“Ela não tem homólogo. Tentei encontrar uma família em que ela se enquadrasse, tendo até em conta os cineastas da sua geração como Pedro Costa ou João Canijo e, apesar de haver algumas ligações quanto aos temas abordados nos seus filmes, ela tem uma voz muito particular e uma forma singular que não tem equivalente não só no cinema português como no cinema europeu”, disse à Lusa a programadora do Centro Pompidou Amélie Galli.
Entre 14 de junho e 01 de julho, a realizadora Teresa Villaverde vai estar em destaque neste museu de arte contemporânea com uma retrospetiva de 15 dos seus filmes, uma ‘masterclass’ e ainda a estreia de uma curta-metragem financiada pelo Pompidou.
O filme “Colo”, que tem a sua estreia comercial em França no dia 19 de junho, vai abrir a retrospetiva já esta sexta-feira.
O convite à cineasta portuguesa insere-se na tradição do Centro Pompidou em mostrar todas as temporadas realizadores vindos de várias partes do mundo que tenham uma obra contemporânea
“Há uma cultura pictórica muito forte e os seus filmes mostram o seu interesse sobre todas as artes. É uma artista global que nos dá a sua visão sobre a sociedade e o mundo em que vivemos. Queremos sempre ter um realizador que conte histórias através do cinema, mas queremos também um artista que nos dê uma perspetiva sobre a contemporaneidade cinematográfica”, referiu Amélie Galli.
A programadora do museu parisiense refere ainda que o que a atraiu na obra da realizadora de “Os Mutantes” é o seu ponto de vista sobre a fragilidade e o facto de nada ser mostrado de forma gratuita nos seus filmes.
“Ela não mostra nada gratuito nos seus filmes, ela não mostra situações de crueldade, ela mostra sim detalhes para deflagrar essas situações. E isso faz com que o seu cinema seja digno e que as suas personagens nos toquem”, acrescentou.
A curta-metragem realizada especialmente para esta retrospetiva pela cineasta portuguesa é prova disso, segundo a programadora: “Respondeu de uma maneira magistral ao nosso desafio. Mostra de uma forma muito forte o que se passa neste momento no Brasil e, em vez de filmar o desfile da escola Mangueira, que foi muito militante a favor dos direitos das mulheres, dos povos esquecidos do Brasil e também de homenagem a Marielle Franco, ela mostra o dia após o desfile na favela e como as pessoas reagem à vitória da sua escola de samba”.
Amélie Galli refere que, apesar do palmarés de Teresa Villaverde nos festivais de cinema, a obra da realizadora portuguesa não é muito conhecida em França e que este será momento de “descoberta” para o público francês. Nas duas semanas desta retrospetiva, a programadora afirma que podem passar cerca de 100 mil pessoas pelas salas de cinema do museu.
O mais recente filme da realizadora, “Colo”, venceu em abril o Prémio Sauvage, principal galardão do 13.º Festival “L’Europe Autour de l’Europe”, em Paris.
A cineasta teve recentemente uma retrospetiva integral, na Fundação de Serralves, no Porto, organizada pelo ensaísta António Preto.
Nascida em Lisboa, em 1966, a cineasta Teresa Villaverde trabalhou com João César Monteiro, José Álvaro Morais e João Canijo, antes de se estrear como realizadora nos anos 1990. Da mesma geração de realizadores como Pedro Costa e João Pedro Rodrigues, fez filmes como “Três irmãos” (1994), “Os mutantes” (1998) e “Transe” (2006).
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