“Os resultados do balanço mais recente são alarmantes, mas não são surpreendentes. Os tubarões e raias são muito procurados e não beneficiam de medidas de proteção contra a pesca excessiva”, disse o co-presidente do grupo de peritos em tubarões da UICN, Nicholas Dulvy, citado por agências internacionais. O grupo de peritos reúne 174 especialistas de 55 países.
Os tubarões e as raias são particularmente vulneráveis à pesca excessiva porque são animais de crescimento lento, atingem tardiamente a idade reprodutora e produzem um reduzido número de crias.
A informação recolhida pela UICN, cujo grupo de peritos analisou 58 espécies, indica que um dos casos mais preocupantes é o do tubarão-anequim (‘Isurus oxyrinchus’), que passou da classificação “vulnerável” para a de “ameaçado”, mas cujas populações têm sofrido reduções drásticas em todo o mundo, nomeadamente um declínio de 60% em 75 anos no oceano Atlântico.
O tubarão-anequim, a espécie de tubarão mais rápida, podendo atingir velocidades de 70 quilómetros por hora, é alvo de capturas intensivas, nomeadamente por frotas pesqueiras de países da União Europeia, devido ao elevado valor comercial da sua carne. As barbatanas de tubarão atingem também valores muito elevados em mercados asiáticos.
Uma espécie mais pequena de tubarão-anequim (Isurus paucus) está também a ser considerada “ameaçada”, a mesma classificação de espécies como os elefantes asiáticos e as baleias azuis.
Das espécies de tubarões e raias analisadas pela IUCN, as que têm populações sustentáveis são as que não despertam interesse comercial para consumo, como a raia Uge-violeta (‘Pteroplatytrygon violacea’) ou espécies que vivem em profundidades extremas, como o tubarão boca-grande (Megachasma pelagios).
A comunidade internacional deverá pronunciar-se em maio, numa reunião dos países signatários da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies de Fauna e Flora Ameaçadas de Extinção (CITES) em Colombo, no Sri Lanka, sobre uma proposta do México para a inclusão dos tubarões-anequim no Anexo II da CITES, decisão que implicaria a regulação vinculativa da pesca dessas espécies.
No caso dos animais terrestres, os especialistas analisam os números da populações e a sua distribuição geográfica, critérios que são muito difíceis de aplicar a espécies marinhas, pelo que, no caso dos tubarões e raias a avaliação é feita a partir do cálculo do declínio das populações, estimado a partir dos números das capturas comunicadas pelos navios de pesca do atum, que estão obrigados a comunicar as capturas acessórias.
“Após 10 anos destes cálculos, temos a certeza que a situação real é muito pior do que imaginávamos”, concluiu Nicholas Dulvy.
O especialista da UICN adiantou que no oceano Índico, nas costas do mar Arábico e do golfo de Bengala, “os pesqueiros de atum são na realidade pesqueiros de tubarão, com capturas acessórias de atum”.
O grupo de peritos da UICN apelou para a “adoção imediata de limites de capturas” e para a proibição do desembarque de espécies classificadas como “ameaçadas” e “em perigo de extinção”.
Os tubarões atuais são o culminar de 400 milhões de anos de evolução, vivem em todos os oceanos do mundo exceto no antártico, estão distribuídos por cerca de 400 espécies e ocupam o topo da cadeia alimentar, contribuindo para a manutenção de ecossistemas saudáveis.
Um estudo da UICN de 2013 estimou em 100 milhões o número de tubarões que são pescados todos os anos.
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