Além de Calhoun, que permanecerá no cargo até ao fim de 2024, a Boeing anunciou outras duas mudanças importantes na direção da empresa. Stan Deal, diretor da divisão de aviação comercial desde 2019, será substituído com efeito imediato, e o presidente do conselho de administração, Larry Kellner, sairá após a reunião anual da empresa, esta primavera.

Stephanie Pope, executiva da Boeing, irá substituir Deal, enquanto que Steve Mollenkopf, ex-diretor executivo da fabricante de chips Qualcomm, será o novo presidente.

Pope, que anteriormente dirigiu a Boeing Global Services, foi promovida a diretora de operações em janeiro e vai assumir imediatamente o controlo dos aviões comerciais. Já Mollenkopf, sendo membro do conselho da Boeing desde 2020, vai liderar o processo de supervisão do próximo CEO.

As mudanças de executivos acontecem após um incidente ocorrido no começo de janeiro com um avião modelo 737 MAX 9 da Alaska Airlines, no qual uma porta da cabine se soltou em pleno voo.

“O mundo está a observar-nos e sei que vamos superar este momento para sermos uma empresa melhor", escreveu Calhoun numa carta aos funcionários, na qual frisa que “a segurança e qualidade são o que colocamos acima de tudo”.

No mês passado, autoridades americanas deram à Boeing um prazo de 90 dias para apresentar um plano de controlo de qualidade. A Agência Federal de Aviação Civil (FAA) manifestou que a empresa deve “comprometer-se com uma melhoria verdadeira e profunda".

A empresa também enfrentou fortes reservas por parte das companhias aéreas, que tinham solicitado uma reunião com o conselho de administração da Boeing.

O incidente da Alaska Airlines colocou a Boeing de volta à berlinda, um lugar infelizmente comum para a empresa nos últimos anos, depois dos seus modelos 737 MAX terem sido mantidos em terra por 20 meses após acidentes fatais ocorridos em 2018 e 2019.

A Boeing nomeou Dave Calhoun CEO depois de destituir, em dezembro de 2019, Dennis Muilenburg, criticado pela sua gestão da crise do MAX após os acidentes. O seu mandato, no entanto, teve pela frente enormes desafios, como os efeitos da suspensão do MAX e a grave crise da indústria devido à Covid-19, que foram seguidos de um frenesi de encomendas pós-pandemia, que pressionou a cadeia de abastecimento.

Em abril de 2021, a Boeing prorrogou o contrato de Calhoun como CEO potencialmente até 2028, aumentando a idade da reforma da empresa para 70 anos.

Nas últimas semanas, a empresa enfrentou dúvidas, após outros episódios potencialmente perigosos, incluindo um incêndio no motor de um Boeing 747 logo após a descolagem do estado americano da Flórida, em janeiro.

No começo do mês, um Boeing 777 com destino ao Japão teve de fazer uma aterragem de emergência logo após decolar de San Francisco, quando uma roda se soltou e caiu no estacionamento de um aeroporto, danificando vários carros.

Na semana passada, autoridades da Nova Zelândia abriram uma investigação depois de um Boeing 787 Dreamliner ter perdido altitude violentamente durante o voo de Sydney para Auckland, ferindo alguns passageiros.

As mudanças de liderança foram elogiadas pelo presidente executivo da Ryanair, Michael O'Leary, que as considerou "muito necessárias", uma vez que a companhia aérea irlandesa apontou o atraso nas entregas de novos aviões como um obstáculo às perspetivas da empresa.

Já Michel Merluzeau, especialista em aeronáutica da consultoria AIR, avaliou que, embora se necessite de "uma nova liderança empresarial, a urgência reside, principalmente, na fábrica. Sem melhorias operacionais substanciais e mudanças de pessoal implementadas nas fábricas da Boeing, na nossa opinião, os resultados tangíveis continuarão a ser difíceis de alcançar. Estes problemas transcendem Dave Calhoun ou Stan Deal."

Além de ter um melhor controlo da segurança e qualidade, Calhoun disse que o novo CEO da Boeing precisará "de saber como administrar um negócio grande e de longos ciclos como o nosso", incluindo supervisionar o próximo avião da empresa, um investimento de 50 mil milhões de dólares.