“Se o meu governo não fizer tudo o que estiver ao seu alcance para trazer os reféns de volta, mesmo que isso signifique pagar um preço muito elevado, não creio que este país possa continuar a existir”, disse Tal Horowitz, 45 anos, à agência EFE, lamentando sentir-se desprotegida como israelita, após quase 11 meses de guerra em Gaza e quando 97 prisioneiros continuam detidos em Gazapelas milícias islamitas do Hamas.
A notícia de que os seis reféns, cujos corpos foram recuperados pelo exército num túnel no sul da Faixa de Gaza, tinham sido todos mortos “com vários tiros disparados à queima-roupa” apenas 48 a 72 horas antes, segundo uma autópsia divulgada pelo Ministério da Saúde, inflamou os israelitas, que acreditam que um acordo de cessar-fogo teria evitado as mortes.
Os protestos em todo o país ao longo dia tiveram epicentro em Telavive, e chegaram a cidades como Jerusalém e Haifa, onde muitos dos presentes veem uma oportunidade sem precedentes para pressionar o governo a chegar a um acordo de cessar-fogo com o Hamas.
Segundo o diário israelita Haaretz, a manifestação em Telavive conta com cerca de 300.000 pessoas. Nos arredores da cidade, os manifestantes bloquearam autoestradas, chegando mesmo a criar barricadas com pneus a arder.
Também na cidade portuária de Haifa, no norte do país, milhares de pessoas bloquearam as entradas, agitando a bandeira nacional.
A guerra em Gaza foi desencadeada pelo ataque sem precedentes pelo movimento islamista palestiniano Hamas contra Israel no dia 07 de outubro de 2023, que resultou na morte de 1.205 pessoas do lado israelita, maioritariamente civis, segundo um levantamento da AFP com base em dados oficiais.
Os protestos prometem continuar durante toda a semana, uma vez que a maior organização sindical de Israel, a Histadrut, anunciou uma greve geral a partir de amanhã, segunda-feira, que incluirá o Aeroporto Internacional de Telavive.
“Venho aqui quase todas as semanas e posso dizer que esta manifestação é pelo menos dez vezes maior do que os protestos que fazemos todos os sábados”, disse Roni Ben Aharon, que se manifesta pelo menos uma vez por semana desde o dia 04 de janeiro.
Ambos concordam que não só a dimensão do protesto, mas também a sua composição, mudou este domingo devido ao que aconteceu de manhã: Ambos veem muitos jovens na multidão, algo que não é tão comum nas manifestações de sábado em Telavive, onde os participantes são maioritariamente adultos e familiares dos reféns.
Elisa, uma mulher idosa de origem argentina, tem a mesma impressão, depois de ter participado nos protestos semanais durante quase um ano: “Isto é um terramoto, nunca vi tanta gente na rua”, explica emocionada.
Elisa também vê que a presença de jovens é uma mudança em relação às manifestações semanais na “Praça dos Reféns”, em Telavive.
Entre os manifestantes encontram-se grupos de adolescentes, estudantes universitários e até grupos de escuteiros com cartazes dirigidos a Netanyahu com mensagens como “Tu és o líder, tu és o culpado”, embora muitos deles, menores de idade, prefiram não falar aos meios de comunicação social, refere a EFE.
“É definitivamente por causa da falta de acordo, é por isso que eles foram mortos”, lamenta Elisa.
As negociações de cessar-fogo entre Israel e o Hamas continuam sem um horizonte claro e muitos manifestantes consideram como o maior impedimento para conseguir o regresso dos prisioneiros as exigências do primeiro-ministro – controlar o corredor de Filadélfia, que separa Gaza do Egito, e o corredor de Netzarim, que agora separa o norte e o sul de Gaza.
Michal e Ofri, ambos na casa dos 30 anos, consideram que a devolução dos prisioneiros deve ter prioridade a uma “vitória total” em Gaza – como Netanyahu defende há meses.
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