NÍVEL 0: HÁBITOS PARA UMA PELE SAUDÁVEL
O objetivo é retardar o envelhecimento da pele o máximo possível, e tanto o exercício como a dieta e o descanso desempenham um papel crucial neste sentido.
A atividade física melhora a circulação sanguínea na pele, que assim recebe o oxigénio e os nutrientes que as suas células requerem. Após o exercício, observa-se uma melhoria pontual na capacidade de hidratação da pele, e as pessoas que praticam atividade física com frequência mostram uma melhor qualidade estrutural na mesma.
Uma boa dieta impacta também na saúde da pele de múltiplas formas. Os polifenóis que protegem as plantas da radiação solar exercem o mesmo efeito em nós. Destacam-se aqui os carotenoides, como betacaroteno, luteína, astaxantina ou licopeno. Por sua vez, a vitamina C atua como antioxidante e promove a síntese de colagénio. A melhor maneira de garantir suficientes nutrientes deste tipo é seguindo uma dieta rica em frutas e vegetais. A vitamina E é um antioxidante que protege a pele dos danos causados por um excesso de radicais livres, e encontra-se em nozes, sementes, abacates e azeite.
Entre os minerais destaca-se o zinco, importante para a cicatrização de feridas e a reparação de tecidos. Encontra-se nas ostras, carne vermelha, frango, nozes, sementes de abóbora e leguminosas. Por sua vez, os ácidos gordos ómega-3 reduzem a inflamação da pele e evitam que esta seque. Como vimos anteriormente, o peixe gordo é a melhor fonte, mas é também interessante o consumo de sementes de chia, sementes de linho e nozes.
Nos últimos anos, o eixo intestino-pele tem ganhado especial importância ao saber-se que perturbações como dermatite atópica, rosácea, psoríase ou mesmo acne têm uma relação estreita com a qualidade da microbiota. Uma microbiota alterada desregula o sistema imunitário, que por sua vez causa problemas na pele. Nenhum creme será capaz de curar perturbações que surgem de dentro. Vários estudos têm demonstrado benefícios nestas doenças com o uso de probióticos, mas a saúde intestinal depende de muitos outros fatores.
Concluindo esta breve secção sobre hábitos, não podemos ignorar o papel do sono na pele. Enquanto dormimos, ativam-se inúmeros mecanismos reparadores que afetam todos os nossos órgãos, incluindo a pele. Durante o sono, aumenta a circulação sanguínea na pele e a produção de colagénio. Reparam-se os danos no ADN e fortalece-se a barreira protetora da pele. Um estudo fotografou vinte e cinco sujeitos antes e depois de duas noites de privação de sono, e os avaliadores externos concordaram que essas pessoas pareciam mais atraentes nas primeiras fotografias. Este efeito temporário reverte-se ao retornar a bons hábitos de sono, mas as pessoas que dormem mal durante anos apresentam peles mais envelhecidas e de menor qualidade.
NÍVEL 1: PROTEÇÃO
Passando já a compostos tópicos, o mais importante é a proteção, e o principal inimigo da pele é a radiação. A maioria dos melanomas em pessoas jovens são causados pelo uso de cabinas de bronzeamento. Evite-as a todo o custo. A relação com o sol, no entanto, é mais complexa. Como vimos no capítulo 5, o sol é uma faca de dois gumes. Por um lado, precisamos que a sua radiação incida na pele para produzir vitamina D e óxido nítrico. As pessoas que se expõem menos ao sol morrem mais cedo. Mas, por outro lado, a radiação solar envelhece a pele e favorece o aparecimento de manchas e rugas.
A chave, como sempre, está em conseguir o equilíbrio adequado. Recomenda-se usar protetor solar no rosto, por ter uma pele delicada e ser a zona que mais se expõe. Prefere-se sintetizar vitamina D e óxido nítrico expondo outras zonas do corpo, como os braços e as pernas. O mais importante é evitar que a pele fique vermelha, pois é um sinal claro de dano.
Tente, sobretudo, não receber sol através de janelas, pois o vidro bloqueia os raios UVB mas deixa passar os UVA. Os UVB são os que precisamos para sintetizar vitamina D e penetram com menos profundidade na pele. Os raios UVA são mais prejudiciais porque chegam à derme, onde danificam os fibroblastos e degradam o colagénio.
Neste nível da pirâmide encontramos também o uso de antioxidantes aplicados diretamente na pele. Demonstraram reduzir o stresse oxidativo e proteger-nos de agressores externos, como a radiação ou a poluição. Poderá usar um sérum com vitamina C e aplicá-lo de manhã cedo. Esta vitamina C contribui ainda para a síntese de colagénio. Alguns produtos incluem também ácido ferúlico, que complementa o papel da vitamina C como antioxidante.
NÍVEL 2: TRANSFORMAÇÃO
Após assegurar uma correta proteção da pele, deve-se potenciar a sua capacidade de regeneração. Para tal, usam-se os transforma- dores, que são sobretudo ácidos.
Os reis dos transformadores são, sem dúvida, os retinoides. Estes derivados da vitamina A começaram a ser usados em der- matologia para tratar o acne, pela sua capacidade de regenerar a pele. Rapidamente se descobriu que reduzem também as rugas e as manchas, pelo que são especialmente recomendáveis para peles maduras.
Unem-se aos recetores de retinoides de diferentes células da pele, onde começam a exercer a sua magia. Regulam a apoptose celular e a diferenciação das células. Aumentam a proliferação de queratinócitos na epiderme e estimulam a angiogénese na derme, ou seja, a formação de novos vasos sanguíneos. Desta maneira chegará mais oxigénio e mais nutrientes à pele. Os retinoides chegam até à derme, onde inibem a degradação do colagénio e potenciam a sua produção nos fibroblastos. Por fim, reduzem também a pigmentação da pele e exercem uma ação anti-inflamatória.
O retinol é o retinoide mais estudado e o mais recomendável na maioria dos casos. No entanto, pode ter efeitos secundários, como vermelhidão da pele, sobretudo no início. É recomendável, portanto, começar com um produto que tenha baixa concentração e não usá-lo diariamente. Diminui também a secreção de sebo, o que pode ser positivo em algumas pessoas, mas pode secar dema- siado a pele em outras. Pode também aumentar a sensibilidade ao sol, daí a importância de aplicá-lo à noite.
Outros transformadores eficazes são diferentes tipos de alfa-hidroxiácidos, como ácido glicólico ou ácido lático, que atuam sobretudo como exfoliantes. Para peles mais sensíveis, recomendam-se beta-hidroxiácidos como o ácido salicílico. Este último desempenha também um papel antimicrobiano, pelo que se recomenda em casos de acne.
Por fim, não podemos esquecer o ácido hialurónico. Está presente não só na pele, mas também nas articulações e nas cartilagens. A sua produção reduz-se com a idade, mas os animais que continuam a produzir altas quantidades na idade adulta, como o rato-toupeira-nu, tendem a viver mais. É uma molécula relativa- mente grande, mas os cremes com ácido hialurónico de baixo peso molecular demonstraram penetrar na pele e melhorar o seu nível de hidratação.
NÍVEL 3: OTIMIZAÇÃO
No topo da pirâmide encontram-se compostos como peptídeos e fatores de crescimento. Contam com muitos menos estudos que os compostos anteriores e são mais caros, mas em alguns casos podem ser interessantes.
Os peptídeos não são mais do que cadeias de aminoácidos com funções especiais. Pelo seu pequeno tamanho, são capazes de atravessar as diferentes camadas da pele e exercer diferentes fun- ções a partir do interior.
Alguns destes peptídeos, chamados inibidores dos neurotransmissores, produzem relaxamento muscular, o que reduz as linhas de expressão. O seu nome deriva da sua capacidade de bloquear a acetilcolina, que participa na contração muscular. Ou seja, tentam simular injeções de Botox, mas sem agulhas, embora o efeito seja muito menor. Outros peptídeos atuam como sinais para os fibroblastos para que produzam mais colagénio ou ativem as suas vias antioxidantes.
Os fatores de crescimento, por sua vez, são moléculas que se unem à membrana celular e transmitem um sinal ao interior do citoplasma para ativar ou desativar determinados processos de renovação e regeneração celular. Um dos fatores de crescimento mais importantes para a pele é o fator de crescimento epidérmico (EGF, pela sua sigla em inglês). Este fator regula a regeneração da pele e melhora a sua aparência, mas não está claro que funcione aplicado de forma tópica.
BOTOX: O VENENO ANTIEVELHECIMENTO
A toxina botulínica é uma neurotoxina elaborada pela bactéria Clostridium botulinum. É, de facto, um dos compostos biológicos mais tóxicos e considera-se uma arma de destruição maciça. Um grama desta toxina, adequadamente dosificado, poderia matar mais de um milhão de humanos. O Botox é a versão comercial desta neurotoxina, e milhares de pessoas injetam-na todos os dias.
Por volta de 1820, o médico alemão Justinus Kerner descobriu que esta toxina, que causava mortes frequentes por contaminações de comida, inibia o sistema nervoso. Propôs, já então, que poderia ser usada para curar doenças causadas por um sistema nervoso muito ativo.
Um século e meio depois, em 1977, e após muitas experiências em animais, injetou-se Botox numa pessoa para tratar o estrabismo, um transtorno causado por desequilíbrios nos músculos que movem os olhos. O tratamento foi um sucesso e rapidamente se espalhou, com curiosos efeitos secundários. Muitos pacientes reportavam menos rugas ao lado dos olhos, onde se injetava o Botox, e solicitavam a aplicação em outras partes do rosto, como a testa. Ao interferir com a libertação de acetilcolina, o Botox reduz os movimentos musculares que contribuem, após milhares de repetições inconscientes, para a formação de rugas.
Embora pareça um tratamento puramente cosmético, a ciência recente indica que pode ter efeitos mais profundos, já que os gestos faciais condicionam as emoções. Fingir um sorriso faz-nos sentir um pouco melhor, e franzir o sobrolho gera o sentimento oposto. Dado que o Botox limita a expressividade de gestos de raiva, alguns psicólogos intuíam que poderia ter um efeito positivo na depressão, e os estudos confirmam esta ideia. Alguns opinam que parte do efeito na melhoria do ânimo vem também de se verem melhor.
Por outro lado, a redução da nossa expressividade facial pode interferir com a capacidade de interpretar as emoções dos outros. A ativação cerebral perante imagens de pessoas que refletem diferentes emoções muda ligeiramente após injetar Botox, e alguns opinam que isto pode tornar-nos menos empáticos.
JUNTANDO TUDO: ROTINA ANTIENVELHECIMENTO BÁSICA
Se é a sua primeira incursão nos produtos para o cuidado da pele, tudo o que foi dito pode soar avassalador, mas podemos sintetizá-lo numa rotina simples.
É importante começar o dia limpando o rosto para que a pele absorva bem o resto dos compostos. Depois, aplica-se um sérum com antioxidantes, sobretudo com vitamina C. O passo seguinte seria aplicar um creme hidratante e, por fim, o protetor solar. A pele já está pronta para enfrentar o novo dia.
À noite, algum tempo antes de se deitar, limpa-se novamente o rosto e aplica-se depois um transformador, que em geral deve ser retinol. No verão pode-se usar ácidos mais suaves, como salicílico ou glicólico.
Em https://www.fitnessrevolucionario.com/vivemas pode ver recomendações de produtos concretos, mas lembre-se que as melhores opções dependem também do seu tipo de pele. Se tiver alguma dúvida, consulte o seu dermatologista de confiança.
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