O Portugal Fashion, por seu lado, contactado pela Lusa, desejou “os maiores votos de sucesso” ao ‘designer’, que considera de “elevada qualidade”. “Lutamos diariamente para estar ao nível das expectativas de cada um, mas nem sempre é possível", acrescentou a responsável do projeto.

Em entrevista telefónica à Lusa, Nuno Baltazar afirma que a sua decisão de abandonar o Portugal Fashion, evento onde apresentou no sábado passado, no Porto, a sua nova coleção outono/inverno 2019-20, é uma “decisão refletida”, “ponderada” e com a qual se sente “muito confortável” por ter tomado.

“Deixo de apresentar o meu trabalho no Portugal Fashion, porque não acredito nesta direção, não acredito no projeto que desenvolvem para aquela que se diz ser a maior plataforma de apresentação da moda em Portugal”, lê-se num anúncio que Nuno Baltazar fez esta tarde na rede social Facebook.

Questionada pela Lusa sobre as declarações de Nuno Baltazar, Mónica Neto, líder do projeto Portugal Fashion, desejou “os maiores votos de sucesso” ao ‘designer’, que considera de “elevada qualidade”, recordando que ainda no passado sábado apresentou uma “excelente coleção na 44.ª edição do Portugal Fashion”.

“Lutamos diariamente para estar ao nível das expectativas de cada um, mas nem sempre é possível, especialmente num enquadramento de projeto coletivo”, acrescenta Mónica Neto, referindo que o Portugal Fashion é um projeto “evolutivo e dinâmico”, com mais de 20 anos, que acaba de promover uma edição nacional com cerca de 50 participantes.

“A moda portuguesa atravessa um bom momento, quer a nível nacional, quer internacionalmente, de que é exemplo a recente conquista de Alexandra Moura no calendário oficial de Semana de Moda de Milão”, disse também aquela responsável.

Nuno Baltazar, no entanto, assume que está a “bater com a porta”, e a dizer um “enorme não a esta direção do Portugal Fashion".

“Digo abertamente que o que ali se faz não dignifica, não eleva e não potencia o trabalho árduo dos criadores portugueses. Potencia apenas o nome da plataforma e a vaidade e deslumbramento de quem a dirige”.

Segundo o designer, “moda é muito mais do que números”, e diz que quer, “não aceita”, “nem valida mais o vazio absoluto de estratégia, falta de paixão e respeito pela moda e por quem nela trabalha”.

Baltazar diz sentir-se “perfeitamente à vontade” para fazer declarações públicas, porque desde a entrada da nova direção, fez “tudo o que podia” para “levar esta relação a bom porto”, sem sucesso.

“Esperei meses, fiz sugestões e pedi esclarecimentos. Fiz tudo o que podia para tentar levar esta relação a bom porto, dei o benefício da dúvida, dei a segunda e terceira oportunidades e o que recebi em troca foram sucessivas manifestações de desrespeito para comigo e para com os meus com 20 anos de muito trabalho”, lê-se no mesmo texto que colocou na Internet.

Questionado pela Lusa sobre os motivos que o levaram a abandonar o projeto, o ‘designer’ afirmou que, apesar dos alertas, sugestões e críticas construtivas que ia fazendo junto da direção do Portugal Fashion, foi “desvalorizado”.

“Não fui ouvido”, conta Nuno Baltazar, acrescentando que chegou a pedir um esclarecimento em outubro para perceber quais eram os pressupostas do Portugal Fashion para apoiar os criadores na promoção internacional, mas que esses “pressupostos eram muito pouco claros”, com “dualidade de critérios” e feitos de “forma pouco profissional”.

Nuno Baltasar questiona também o destino das verbas que chegam de fundos comunitários para a plataforma do Portugal Fashion.

“Essas verbas vêm para quê? Para moda de autor ou para moda industrial”, pergunta, assumindo que, se a verba é para promoção da imagem, design e modernidade da moda em Portugal, então “o mais valorizado não têm de ser só os números de vendas".

Ainda em declarações à Lusa, Nuno Baltazar assume que “está tranquilo” quanto ao futuro, e que vai continuar a “fazer apresentações”, porque o que gosta realmente é de fazer o seu trabalho.

“Vou desenhar um caminho novo. Eu faço aquilo em que acredito”, asseverou, revelando ainda que “nem lhe passa pela cabeça” regressar à Moda Lisboa, projeto de moda, que também abandonou no passado.

O Portugal Fashion – um projeto da responsabilidade da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), desenvolvido em parceria com a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) – é financiado pelo Portugal 2020, no âmbito do Compete 2020.

O Portugal Fashion (PF) está a trabalhar em 2019 com verbas do biénio 2017–2018, porque as datas de candidatura aos apoios comunitários não são conhecidas, disse em janeiro, fonte da estrutura.

A mesma informação vou reiterada neste fim de semana passado pelo presidente da ANJE, Adelino Costa Matos.