Campanha presidencial

31 de dezembro de 2018. Cinco para a meia-noite.

Com uma flûte de champanhe na mão, os ucranianos estão à espera das doze badaladas. O relógio está em contagem decrescente, tudo à espera do discurso presidencial. Para Petro Poroshenko será o último discurso de Ano Novo como presidente do país.

Os dados sociológicos são implacáveis. Segundo os dados do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, apenas 11,6 por cento dos eleitores pretendem votar no atual presidente. A favorita da corrida à presidência é a adversária antiga de Poroshenko, Yulia Tymoshenko, com 21,2 por cento das intenções de voto.

O terceiro candidato provável nas eleições presidenciais, o diretor artístico do Estúdio Kvartal 95, Volodymyr Zelensky, ainda não se pronunciou sobre as suas intenções de apresentar candidatura, apesar dos seus 14,5 por cento.

É Desta Que Leio Isto: Em maio recebemos Teolinda Gersão

Há muito esgotado no mercado português, "O Cavalo de Sol" regressa às livrarias pela mão da Porto Editora, razão para endereçarmos o convite a Teolinda Gersão para o encontro deste mês do É Desta Que Leio Isto, clube de leitura da MadreMedia. Editado em 1984, foi distinguido com o Prémio de Ficção do PEN Clube em 1989, versando sobre o tabu da homossexualidade nos anos 30 do século XX.

Autora de mais de 20 livros, Teolinda Gersão é uma das grandes escritoras portuguesas da atualidade, tendo sido galardoada com alguns dos mais prestigiados prémios literários nacionais, nomeadamente o Grande Prémio de Romance e Novela da APE, o Prémio do PEN Clube (1981 e 1989), o Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco, o Prémio Fernando Namora (1999 e 2015) e o Prémio Literário Vergílio Ferreira 2017 pelo conjunto da sua obra.

Para se inscrever no encontro basta preencher o formulário que se encontra neste link. No dia do encontro receberá um e-mail com todas as instruções para se juntar à conversa.

Além disso, pode ficar a par de tudo o que acontece no clube de leitura através deste link.

O tradicional espetáculo de Ano Novo do Kvartal no canal de televisão 1+1 foi interrompido para dar lugar ao discurso do presidente. Mas em vez de Poroshenko é Volodymyr Zelensky quem aparece no ecrã. De camisa branca com mangas arregaçadas, sai dos bastidores. «Boa noite, caros amigos...», começa em russo, e após 15 segundos passa a falar em ucraniano.

Fala dos três caminhos que os ucranianos têm pela frente. O primeiro: continuar a viver como se vive. O segundo: fazer as malas e emigrar. E finalmente o terceiro: tentar mudar alguma coisa dentro da Ucrânia.

«Foi o terceiro caminho que escolhi para mim próprio. Há muito que toda a gente me pergunta: vais ou não vais? Sabem que, ao contrário dos nossos grandes políticos, não quero prometer nada em vão. Mas agora, poucos minutos antes do Ano Novo, vou prometer-vos algo que vou cumprir de imediato. Caros ucranianos, prometo que vou candidatar-me a presidente. E vou cumprir a promessa já. Apresento a minha candidatura presidencial», disse Zelensky.

De certeza, nem todos aqueles que estavam preparados para brindar ao Ano Novo se aperceberam do que acabara de acontecer. Tudo aquilo parecia fazer parte do espetáculo do Kvartal.

Os bastidores da sala de espetáculo. As luzes baixas. O sorriso de Zelensky. A voz familiar do Urso Paddington dos desenhos animados. Que raio de candidato é este? Onde está a gravata? Onde está o fato? Onde estão as tradicionais palavras caras? Onde está isso tudo? Afinal, onde está Petro Poroshenko? Ao ver Volodymyr em vez de Petro nos ecrãs das suas televisões, instalou-se o alarido entre os apoiantes do 5º presidente nas redes sociais. «Quem? Este palhaço?», «Quem pensa que é para se candidatar a presidente!»

«Mas que lata!» Os utilizadores das redes sociais não poupavam palavras em relação a Zelensky, ao oligarca Kolomoyskyi, o controlador do canal 1+1, ao diretor geral do canal, Oleksandr Tkachenko, que no futuro seria deputado do partido Servo do Povo e, a seguir, ministro da Cultura da Ucrânia.

Nas sedes de campanha dos candidatos, a declaração do diretor artístico do Estúdio Kvartal 95 foi considerada uma piada infeliz.

Porém, Zelensky nunca esteve mais sério do que naquela noite de passagem de ano. Aqueles que confundiram a declaração com uma piada do famoso comediante não tinham a mínima ideia de que a decisão de concorrer nas eleições fora tomada por Zelensky tempos atrás. A sua equipa começou os preparativos há muito tempo. Durante todo o verão de 2018, Volodymyr aquecia o interesse, picando o famoso vocalista do grupo Okean Elzy, Svyatoslav Vakarchuk: «Então, Slava, vais ou não vais? Porque se não fores tu, vou eu. Porque se tu disseres que sim ou que não, então eu também digo. Pois toda a gente me pergunta como é. Comigo é fácil. Comigo já se sabe como é. Como é contigo? Pois se formos tu e eu, vamos ser nós. Percebes? E se formos “nós”, então todos já foram.»

O político Roman Bezsmertnyi recorda que faltava muito tempo para o início da campanha presidencial quando se encontrou com Svyatoslav Vakarchuk e lhe pediu para não apresentar a sua candidatura e para convencer Volodymyr Zelensky a também não o fazer.

«Disse-lhe, “Svyatoslav, como artista tem todo o meu respeito, mas peço-lhe, fale com Zelensky e combine que nem ele nem você se candidatem. Pois se os dois se candidatarem, a Ucrânia será partida ao meio, e a seguir será muito difícil manter o diálogo”. Não sei se foi a minha opinião que convenceu Vakarchuk, se foi mais alguém; mas se não foi, agiu de forma sensata ao não se candidatar. Em vez disso, avançou na campanha legislativa. Entendo-o perfeitamente, porque sei bem que nem um nem outro estavam preparados para carregar todos os problemas da Ucrânia, e o principal deles, a guerra», disse-me Bezsmertnyi.

Apesar de tudo, no outono de 2018 criou-se a sede da campanha presidencial, que contou com a participação do especialista em organização de campanhas políticas, Dmytro Razumkov, talvez a única pessoa mediática da equipa, exceto, claro, o próprio líder do Kvartal 95.

A equipa de Zelensky preparava-se para as eleições. No inverno de 2018-2019 pagaram a publicidade nas estações de rádio e os cartazes com o slogan «Não Estou a Brincar». A estreia da terceira temporada da série Servo do Povo, onde o agora presidente da Ucrânia protagonizava o professor primário Vasyl Goloborodko, que inesperadamente para si próprio se tornou presidente, também foi marcada para o mesmo período.

Zelensky Biografia
créditos: Casa das Letras

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Preço: 14,31 €

Embora dificilmente alguém na própria equipa de Zelensky contasse, na altura, com a vitória.

Foi só no dia 31 de dezembro de 2018 que o próprio Zelensky, segundo diz o ex-chefe do Gabinete do Presidente, Andriy Bohdan, tomou verdadeiramente a decisão de se candidatar às eleições presidenciais.

Obviamente, para Zelensky e para os seus apoiantes, foi uma excelente oportunidade de promover o seu partido Servo do Povo, registado em abril de 2016, antes das eleições legislativas.

Para Igor Kolomoyskyi, cuja relação com Petro Poroshenko era tensa, Zelensky passou a ser objeto de negociações, tanto com o próprio 5º presidente da Ucrânia, como com a sua eterna adversária Yulia Tymoshenko.

Embora, segundo diz o especialista em organização de campanhas, Serhiy Gayday, para a equipa de Zelensky as eleições presidenciais pareciam um jogo.

«Falei com pessoas que mantinham contacto com os irmãos Shefir, parceiros de Zelensky nos negócios. Mesmo com a campanha a decorrer, não acreditavam na vitória dele, achavam impossível. Pensavam que Volodymyr não estava bem, que estava a brincar. Mas quando acabou por ganhar, ficaram perdidas. Não sabiam o que fazer, pois aperceberam-se da responsabilidade assumida e de que a vida antiga acabara. Não haverá mais Kvartal 95, não haverá empresas de produção... Aperceberam-se de que estavam a entrar noutra realidade onde passariam a ser outro tipo de pessoas. Estavam perdidas e procuravam alguém para pedir conselhos. Mas isso foram elas. Pois o próprio Zelensky não tinha essa atitude. Acho que já na altura tinha Bohdan com ele, que disse: “Não te enerves, sei o que fazer, sei como fazer, e temos de avançar”. Naquela altura ninguém gostava de Bohdan, que se destacava ao lado do presidente e dava para ver que era ele o motor do processo», disse-me Gayday.

De qualquer forma, o passo que Volodymyr Zelensky deu na noite do Ano Novo de 2019, mudou a sua vida de estrela televisiva, e não só. Mudou as regras do jogo político ucraniano.

Já no dia 22 de março de 2019, um dos candidatos nas eleições presidenciais, o político Roman Bezsmertnyi, tenta deter Zelensky, lançando o apelo público à revogação da sua candidatura. «Revogue os documentos que submeteu à Comissão Eleitoral, é uma vergonha e uma humilhação para a nação», disse o político.

Contudo, o apelo não foi ouvido. Resultado?

Petro Poroshenko leva uma bofetada valente dos eleitores.

Não foi ainda desta vez que Yulia Tymoshenko seria presidente.

Oleg Lyashko fica com um forte concorrente político e, passado poucos meses, perde o assento parlamentar com o seu Partido Radical.

O coronel Anatoly Grytsenko retira-se da política. O povo ucraniano fica com aquilo que quis, Volodymyr Zelensky.

Embora um dos seus antigos aliados diga, posteriormente, que o país votou num determinado presidente, mas acabou por ficar com um chefe de Estado totalmente diferente; que deixou de ser a pessoa que era ao longo da campanha.

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