A informação foi divulgada por João Miguel Barros, diretor da revista, que dá conta da iniciativa como a primeira daquelas que visam assinalar os 40 anos da sua fundação, que agora se iniciam.

Assim, o conteúdo integral da SEMA, ou seja, todo o material constante dos quatro números publicados (três com data de 1979 e um final, de 1982, sobre as "Perspectivas da Cultura Portuguesa"), assim como a versão de cada um, em PDF, passam a estar disponíveis em www.revistasema.pt, com possibilidade de pesquisa, a partir de vários critérios.

Passados 40 anos, João Miguel Barros explica que a ideia de digitalizar os números da revista e disponibilizá-los numa página de Internet partiu da consciência de que a SEMA só estava acessível em papel, a um número reduzido de pessoas – decorrente do facto de ter sido publicada numa era não tecnológica –, e da vontade de contribuir para o estudo do ambiente cultural dos finais dos anos 70 e princípios de 80 do século passado.

Nesse contexto, a SEMA associou-se agora ao Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes (CIEBA), da Faculdade de Belas Artes de Lisboa e ao Instituto de Literatura e Tradição (IELT) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FSCH-UNL), tendo em vista a divulgação integral, sistematizada e analítica, do conteúdo dos quatro números da revista e do contexto em que surgiu.

Este, porém, é apenas “o primeiro momento de um olhar retrospetivo sobre a SEMA”, alerta o responsável, adiantando que, no novo 'site', serão disponibilizados documentos e material inédito. E serão lançadas também as bases de um debate alargado para atualizar, “40 anos depois”, o tema do último número: “Perspetivas da Cultura Portuguesa”.

O ano 2022 (quando se assinalarem os 40 anos do fim da revista) culminará com uma exposição abrangente, que mostrará o espólio da SEMA, contextualizado na época cultural e social em que se publicou, acrescentou.

A revista SEMA publicou o seu primeiro número há 40 anos, em Lisboa, na primavera de 1979, assumindo-se como uma “revista de artes e letras”, e saiu com o objetivo de “congregar gerações, formas diferenciadas de pensar e de intervenção cultural”.

“Não tinha uma ideologia. Não era produto de movimentos políticos, académicos ou de fações de pensamento. Foi fruto da relação entre dois jovens: um então estudante de Direito e uma já arquiteta”, acrescenta o responsável.

Estes dois jovens eram João Miguel Barros e Maria José Freitas, os mesmos que, agora, 40 anos depois, encabeçam este projeto de recuperar a revista e reassumem a sua direção.

Na altura, tinham “preocupações diversas, mas complementares”, não tinham influências doutrinais ou grupais, viviam numa época culturalmente agitada, com muitas iniciativas dispersas, mas poucas publicações culturais, e ambicionavam editar uma revista que fizesse sentido e tivesse significado. Foi nesse contexto que nasceu e foi definido o seu nome, SEMA, a unidade mínima de significação.

“Armados com essa motivação e vontade partiram à aventura e à descoberta, aplicando nesse sonho todas as pequenas poupanças que poderiam ter servido para um início de vida. Fizeram quatro números que supostamente deveriam corresponder às estações de um ano. Mas as vicissitudes próprias da carolice obrigaram a que o ano se prolongasse por quatro. Ou seja, quatro números em quatro anos”, conta João Miguel Barros.

Dedicado às vanguardas e ao surrealismo em Portugal, o primeiro número saiu na primavera de 1979 e contou com colaborações de autores como Álvaro Lapa, Ana Hatherly, Cruzeiro Seixas, Ernesto de Melo e Castro, Ernesto de Sousa e Eugénio de Andrade, Jorge Listopad, Luís Miguel Nava, Pedro Oom, Philip Larkin, Vitor Silva Tavares (editor da &etc).

O segundo, do verão de 1979, debatia "Cultura vs. Contracultura", com intervenções de artistas plásticos, escritores e editores como Alberto Carneiro, António Sena, Cerveira Pinto, Jorge de Sena, José-Augusto França, José Bento, Manuel Graça Dias, Manuel Hermínio Monteiro (Assírio & Alvim), Miguel Esteves Cardoso, entre outros.

O debate entre "Artes & Letras" dominou o número do outono de 1979, publicado em maio de 1980, com nomes como António Ramos Rosa e Al Berto, António Barahona, António de Campos Rosado, António Osório, Fernando Guimarães, José Luís Porfírio, Julião Sarmento, Manuel Rosa, Mário Claudio ou Sérgio Pombo.

O quarto e último número, publicado em maio de 1982, duplicou as páginas habituais, para mais de 250, assim como as colaborações, combinando autores, investigadores e divulgadores como Ana Hatherly, Ângelo, Armando Alves, Eduardo Nery, Eduardo Pitta, Francisco Bélard, Helder Moura Pereira, Irene Buarque, Isabel de Sá, João David Pinto Correia, João Miguel Fernandes Jorge, João Vieira, Jorge Molder, José Manuel Costa, Manuel Castro Caldas, Maria Ondina Braga, Mário Botas, Miguel Serras Pereira, Nuno Júdice, Rui Simões e Samuel Torres de Carvalho (Sam, o criador de Heloísa e do Guarda Ricardo).

Quando a revista chegou ao fim, somava mais de 176 autores oriundos de diversos quadrantes e com práticas culturais distintas, de escritores como Al Berto e Almeida Faria, a autores como Fernando J. B. Martinho, Mário Henrique-Leiria e Vasco.

No novo 'site' está também disponível o catálogo da exposição "Desenhos?" que acompanhou o encerramento da SEMA, e que contou com a participação de mais de duas dezenas de artistas, como Ana Vidigal, António Sena, Fernanda Fragateiro, José Mouga, Pedro Calapez, Pedro Chorão e Rocha Pinto.

Sónia Rafael, do CIEBA/Belas Artes, e Rita Basílio, do IELT/FCSH-UNL, são as outras reponsáveis por este novo projeto, tendo a seu cargo a conceção e coordenação do projeto editorial digital.

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