
Mountain Butorac vive atualmente em Roma e há 20 anos que se dedica a organizar peregrinações a locais católicos, através do projeto "The Catholic Traveler".
Já orientou 176 grupos nestas viagens e, atualmente, está pela 31.ª vez na Terra Santa. "Somos 20 pessoas. Três já cá estiveram antes. Duas estiveram comigo em setembro de 2023. Apenas três homens. Os restantes são mulheres que viajam sozinhas. São de todos os Estados Unidos e uma é da Colômbia", começa por contar ao SAPO24.
"Este é o meu primeiro grupo na Terra Santa desde o final de setembro de 2023. Há alguns grupos protestantes, mas não há outros grupos católicos", avança.
Com o conflito na Faixa de Gaza, as viagens turísticas diminuíram drasticamente — e todo o ambiente mudou. "Desde a minha última visita, algumas lojas e restaurantes ainda não reabriram. As calçadas que normalmente estão cobertas de turistas estão agora cobertas de ervas daninhas", explica Mountain Butorac.
"As pessoas ficam muito contentes por nos verem. Muitas choraram. Até o nosso guia local está novamente emocionado. Para muitos, somos o primeiro grupo que veem desde o início da guerra — e muitos deles não têm ninguém marcado até à chegada do meu próximo grupo, em junho", acrescenta.
Nicolas Ghobar, palestiniano cristão de Belém, é guia turístico na Terra Santa e confirma ao SAPO24 que "em geral, a situação está bem difícil, há muita confusão ao redor".
Tal como Mountain, também ele nota diferença no turismo. "Há alguns grupos da Nigéria, da Indonésia, mas em geral são evangélicos ou protestantes. Grupos católicos ainda são muito raros. Desde que começou a guerra acho que recebemos quatro grupos pequenos", diz.
Para quem chega do exterior, a esperança é que os próximas dias sejam de paz. Apesar de dizer que não se sente nervoso por estar perto de uma guerra, Mountain confidencia que teve "um momento de nervosismo quando estava a aterrar em Telavive", pela possibilidade de "haver mais mísseis" a cruzar os céus. "Mas foi apenas um pensamento passageiro".
"Toda a gente se sente muito segura. Os habitantes locais sentem-se seguros, por isso nós também nos sentimos", frisa.
Para o responsável pelo "The Catholic Traveler", os planos para esta viagem começaram "há apenas dois meses" e quase com as rotinas habituais.
"A única precaução foi avisar as pessoas de que, se acontecesse alguma coisa, precisaríamos de um plano de emergência para sair do país. Quando a guerra começou, todas as companhias aéreas americanas deixaram de voar. Só retomaram os voos este mês", recorda.
Por isso, em caso de necessidade, "o primeiro passo é voltar a reservar voos se as companhias aéreas americanas deixarem de voar".
Para já, o importante é aproveitar o tempo de peregrinação. "Sem as multidões, podemos passar o tempo que quisermos em cada sítio. Por isso, embora seja triste ver tudo vazio, é uma bênção para quem visita".
Também para Nicolas Ghobar a situação é "muito difícil e triste". "A Terra Santa sem peregrinos é um peixe fora de água. Já não aguentamos mais".
Para o palestiniano que mora em Belém, perto da Basílica da Natividade, construída sobre uma caverna que a tradição cristã marca como o local de nascimento de Jesus, entrar naquele local é "sentir um vazio no coração".
"Sente-se aquela vontade de ver muitos fiéis, uns a rezar e a agradecer, outros a chorar de emoção. Não há palavras para descrever o que é ver um dos lugares mais santos do mundo vazio", descreve.
Por isso, a cada oração, os pedidos são os mesmos há meses consecutivos. "Quando lá vou acendo velas, rezo pelas pessoas que me pedem, rezo pela paz, peço ajuda para os que estão abandonados. Peço pela segurança e pelo amor no coração dos líderes".
Qual o ponto de situação do conflito?
Esta terça-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que Gaza se tornou "num campo de extermínio", onde os "civis estão num ciclo interminável de morte", frisando ainda que Israel não está a cumprir com as suas obrigações "como potência ocupante".
Numa declaração à imprensa, na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, Guterres adotou um tom duro para se referir à realidade ainda mais dura enfrentada pelos palestinianos na Faixa de Gaza, onde um mês inteiro "sem uma gota de ajuda" reabriu as "comportas do horror".
"Mais de um mês inteiro passou sem uma gota de ajuda em Gaza. Sem comida. Sem combustível. Nenhum remédio. Sem fornecimento comercial. À medida que a ajuda secava, as comportas do horror reabriram-se", disse Guterres.
Cerca de 1.400 mortes ocorreram desde 18 de março, quando o Exército israelita quebrou o cessar-fogo alcançado em janeiro com o grupo radical palestiniano Hamas e retomou os bombardeamentos e a ofensiva terrestre em Gaza.
Quanto aos reféns, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmaram na segunda-feira que estão em andamento novas negociações.
"Estamos a trabalhar agora num outro acordo que esperamos que seja bem-sucedido e estamos comprometidos em libertar todos os reféns", disse Netanyahu a jornalistas na Sala Oval.
Trump acrescentou: "Estamos a tentar de todas as formas libertar os reféns. Estamos a considerar outra trégua, vamos ver o que acontece".
Comentários