O júri, presidido pelo também mexicano Guillermo del Toro, vencedor do mesmo prémio no ano passado, reconheceu a obra de forte tom autobiográfico, que se passa no México dos anos 1970.
"Aqui julgamos a qualidade das obras, independentemente do país de origem, ou do nome do realizador", alertou Del Toro antes da decisão.
Sem celebridades, o filme mais intimista do cineasta mexicano, a preto e branco, inspira-se na própria família, nos amores e desamores de criados e patrões, um documento emocionante e comovente sobre as diferenças sociais e raciais do país.
Depois do hollywoodiano "Gravidade", vencedor em 2013 de sete prémios Oscar, o cineasta mexicano volta a filmar em espanhol para narrar a América Latina que conhece, onde contrastes sociais convivem num universo repleto de sentimentos, reflexões e diferenças culturais que se cruzam e se alimentam.
Na lista de favoritos desde o início, "Roma", nome do bairro onde cresceu, recebeu a nota máxima (5) de cinco dos dez críticos internacionais — os outros cinco deram-lhe 4,5 — consultados pela Ciak, a revista oficial da Mostra.
A vitória de Cuarón relança também o debate sobre o Netflix, gigante audiovisual que produziu e distribuiu o filme, e abre caminho para outro Oscar do diretor mexicano.
Realizado com técnicos mexicanos, a longa poderia concorrer como Melhor Filme Estrangeiro em Hollywood, um troféu que o mexicano ainda não tem.
Cuarón também recebeu, neste sábado, o prêmio SIGNIS da Associação Mundial Católica da Comunicação por "Roma", indicaram os organizadores.
Classificado por vários críticos italianos como uma "obra-prima", "épico" e "deslumbrante", o filme é dedicado a Libo, a ama de Cuarón. A personagem, a doméstica de origem indígena Cleo, é interpretada magistralmente por Yalitza Aparicio.
"Ela foi minha ama na infância e depois tornou-se parte da família, e nós viramos parte da sua família", afirmou o diretor.
Latino-americanos premiados
O filme guatemalteco "José", do diretor e argumentista sino-americano Li Cheng, uma chocante história de amor homossexual numa Guatemala pobre, foi premiado com o "Leão Queer" pela Associação para a Visibilidade do Mundo Homossexual.
O prémio surge num momento importante no país, devido ao debate interno provocado por um projeto de lei que pede o reconhecimento da identidade de género da população transexual.
Já o documentário do cineasta sérvio Emir Kusturica, sobre a vida do ex-guerrilheiro uruguaio José Mujica, com o título "Pepe, uma vida suprema", uma coprodução argentino-uruguaia, foi premiado pelo Conselho Internacional de Cinema e Televisão da Unesco.
Mujica tornou-se, involuntariamente, a estrela do festival de cinema de Veneza, provocando aplausos pela sua simplicidade e o seu desejo de ser uma referência ética para o mundo depois da sua passagem na segunda-feira pelo tapete veneziano.
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