“À sua produção académica e ensaística, e à militância política, que nunca abandonou, acrescentou-se a partir de 1990 uma obra poética das mais significativas e mais singulares das últimas décadas, combativa e desencantada, exigente e vibrante, situada e oblíqua, em diálogo com o seu tempo e os seus pares”, acrescentou o chefe de Estado, numa nota publicada no ‘site’ da presidência.

Marcelo Rebelo de Sousa evocou o percurso de Manuel de Gusmão como professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, especialista em literaturas francesa e portuguesa e em literatura comparada, ensaísta, poeta, tradutor, colaborador de O Tempo e o Modo, Crítica, Vértice e deputado à Assembleia Constituinte pelo PCP.

“Manuel Gusmão nunca desligou no seu percurso a estética e a política, o rigor e a adesão, por vezes com um evidente cunho geracional”, acrescentou.

O Presidente da República lembrou ainda os “marcantes” ensaios que escreveu sobre Fernando Pessoa e Carlos de Oliveira, as traduções de Francis Ponge, e a forma como “acompanhou de perto, com densidade e empatia”, a poesia de Ruy Belo ou Gastão Cruz, a prosa de Nuno Bragança ou Maria Velho da Costa.

“Com esses livros conquistou um reconhecimento crítico alargado, vencendo os prémios APE, PEN, D. Dinis e Vergílio Ferreira”, sublinhou.

Nascido em Évora, no dia 11 de dezembro de 1945, Manuel Mendes Nobre de Gusmão licenciou-se em Filologia Românica, em 1970, pela Universidade de Lisboa, com uma tese sobre “Fausto”, de Fernando Pessoa, e doutorou-se em Literatura Francesa, com outra sobre a poética de Francis Ponge, em 1987, de quem traduziu também vários poemas para língua portuguesa.

Manuel Gusmão foi politicamente ativo desde os tempos universitários, tendo sido membro do Comité Central do Partido Comunista Português, deputado à Assembleia Constituinte (1975/1976), membro do Conselho da Comunicação Social e, em 2004, mandatário ao Parlamento Europeu.

Dirigiu a revista a revista Caderno Vermelho, do Setor Intelectual da Organização Regional de Lisboa do PCP, desde o primeiro número, em 1996.

Ao longo da sua carreira recebeu o Prémio do P.E.N. Clube Português para Melhor Obra de Poesia, em 1997, com “Mapas, o Assombro e Sombra”, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio de Poesia Luís Miguel Nava relativos a 2001, com “Teatros do Tempo”, entre muitos outros.

Em 2004, recebeu o Prémio D. Diniz da Casa de Mateus e, em 2005, o Prémio Vergílio Ferreira da Universidade de Évora.

Em 2011 recebeu o Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho, por “Tatuagem e Palimpsesto: da Poesia em Alguns Poetas e Poemas”, e em 2014 o Prémio de Poesia António Gedeão, pelo “Pequeno Tratado das Figuras”.

Em 2019, foi distinguido com a Medalha de Mérito Cultural como reconhecimento do Governo português pelo “inestimável trabalho de uma vida dedicada à produção literária e à poesia, difundindo amplamente, em Portugal e no estrangeiro, a Língua e a Cultura portuguesas, ao longo de mais de cinquenta anos”.