A fotografia, cuja autoria é partilhada com Nuria Oliva e Natalie Artzi, foi obtida durante um período de dois anos em que João Conde, atualmente a trabalhar na universidade Queen Mary, em Londres, esteve no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos.
"A imagem mostra uma estrutura de gel, em que se vê uma estrutura parecida com um favo de mel. O gel tem embebidas uma série de moléculas terapêuticas, neste caso 'microRNA', que são umas sequências genéticas que alteram a expressão de alguns genes envolvidos em cancro. Esse gel adere muito facilmente ao tecido tumoral e liberta de forma controlada uma dose muito mais elevada (de terapia) para as células tumorais, de forma a poder inibir o seu crescimento e a sua multiplicação", disse João Conde à agência Lusa em Londres.
João Conde precisa que "o que se vê na imagem é um corte histológico (corte de observação da estrutura de tecidos) em que se vê a estrutura do gel e os pontos vermelhos são as moléculas terapêuticas distribuídas ao longo do gel".
"Fui para o MIT para desenvolver uma série de plataformas para terapia de cancro, mas terapia localizada, em vez de ser como as terapias convencionais, como a quimioterapia, que é administrada intravenosamente", referiu o investigador português.
As terapias localizadas, explicou, são mais eficientes porque "conseguem libertar as moléculas terapêuticas e as drogas e a medicação localmente com uma dosagem muito mais elevada e de uma forma muito mais eficaz".
Para isso, o grupo onde João Conde trabalhou desenvolveu o gel, que é implantado localmente sobre os tumores, de cancro de mama no caso da imagem premiada, e cujo efeito foi captado num microscópio de fluorescência.
Os resultados do trabalho são promissores e mereceram um artigo na revista Nature Communications em 2016, que descrevia uma inibição de tumores de mama de cerca de 90%, em experiências feitas em ratos.
A imagem é uma das 22 imagens vencedoras da 20.ª edição da competição criada em 1997 pela fundação Wellcome Trust, sediada em Londres e que é considerada uma das instituições não-governamentais com maior volume de financiamento à investigação médica.
Ao mesmo tempo, financia outros trabalhos relacionados com a ciência, como a Wellcome Images, que possui um vasto catálogo de imagens médicas, manuscritos e ilustrações ligadas à medicina.
Os prémios, que no ano passado tiveram entre os vencedores as portuguesas Sílvia Ferreira, Cristina Lopo e Paula Alexandre, resultam numa exposição das imagens vencedoras que serão exibidas em institutos, museus e centros científicos no Reino Unido, Europa e África.
"É interessante porque é uma maneira de divulgar ao público um pouco do que fazemos no laboratório. Há sempre um hiato grande entre o público em geral e a comunidade científica", referiu João Conde.
Doutorado em Biotecnologia em 2014, o investigador venceu um prémio de início de carreira Marie Curie que lhe abriu as portas para trabalhar no MIT e atualmente em Londres, estando atualmente a ponderar o próximo passo na carreira.
A imagem vitoriosa, admitiu, foi apenas uma das várias que submeteu e nem sequer é aquela que considera mais impressionante.
"Enviámos outras em que usámos microscopia eletrónica de forma a mostrar a estrutura destas moléculas, que são à nanoescala [um nanómetro é um milhão de vezes inferior a um milímetro]. E aí conseguíamos ver detalhes muito mais interessantes do que nesta imagem. Esta é uma imagem mais geral e macroscópica do gel. O equipamento usado é bastante básico", reconheceu.
Comentários