A exposição vai apresentar uma série de trabalhos novos que usam o barco como uma metáfora para explorar a violência recorrente e a relação entre narrativa, poder e repetição, explica um comunicado.
“Quando a história não é contada devidamente, a barbárie repete-se”, diz a artista residente em Berlim.
No centro da exposição está a instalação escultórica “18 versos”, composta por blocos de madeira queimada espalhados e envoltos por tecido preto, simbolizando um barco naufragado.
Nos 18 blocos de madeira foram inscritos versos de um poema da artista, traduzido em várias línguas: ioruba, quimbundo, crioulo de Cabo Verde, português, inglês e árabe da Síria.
A acompanhar está uma peça sonora que combina a respiração humana com o som do vento e das ondas.
A obra é uma alusão às "dramáticas rotas migratórias que atravessam as águas do Mediterrâneo, fazendo eco de imagens, gestos e sons que sugerem uma sensação de repetição histórica”.
Um dos versos, “Uma alma, uma memória”, dá o nome à exposição.
“18 versos" é uma variação da instalação performativa “O Barco”, apresentada pela primeira vez em Lisboa na BoCA - Bienal de Arte Contemporânea, em 2021, e repetida no ano passado em Londres na 1-54 Feira de Arte Contemporânea Africana.
Outro trabalho em destaque na exposição em Londres é "Table of Goods” ("Mesa dos Deuses"), que data de 2017, e exibida antes no Brasil.
A peça consiste num monte de terra onde se encontram punhados de café, açúcar, chocolate preto e cacau, os produtos que alimentaram o comércio de escravos.
"O trabalho procura recordar séculos de trabalho e mortes que tiveram lugar nas plantações e lembra-nos que o comércio destes bens permanece inextricavelmente ligado ao nosso passado e presente coloniais”, explica o comunicado.
Grada Kilomba, que vive em Berlim, na Alemanha, é uma artista interdisciplinar, escritora e investigadora doutorada em Filosofia pela Universidade Livre de Berlim, e que tem vindo a lecionar em diversas universidades internacionais, como a Universidade de Artes de Viena, na Áustria.
Com raízes em São Tomé e Príncipe e Angola, a artista tem trabalhado as questões do racismo, do trauma colonial, das vozes silenciadas e de género, e foi uma de cinco criadores convidados a apresentar uma proposta para um memorial da escravatura em Lisboa, concurso que haveria de escolher a do artista angolano Kiluanji Kia Henda.
As obras de Kilomba levantam ainda questões sobre o conhecimento, o poder e a violência cíclica, tendo sido exibidas em eventos como a 10.ª Bienal de Berlim, a Documenta 14 de Kassel, a Bienal de Lubumbashi VI, e a 32.ª Bienal de São Paulo, assim como em vários museus e teatros internacionais.
Como suportes, tem escolhido a performance, a leitura cénica, textos, vídeo e instalação, focando-se nos temas da memória, trauma, género e pós-colonialismo, estando representada em coleções públicas e privadas como a da Tate Modern, em Londres.
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