A impactante reinvenção do personagem Puff teve a sua estreia mundial em janeiro no México, onde arrecadou quase um milhão de dólares em duas semanas, e alguns analistas do setor dizem que pode quebrar recordes de bilheteira.

O filme, que estreia nos cinemas norte-americanos na próxima semana, já provocou ameaças de morte por parte de fãs furiosos e pode testar os limites da lei de direitos de autor.

"Isto é uma loucura", disse à AFP Rhys Frake-Waterfield, realizador de "Winnie the Pooh: Honey and Blood". "Recebi abaixo-assinados para parar o filme. Recebi ameaças de morte. Há gente que diz que chamou a polícia", conta o cineasta, de 31 anos.

Embora as aventuras de Puff e dos seus amigos na tela do cinema tenham sido autorizadas sob licença para a Disney por décadas, os direitos autorais dos primeiros livros de A.A. Milne expiraram recentemente, e o pequeno estúdio independente britânico Frake-Waterfield aproveitou a oportunidade.

Winnie the Pooh: Honey and Blood
créditos: IMDB

As primeiras imagens de "Honey and Blood" ("Mel e sangue", em tradução literal), nas quais os sinistros Puff e Piglet de tamanho humano pairavam ameaçadores atrás de uma jovem a relaxar numa banheira de hidromassagem, rapidamente tornaram-se virais no ano passado.

Agora, o filme com atores de carne e osso, feito com orçamento inferior a 250 mil dólares, aposta numa grande estreia mundial.

Inicialmente, Frake-Waterfield esperava uma difusão muito limitada, mas agora pensa que pode ultrapassar o filme de terror "Atividade Paranormal", de 2009, que mal custou 15 mil dólares e esteve na origem de uma saga que arrecadou mais de mil milhões de dólares, tornando-se um dos mais lucrativos da história do cinema.

“Acreditei muito nesta ideia. Outros não (...) e agora está a correr muito bem”, diz o cineasta, com um sorriso.

De acordo com a lei norte-americana, os direitos autorais expiram 95 anos depois da primeira publicação de uma obra. Em Portugal, esse limite é de 70 anos.

O primeiro livro "Winnie the Pooh" foi lançado em 1926, sendo que apenas esta versão é de domínio público. Para além dos direitos autorais, que impedem a cópia não autorizada de uma obra criativa, mas que são limitados no tempo, a longa-metragem passa por cima da lei de marcas registadas.

A licença da Disney, renovável indefinidamente, proíbe o lançamento de um produto relacionado com o ursinho e que possa ser confundido com o original. Neste caso, o absurdo de um Pooh como protagonista de um filme de terror ajuda os produtores do filme.

"Não se pode sugerir que esteja, de alguma forma, patrocinado, afiliado, ou associado à Disney", disse o advogado de direitos de autor Aaron J. Moss.

"Simplesmente porque é muito pouco adequado para famílias, e não é algo que (os espectadores) esperariam que a Disney estivesse envolvida. Portanto, qualquer possível reivindicação de marca registada em potencial é muito mais difícil de provar", explicou.

Frake-Waterfield disse que nunca teve a intenção de se aproximar do Puff da Disney. "Pelo contrário. (...) Quero que o Ursinho Puff seja grande, ameaçador, assustador, intimidador e horrível. Não quero que seja pequeno, fofo e bonito", completou.

No filme, Winnie e Piglet são abandonados pelo seu amigo Christopher Robin. Dececionados e enfurecidos, envolvem-se numa espiral de loucura assassina.

Independentemente da sua qualidade, a publicidade em torno do filme chegou a um nível tal que Frake-Waterfield já está a preparar uma sequela, assim como filmes de terror baseados nos livros de "Bambi" e "Peter Pan".