Para o pianista é uma questão de “alegria levar música” às salas de concerto, encontrar pessoas dispostas a partilhá-la consigo, algo que o comove e “toca tão fundo”, disse ao jornal The Boston Globe, em novembro de 2016, no regresso à cidade norte-americana onde, no ano anterior, fora operado a um aneurisma na aorta.
Em Lisboa, Menahem Pressler, fundador do Trio Beaux Arts e “um dos mais prestigiados pianistas” dos últimos 70 anos, como afirma a Gulbenkian, interpreta o Concerto para piano e orquestra n.º23, de Mozart, tradicionalmente descrito como “um dos mais belos” do compositor.
Pressler nasceu em Magdeburgo, na Alemanha, em 1923, e aí viveu até ao momento em que o regime nazi lhe permitiu aceder ao ensino, como judeu.
Testemunhou a história do último século. Partiu para Itália, com a família, em 1938, após a “noite de cristal”, refugiou-se na Palestina, em 1939, e fixou-se nos Estados Unidos, no início da década de 1940, onde vive desde então.
Venceu o Concurso Internacional de Piano Debussy, em São Francisco, em 1946. Tinha 23 anos e, pouco depois, a Orquestra de Filadélfia, com o maestro Eugene Ormandy, inaugurava a sua carreira de concertista com as maiores orquestras da época, nos Estados Unidos, primeiro, e na Europa, depois, concluída a II Guerra Mundial.
Em 1955, fundou o Trio Beaux Arts – “um dos mais aclamados e influentes grupos de câmara a nível mundial”, afirma a Gulbenkian -, que teve em Pressler o único elemento permanente, até à dissolução, em 2008.
O pianista, porém, não abdicou de uma agenda regular de atuações ao vivo, com um programa que vai de Mozart a Brahms, Schubert ou Schumann, Beethoven, Tchaikovsky e César Franck, entre outros dos seus compositores de eleição.
Em 2015 suspendeu a atividade, após a cirurgia, mas depressa regressou às salas de concerto e ao ensino que continua a ministrar na Escola de Música da Universidade do Indiana, a que pertence, há 63 anos.
É uma questão de amor pela música e pelas pessoas, manter-se assim ativo, afirma. “Toco, sinto-me acompanhado, isso faz a música mais bonita e oferece [ao público] algo que pode desfrutar”, disse ao Boston Globe, em novembro de 2016. “Tocar a música que adoro é aquilo para que realmente creio que nasci”.
Em 70 anos de carreira, recebeu vários prémios Gramophone, Diapason, Choc Musique, Charles Cros e Classica, medalhas de mérito da Sociedade Nacional das Artes e das Letras, dos Estados Unidos, da Academia das Artes e Ciências, assim como o prémio de carreira da associação americana de Professores de Música.
Em 2005, o Governo alemão condecorou-o com a Grande Cruz de Mérito, e o Governo francês nomeou-o comendador da Ordem das Artes e das Letras. Recebeu ainda a Medalha do Wigmore Hall (2011), no Reino Unido, o Prémio Yehudi Menuhin (2012), em Espanha, e entrou na Gramophone Hall of Fame (2012).
Com o Trio Beaux Arts gravou quase todo o repertório de música de câmara e soma três dezenas de álbuns a solo, que cobrem mais de três séculos de música, da expressão barroca de Bach à contemporânea de Ben-Haim.
Desde a década de 1950, que Menahem Pressler é um nome regular nos festivais e temporadas de música da Fundação Calouste Gulbenkian. No regresso ao Grande Auditório, conta com o maestro Leo Hussain, na direção da orquestra, que também interpretará “Petroushka”, de Stravisnky.
O concerto de sexta-feira tem início às 21:00, o de sábado, às 19:00.
Na agenda do pianista, seguem-se atuações no Concertgbouw de Amesterdão, na Filarmónica de Berlim e no Laeiszhalle de Hamburgo, entre outras salas europeias.
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