Recentemente, descobrimos que 2022 não foi um ano fácil para os Queens Of The Stone Age (QOTSA). Josh Homme, líder e vocalista da banda, viu-lhe ser diagnosticado um cancro e, por momentos, temeu o pior. Contudo, um cirurgia bem sucedida afastou os piores presságios e permitiu que o artista ganhasse uma renovada energia para voltar a produzir música. “In Times New Roman”, editado em 2023, foi o resultado desse processo e uma das razões que fez os QOTSA ir novamente em digressão e regressar a Portugal.

Desde o seu inicio, no final dos anos 90, a banda sempre teve uma rebeldia associada, muito por culpa da irreverência de Homme. Nos melhores dias, dá-nos músicas e concertos incríveis. Nos piores, cria situações caricatas, como quando decidiu pontapear um jornalista durante uma performance em 2017. No terceiro dia do NOS Alive, a esperança era que tivéssemos um dia bom. E se tivemos.

Não é nenhuma hipérbole dizer que os QOTSA são umas das bandas de rock com maior impacto desde o início do milénio. O seu álbum “Songs For The Deaf” (2002) aparece recorrentemente nas listas de melhores discos das últimas décadas e as suas canções poderosas e os seus riffs acabaram por se tornar numa imagem de marca.

Por isso, tal como no dia anterior, havia algumas dúvidas como era possível conjugar esse estilo com um público que maioritariamente se ia deslocar para ver Sam Smith. Medos que rapidamente se dissiparam com o barulho da entrada exuberante de Homme em palco. Mais afável, mais alegre, muito menos bully do que em ocasiões anteriores. Seria tudo um disfarce?

Os QOTSA também dançam

É tradicional as bandas guardarem a sua música mais conhecida para o fim. Fazem-no para um “build up” de um momento especial ou simplesmente dar uma razão para fãs mais casuais ficarem até ao fim. No entanto, alguém como Homme não podia estar menos preocupado com isso. Por isso, claro que começou o concerto com “No One Knows”, que teve o condão de colocar pessoas no ar logo a partir do primeiro segundo. Proliferaram os moshes e o número pessoas a cantarolar a popular melodia da música. Acabado o primeiro capitulo, era normal questionar se seria possível voltar a ter um momento de mesmo calibre. A nossa sorte é que os QOTSA já têm muitos anos disto e sabem precisamente o que estão a fazer. 

A primeira estratégia é puxar muito mais pela interação com o público: logo no início, à medida que passávamos do lusco-fusco para a noite propriamente dita, Homme incentivava as pessoas a fazer o que lhes apetecesse e a ir para as cavalitas umas das outras; depois, num estilo provocador, foram várias as vezes que pediu a ajuda do público para fazer de coro no desfecho de uma ou outra canção.

A segunda estratégia é mostrar que QOTSA são muito mais do que uma banda de abanar a cabeça. Com mais de 20 anos de carreira, têm hoje um repertório que lhes permite por as pessoas a cantar ou a dançar a seu gosto. Foi isso que aconteceu com “The Way You Use To” do álbum “Villains” (2017), onde a produção de Mark Ronson lhes deu uma flexibilidade para explorar sonoridades mais dançáveis. Mais tarde, foi “Make It Wit Chu” que voltou a criar uma união no público, com o refrão a ser repetido por diversas vezes a alto e bom, levando Homme a dizer algo como “I’m such a dirty fuck I enjoy that so much” (gosto demasiado do que estão a fazer).

Pelo meio deu ainda para apresentar “Carnavoyeur” e “Emotional Sickness” de “In Times New Roman”, que integraram-se perfeitamente com o resto da setlist, sem parecerem corpos estranhos.

Por último, foi confiar nos hits que trouxeram a banda até aqui e que acabam por tocar em todas estas dinâmicas, com “Little Sister”, um memorável “Go With The Flow, que merece estar ao nível de “No One Knows”, e para terminar “Song for the Dead”.

Um concerto que pela qualidade e ambiente já dava a sensação de dar à noite por terminada, porque dificilmente algo iria superá-lo. Só mesmo um encore de 3 ou 4 canções que por motivos de agenda não puderam fazer.

Ainda pelos palcos secundários

King Princess: numa altura em que muita gente ainda privilegiava o “convívio”, foi bom ver um concerto em que muitas pessoas decidiram largar as conversas que estavam a ter para prestar atenção ao que ia acontecer no Palco Heineken. Diretamente de Nova Iorque, King Princess, que faz parte da editora de Mark Ronson (o mesmo produtor daquele álbum de Queens of The Stone Age), deu-se a conhecer ao público português com algumas das suas principais canções, com destaque para “1950”.

Tash Sultana: era a escolha mais difícil para o público que veio neste dia ao NOS Alive. Teve a infelicidade de começar o concerto enquanto o de Queens of The Stone Age ainda estava a decorrer, mas isso não a impediu de ter uma audiência composta. De nacionalidade australiana, mostrou no Palco Heineken, a versatilidade da sua música que vai do rock alternativo ao pop mais instrumental. Os álbuns “Terra Firma” e “Flow State” estiveram em destaque e no próximo mês vem um EP a caminho de seu nome “SUGAR EP”. Um concerto competente, mas com o ímpeto diferente, pelo menos para quem conseguiu ver os últimos 30 minutos.

O NOS Alive regressa no próximo ano nos dias 11, 12 e 13 de julho de 2024.