“O que eu gostaria de trazer até vós é um apanhado, uma recolha, de inúmeros momentos da minha história pessoal, da minha história enquanto artista, dos inúmeros lugares por onde andei, das pessoas que conheci e acima de tudo das coisas que fui fazendo”, explicou Pedro Cabrita Reis, durante a conferência de imprensa sobre a sua nova exposição.
Uma dessas inquietudes que o artista destacou da nova exposição é um painel onde se pode ler a frase “Politicamente correto” e em que Cabrita Reis considera ser “a forma mais irónica que encontrou para manifestar o seu tédio” pela “forma como hoje há pessoas que se arrogam o direito de impor, de uma forma quase violenta, os seus pensamentos”.
“Vejo em muitas linhas de pensamento que ilustram aquilo que hoje em dia é entendido como politicamente correto nada mais que oportunismos. Nada mais do que aproveitamentos distorcidos, cínicos e perversos de situações de grande injustiça social, de problemas relacionados com o clima ou questões que têm a ver com o género. Tudo isso são questões que se nos põem e que nós temos de enfrentar e que temos de integrar e, acima de tudo, temos de discutir. O que não temos é de seguir agendas de pessoas que constroem carreiras montadas sobre isto”, declarou aos jornalistas.
Volvidos exatamente 20 anos de ter apresentado, também em Serralves, a sua exposição "Da Luz e do Espaço", dedicada ao trabalho da última década do artista, e num momento em que avança da pintura, escultura ou instalação para a conceção de verdadeiros espaços arquitetónicos, Cabrita Reis, que na altura tinha cerca de 40 anos, considera que foi um “trabalho importante” na altura, por poder fazer o que “lhe apeteceu”.
“Foi uma exposição que teve alguma controvérsia na altura. Cumpriu o que tinha de cumprir e senti que tinha aprendido bastante a trabalhar [na exposição]”, referiu.
Após 20 anos, Cabrita Reis, o “artista clássico”, como se autodefine porque “rejeita agendas”, traz ao Porto um “apanhado da sua história pessoal.
“Um olhar inquieto consiste numa única peça de grandes dimensões, que abarca a totalidade da ala esquerda de Serralves, no seu primeiro andar e na parte debaixo”, com quatro salas ocupadas por painéis construídos pelo artista no seu ateliê em Lisboa, entre o dia 19 de agosto e finais de setembro deste ano, com a colaboração de uma equipa de jovens artistas a quem pediu ajuda para trabalhar as 100 peças da obra única.
Apesar das 100 peças estarem dissociadas umas das outras, estão colocadas de uma forma que leva o espectador para um “relativo labirinto”, de forma a convidar as pessoas a sentirem liberdade de poder organizar e desenhar os seus passos ao longo da exposição sem qualquer ordem, sem qualquer hierarquização, explica o artista.
“As pessoas podem estar uma manhã inteira a ver um detalhe de um painel e podem ver em cinco minutos o resto da exposição”, conclui.
Entre as 100 peças, o visitante descobre, por exemplo, painéis de fotografias instantâneas sobre paisagens, frutas ou flores, que o artista costuma captar quase como uma ”obsessão”, como explica, e como sendo um “exercício na ajuda da construção da obra”.
Ao longo da nova exposição de Pedro Cabrita Reis, o visitante descobre também uma escada fixada ao painel e que, segundo o artista, foi utilizada na apanha da azeitona, um trabalho na terra que gosta de fazer apanhando à mão cada bago, sem varejar a oliveira para não a ferir.
A agricultura é, aliás, um tema recorrente na exposição e na vida do artista, podendo comprovar-se como se descobre um molho de videiras secas e recolhidas no final de uma vindima, como revelou Cabrita Reis, autodefinindo-se como um “agricultor de subsistência no sentido da própria vida”.
A exposição de Cabrita Reis fica em Serralves até ao próximo dia 22 de março de 2020.
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