portman e Meryl Streep, a presidente da Universal Pictures, Donna Langley, a escritora Gloria Steinem, a advogada e ex-chefe do Gabinete de Michelle Obama, Tina Tchen, e a co-presidente da Fundação Nike, Maria Eitel.

Entretanto, três das nomeadas aos Globos de Ouro deste ano anunciaram publicamente o seu apoio ao projeto, e que irão vestidas de preto à cerimónia de entrega dos prémios, como parte de um protesto convocado para a ocasião: a cantora e atriz Mary J.Blige, nomeada pelo papel que interpreta em “Mudbound”, Allison Janney, nomeada por “I, Tonya”, e Saoirse Ronan, nomeada por “Early Bird”.

Foi também para elas que Oprah Winfrey falou, durante cerca de nove minutos.

A cerimónia foi apresentada pelo ator e comediante Seth Meyers, que já reconheceu que este provavelmente “não será o ano mais divertido” para o fazer. Meyers que em 2011 fez piadas com o atual presidente norte-americano. Coisa que relembrou — chamando Oprah para a conversa.