A estrear-se no dia 17, na Disney+ em Portugal, “Pistol” é uma minissérie de ficção escrita por Craig Pierce, produzida e realizada por Danny Boyle, sobre o aparecimento dos Sex Pistols e a génese do movimento artístico punk no Reino Unido, nos anos de 1970.
A série é inspirada na biografia “Lonely Boy: Tales from a Sex Pistol”, do guitarrista Steve Jones, um dos fundadores dos Sex Pistols, mas debruça-se sobre a criação do grupo, precursor do movimento punk em Londres, e sobre o contexto político-social em que nasce.
“Sei o que é que o punk representava na altura. Eu era um punk e vivi-o [o punk] e libertou-me. De onde eu venho, era-se jovem e depois era-se velho e não havia quase nada no meio. (…) O que os Sex Pistols fizeram foi explodir com essa ponte, (…) alargaram esse espaço entre ser jovem e ser velho”, afirmou Danny Boyle, 65 anos, numa entrevista coletiva ‘online’ com vários media, incluindo a agência Lusa.
“Pistol”, com seis episódios, tem um elenco alargado de protagonistas, todos muito jovens, que representam não só os elementos dos Sex Pistols como algumas das pessoas que impulsionaram e habitaram o movimento punk, como o empresário Malcom McLaren, a designer de moda Viviane Westwood e a cantora e compositora Chrissie Hynde.
Do elenco que representa os Sex Pistols fazem parte Toby Wallace (no papel de Steve Jones), Jacob Slater (Paul Cook), Anson Boon (John Lydon), Christian Lees (Glen Matlock) e Louis Partridge (Sid Vicious).
Thomas Brodie-Sangster faz de Malcom McLaren, Sydney Chandler é Chrissie Hynde, Talulah Riley representa Vivienne Westwood, Maisie Williams encarna a ícone punk Jordan Mooney e a atriz Emma Appleton faz de Nancy Spungen, a namorada de Sid Vicious.
“Foi fascinante explicar a estes atores como era a vida na altura, comparando a vida deles agora. Não faziam ideia do que era não haver estímulos. A vida deles está cheia de estímulos, têm oportunidades a chegarem de todas as direções. (…) Tentei explicar-lhes como de repente se sentiu que se podia fazer o que se quisesse”, afirmou Danny Boyle.
No processo de trabalho para a série, o realizador colocou os atores, em particular os que representam os músicos, numa espécie de estágio para aprenderem a tocar e a cantar. O que surge na série é integralmente interpretado pelos atores.
O realizador reconhece que encontrou neles uma “autenticidade crua”, semelhante ao espírito do punk. “Fiquei surpreendido e chocado quão diligentes eles eram. Pensei que fosse mais difícil lidar com eles. Era tanta energia! Eles pareciam gazelas a flutuarem numa sala”, recordou.
Embora a história de Steve Jones atravesse toda a série, há outras narrativas a decorrerem em paralelo, enriquecendo a perspetiva mais geral sobre o aparecimento do punk, e com Danny Boyle a acrescentar, na montagem, imagens verídicas de arquivo.
A produção de “Pistol” esteve envolta em polémica em 2021, por causa de uma batalha legal entre os músicos da banda sobre a utilização das canções na série. O ex-vocalista, John Lydon, queria impedir o uso das canções, mas o baterista Paul Cook e o guitarrista Steve Jones levaram o caso a tribunal e ganharam.
Na entrevista coletiva sobre “Pistol”, Craig Pierce, o argumentista, defendeu a relevância de voltar a contar a história dos Sex Pistols, “porque há coisas que aconteceram na altura com as quais a sociedade está outra vez a lidar”, como movimentos de revolta, crises económicas, crises ambientais.
“É importante contar o que é que eles contestavam e relembrar isso. E lembrar à sociedade que é importante ouvir uma geração, uma cultura particular e uma era em particular, porque essas pessoas devem ter uma voz”, disse.
Danny Boyle, que assinou filmes como “Trainspotting” (1996), “A Praia” (2000) e “Quem quer ser bilionário?” (2008), explicou que confiou no instinto para insistir com um projeto que foi sendo recusado por várias plataformas de exibição, exceto a Disney — “É bizarro ter os Sex Pistols na Disney”.
Os Sex Pistols, que eram antissistema, anti-monarquia, que afirmavam não haver futuro para os jovens, duraram pouco mais de dois anos, gravaram um álbum, “Never mind the bollocks, here’s the Sex Pistols” (1977), e são apontados como uma das bandas mais disruptivas da música popular.
“Eu acho que não os devíamos deixar cair no esquecimento, porque eles foram fundamentais numa Inglaterra em mudança, que foi enorme e teve ecos no mundo. (…) A música ainda é poderosa”, afirmou Danny Boyle.
E deu como exemplo a música “Bodies”, que é “parcialmente sobre o aborto” nos anos 1970. “Vemos agora o que se passa nos Estados Unidos. Essa canção vai viver para sempre. É perturbadora, é zangada. É uma grande música que ultrapassará o teste do tempo”, considerou.
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