Em 2014, o PS registou 1,03 milhões de votos, com 31,46% dos votos, elegendo oito eurodeputados, mais um do que a coligação então formada pelo PSD e CDS-PP - um resultado que levou o atual líder deste partido, António Costa, a desencadear um processo interno para a substituição do então secretário-geral, António José Seguro.

Cinco anos depois, apesar de se ter verificado um aumento da taxa de abstenção, o PS mesmo assim aumentou ligeiramente o número de votos absolutos, chegando a 1,1 milhões, e deverá ter conseguido eleger para o Parlamento Europeu nove eurodeputados num total de 21.

Mas, para a direção do PS, o dado mais importante que resultou destas eleições relacionou-se com a vantagem alcançada em relação ao principal adversário, o PSD, que se ficou pelos 22%.

Além da diferença de 11 pontos percentuais, a cúpula dos socialistas salienta que o PS, isoladamente, tem mais votos juntos do que o PSD e CDS-PP, que somam pouco mais de 28%, menos cinco pontos percentuais do que a lista que foi liderada por Pedro Marques.

Na noite eleitoral de domingo, tanto a "número dois" da direção do PS, Ana Catarina Mendes, como o próprio António Costa, também ainda procuraram "puxar" pelos resultados dos seus parceiros de esquerda, o que foi mais fácil em relação ao Bloco de Esquerda, que subiu face há cinco anos, mas mais difícil em termos de exatidão matemática no que respeita ao caso da CDU, que desceu e perdeu um eurodeputado face ao 2014.

Ana Catarina Mendes e António Costa tentaram evidenciar que Bloco de Esquerda e CDU estão acima do CDS-PP, deixando-lhes implicitamente a mensagem política de que não estão a perder votos pelo facto de suportarem no parlamento a atual solução governativa minoritária socialista.

Na conferência de imprensa da noite eleitoral de domingo, o secretário-geral do PS foi diretamente questionado sobre a quebra eleitoral do PCP nas europeias, mas optou por não responder, ignorando um tema "sensível" - uma atitude, de resto, muito semelhante à que adotara nas eleições autárquicas de 2014, em que os comunistas perderam para os socialistas várias câmaras importantes, designadamente a sul do Tejo.

Entre os principais dirigentes do PS, temeu-se sempre o cenário em que o Bloco de Esquerda ficasse muito acima da CDU nestas eleições, já que se considera que a existência de um desequilíbrio entre os dois parceiros (e rivais) da chamada extrema-esquerda poderá dificultar a prazo a governação da "Geringonça" e, inclusivamente, impedir a repetição da atual solução política.

Perante os jornalistas, o secretário-geral do PS voltou a defender a reedição da atual solução de Governo na próxima legislatura com suporte parlamentar do Bloco, PCP e PEV, e fugiu à pergunta sobre se sonha com uma maioria absoluta nas legislativas de outubro.

Ao mesmo tempo, o secretário-geral do PS afastou novamente um cenário de "Bloco Central" com o PSD na próxima legislatura.

Embora ninguém faça o discurso do objetivo da maioria absoluta neste partido, os dirigentes socialistas não ignoraram porém um dado, segundo o qual os partidos de Governo, nos quatro meses que separam europeias de legislativas, sobem com frequência dez pontos percentuais entre esses dois atos eleitorais. Tal como aconteceu com o PS de José Sócrates em 2009 e com o PSD/CDS-PP de Pedro Passos Coelho em 2014.

Por outro lado, caso o PS se aproxime em legislativas dos 40%, no processo de formação de Governo e para fazer maioria no parlamento, António Costa poderá apenas precisar de um partido, e não de dois como atualmente.

Além disse, acredita-se que estão a aumentar o número de parceiros para formar-se essa maioria na Assembleia da República.

Entre os socialistas, é encarada até como teoricamente possível que a fasquia dos 116 deputados possa ser obtida em outubro apenas com o PAN (Pessoas-Animais-Natureza) - força política que o PS considera estar em franco crescimento e que elegeu um deputado nestas europeias.